Pais que precisam imunizar seus filhos reclamam de dificuldades para encontrar as vacinas hexavalente, na rede privada de saúde, e pentavalente, na pública, em Goiânia e Anápolis, a 55 km da capital. Segundo eles, nos postos, a informação repassada por atendentes é que um composto dos medicamentos está em falta e que não há previsão de quando os estoques serão novamente abastecidos.
A vacina hexavalente, que só é aplicada na rede particular, previne as crianças, a partir do segundo mês de vida, contra difteria, tétano, coqueluche, paralisia infantil, Haemophilus tipo B e hepatite B. Já a pentavalente, oferecida no Sistema Único de Saúde (SUS), dá proteção contra todas as doenças citadas, com exceção da paralisia infantil, que tem de ser aplicada em uma dose separada.
“A principal diferença entre as vacinas é a chance de reação, já que a hexavalente tem o composto especial DTPa (tríplice bacteriana acelular), ou seja, oferece menos riscos de problemas pós-vacinais. Já a pentavalente é celular e gera mais chances de alguma reação, mas que pode ser tratada com antitérmicos”, explicou ao G1 a alergista Lorena de Castro Diniz, médica responsável pelo Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (Crie), que fica no Hospital Materno Infantil, em Goiânia.
Pensando em buscar a vacina com menos chance de reação, a jornalista Gêza Maria Vilela de Jesus Abrão, de 40 anos, que mora em Anápolis, decidiu recorrer à rede particular de saúde para imunizar a filha Carolina, aos dois meses de vida. No entanto, após percorrer unidades da cidade e de Goiânia, sem sucesso, ela acabou optando pela pentavalente.
“Como não encontrei a hexa e não podia deixá-la sem proteção, acabei aplicando a penta no Laboratório Atalaia, em Goiânia, que é particular. Porém, agora que ela está com quatro meses e precisa da segunda dose, não consigo mais achar em nenhum lugar. Já percorri diversas unidades de saúde, públicas e privadas de Anápolis e Goiânia, e nada. Pensei até em ir para Brasília, mas também não encontrei lá”, afirmou a jornalista ao G1.
Segundo Gêza, uma atendente da Unimed Goiânia, onde ela esteve na semana passada, disse que a falta da vacina só deve ser normalizada entre seis a 20 meses. “É complicado, pois as crianças não podem ficar sem a proteção. O problema é que nem mesmo a pentavalente, que é oferecida na rede pública, consigo encontrar. Estou desesperada”, disse.
A reportagem ligou em unidades do Laboratório Atalaia e da Unimed, na capital, e os atendentes também informaram que as vacinas hexavalente e pentavalente estão em falta.
Procurada pelo G1 na última sexta-feira, a assessoria de imprensa do laboratório Atalaia não se posicionou até a publicação desta reportagem.
Já a Unimed Goiânia destacou, em nota, que a situação ocorre em função da falta das vacinas no mercado. “Quando há, todo o controle interno é feito para que tal fato não ocorra”. A empresa ainda enviou um comunicado, no qual o fabricante que fornece as vacinas destaca que "enfrenta dificuldades na produção dos compostos em função de problemas mundiais, como o aumento da demanda populacional global".
Rede pública
O G1 também entrou em contato, por telefone, com algumas unidades de saúde da rede pública para tentar encontrar a vacina pentavalente, que é a única oferecida. No Centro de Atenção Integral à Saúde (Cais) do Jardim Progresso e no Ambulatório Geral (Osego), em Anápolis, a informação é de que as doses estão em falta.
Apesar disso, a coordenadora de Imunização da Secretaria Municipal de Saúde de Anápolis, Marli Malta, afirmou que as vacinas pentavalentes são aplicadas normalmente na cidade. “O que está em falta é a vacina acelular, a DTPa, mas que só é voltada para casos especiais e que representam um percentual muito baixo das vacinas aplicadas aqui na cidade. Já quanto as demais, não há problemas”, garantiu.
No Cais Campinas e no Centro Integrado de Assistência Médico Sanitária (Ciams) Novo Horizonte, em Goiânia, a informação também foi a mesma: as vacinas não estão disponíveis. A excessão foi o Cais Finsocial, onde a atendente disse que a pentavalente está sendo aplicada normalmente.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia negou, em nota, a falta da vacina pentavalente. O órgão explicou que “recebeu uma quantidade reduzida de vacina DT (Difteria e Tétano) pelo Ministério da Saúde”, mas que “essa vacina está disponível nas unidades de urgência e emergência”.
Já a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás, por meio da Gerência de Imunizações e Rede de Frio destacou, em nota, que “neste momento não há desabastecimento” da vacina pentavalente, “estando disponível em todas as salas de vacinas”.
A secretaria informou que o questionamento da população deve ser referente às doses especiais, com DTPa, que só são oferecidas pelo SUS nos Crie. “A vacina não tem sido distribuída pelo Ministério da Saúde para as Unidades Federadas devido a problemas de abastecimento relacionados à produção mundial e indisponibilidade de fornecedores que possam atender à demanda brasileira. Até o momento não fomos informados sobre a previsão de regularização da referida vacina”.
O Ministério da Saúde, por sua vez, informou ao G1 que enviou, em outubro deste ano, “1,78 milhão de doses da vacina pentavalente aos estados brasileiros, sendo 46 mil para Goiás, atendendo a demanda solicitada pelo gestor local”.
Ainda segundo o órgão, “em setembro, foram enviadas 1,9 milhão de doses da vacina, que protege contra difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenza tipo b e hepatite B”. No total, neste ano, “foram enviadas 8,76 milhões de doses para o Brasil, sendo 280 mil para o Estado de Goiás”.
Por fim, a nota destacou que o Ministério da Saúde envia as doses mensalmente aos estados e “cabe às secretarias estaduais realizar a distribuição aos municípios, de acordo com as necessidades locais”.
Doses especiais
No Crie de Goiânia, as doses especiais da pentavalente (DPTa) estão em falta desde abril deste ano, segundo a alergista Lorena de Castro Diniz. “Mas essas vacinas são voltadas apenas para aquelas crianças que nasceram prematuras, cardiopatas, ou que têm doenças crônicas neurológicas, já que elas não podem tomar as doses normais, que oferecem mais riscos de reação. Mesmo assim, elas não podem ficar sem proteção e os pediatras avaliam, caso a caso, quais as vacinas que devem ser aplicadas em substituição”, explicou.
A médica destacou que as crianças que não apresentam nenhum problema de saúde, devem procurar a pentavalente celular. “Mesmo quem já tomou uma dose hexavalente na rede particular pode tomar a pentavalente comum. Essa imunização é muito importante para essa fase inicial da vida”, explicou.
Outras vacinas
Em entrevista à Rádio CBN, na sexta-feira (23), a diretora de vigilância em saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, Flúvia Amorim, afirmou que existem outras vacinas que estão em falta na capital: DT (difteria e tétano), antirrábica, tetraviral (caxumba, sarampo e rubéola), além de doses contra a hepatite A.
Segundo ela, as quantidades que restam estão disponíveis apenas nos Cais e os pais devem se informar sobre a disponibilidade antes de irem até as unidades de saúde.
O G1 entrou em contato com a SMS para saber se há prazos para regularização das vacinas citadas pela diretora, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.
Fonte: G1