Muitas mulheres que sofrem abuso sexual costumam relatar situações de constrangimento sempre que precisam denunciar a violência de que foram vítimas. Agora, uma pesquisa feita pelos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva transforma em números esse sentimento.
De acordo com o levantamento, realizado em julho de 2016 com mil pessoas de ambos os sexos, a palavra da mulher que relata ter sido vítima de violência não é levada a sério para 54% dos entrevistados. E fica pior: 73% acreditam que a mulher é julgada ao denunciar.
Quando a questão é sobre as causas da violência sexual, os dados mostram que desculpas antigas continuam sendo usadas na tentativa de justificar o comportamento masculino. Para 67% dos participantes, a violência sexual ocorre porque os homens não conseguem controlar seus impulsos.
Outros 58% colocam a culpa no álcool ou nas drogas e 32% ligam a violência sexual a “problemas mentais”. Porém, para 89% dos entrevistados, estar bêbado não é desculpa para um homem abusar de uma mulher.
Entre os homens, 42% disseram que a violência sexual acontece porque a mulher provoca. Para 69% das mulheres, entretanto, a violencia ocorre por causa do machismo. Há uma diferença conceitual importante: para eles, elas provocam. Para elas, a culpa é de uma cultura que ampara os agressores e naturaliza a violência. Fica fácil compreender porque as mulheres ainda são apontadas como culpadas em vez de vítimas da violência que sofrem.
No entanto, a pesquisa aponta algumas mudanças quanto a vítimas de estupro. Diferentemente do que se falava até algum tempo atrás, agora 97% dos entrevistados disseram que nenhuma mulher merece ser estuprada e que sexo sem consentimento é sempre estupro.
Outro dado que chama a atenção é que metade dos participantes (49%) enxerga que a maioria dos estupros ocorre dentro de casa. Para 64%, o estuprador pode ser um conhecido, contrariando a ideia de que o agressor é um desconhecido que ataca num beco escuro. A pesquisa mostra ainda que 96% aprovam a distribuição da pílula do dia seguinte pelo governo para vítimas de violência sexual. E outros 75% declararam ser favoráveis ao aborto legal em caso de gravidez decorrente de estupro. O aborto já é legalizado no caso de gravidez decorrente de violência sexual.
Fonte: R7