O padre coronel Osvaldo Palópito, preso em maio deste ano por suspeita de ter desviado R$ 2 milhões doados por fiéis à igreja, negou qualquer participação no crime. Ele foi solto na última quarta-feira (7) e responde ao processo em liberdade.
Escutas telefônicas indicam que ele teria usado o dinheiro desviado em uma cobertura no litoral. As escutas obtidas pelo Jornal da Globo também mostram que ele pedia a mulheres para "darem em cima" dele e "ficarem nuas". Em entrevista ao SPTV, o padre também negou envolvimento com mulheres. Ele sugeriu que as escutas são "montagens".
“Eu confio na minha inocência, confio, né? E confio também nas pessoas que me conhecem, que sabem quem eu sou. Eu desconheço [o áudio em que ele diz que a filha de uma fiel é gatinha e pediu para ela ficar nua ao seu lado], não ouvi nada disso, não. Não é do meu conhecimento. Então, mas eu não sei se isso não é fruto de uma montagem ou alguma coisa assim", afirmou.
Segundo o advogado do padre, ele responde por peculato, falsidade ideológica, exercício ilegal de comércio e abandono de posto, esses dois últimos são crimes militares.
Até o ano passado, padre Palópito comandou a Capela Militar de Santo Expedito, na região da Luz, São Paulo, e acumulava o cargo de coronel e rezava missas.
Escutas
Em uma das escutas telefônicas utilizadas na investigação, o padre fala sobre compra de imóveis de luxo com um amigo.
"Padre: Tem apê ainda de 750 paus.
Amigo: 750 só? Padre: É hora de comprar pra se vender por R$ 3 milhões. A minha vontade é vender a cobertura aqui e comprar uns quatro lá.
Segundo o promotor de Justiça Militar Marcelo Alexandre de Oliveira, o padre não conseguiria comprar apartamentos e carros com seu salário.
“Tinha um salário razoável, mas que não lhe permitiria ter uma cobertura avaliada em mais de R$ 2 milhões, vários carros, imóveis, apartamentos”, disse.Um padre que foi testemunha no processo contou à investigação que uma conta secreta era usada para desviar o dinheiro dos fiéis.
"Padre: Porque essa outra receita ia para o coronel.
Juiz: O senhor ia pessoalmente na boca do caixa?
Padre: Isso.
Juiz: O senhor ia quantas vezes por semana?
Padre: Vamos colocar, assim, diariamente.
Juiz: E as quantias eram determinadas ou eram variadas?
Padre: Eram variadas", de acordo com depoimento.
À Justiça Militar, o padre negou as acusações. “Tenho plena consciência de que nunca precisei de um centavo da igreja. Pelo contrário, quando pude ajudar, eu ajudei. Meu patrimônio não chega a metade do que eu ganhei trabalhando na polícia”, disse no processo.
Segundo o Ministério Público Militar, o padre rezava missa na Capela de Santo Expedito toda semana, mas o comportamento dele fora da igreja era bem diferente do que ele pregava para os fiéis.
Em uma conversa com uma amiga, o padre nega que tenha tido relacionamento com uma mulher, mas confessa que pediu para as filhas darem em cima dele. "Padre: É maldita, é maldita. É horrorosa, ela é feia. Eu falei para ela: fala para as suas filhas ‘dar’ em cima de mim, não você que é horrorosa. Lembra disso?
Amiga: Eu lembro."
Em outra conversa com a amiga, ele conta que pediu para que a filha de outra mulher ficasse nua. "Padre: O que ela falou?
Amiga: Falou para mim que o senhor que agarrou ela e jogou na mesa.
Padre: Filha da puta. Filha da puta. Ela me agarrou. Eu falei: a sua filha, sim, é uma gracinha. Fala para ela ficar nua perto de mim, não você”, diz padre em ligação telefônica."
O comportamento em relação a mulheres ainda não é alvo da ação militar. Para o promotor Marcelo, o comportamento dele é diferente do esperado para padres e coronéis.
“Não é o comportamento que se espera de um padre como não é o comportamento que se espera de um comandante de uma unidade da Polícia Militar", disse.
Em nota, o Ministério da Defesa, responsável pela capela militar, disse que vai analisar o caso, de acordo com as normas da igreja e que as conclusões serão enviadas ao Vaticano.
A Polícia Militar de São Paulo abriu processo administrativo que pode resultar na expulsão do padre.
Fonte: G1