"Trabalho com os xavantes nas aldeias, visito e rezo. As celebrações são feitas na língua xavante, todas as leituras", declarou.
Segundo ele, a vontade de cursar teologia e se tornar padre surgiu da convivência com os padres salesianos após a retirada do povo xavante da terra indígena Mãraiwatsédé. "Cresci na educação São João Bosco. Decidi ser padre salesiano não somente para ficar com eles, mas para ajudar o povo xavante", disse. O padre se formou em filosofia, em 1995, pela Universidade Católica Dom Bosco, em Campo Grande (MS), e cursou teologia no Instituto Teológico Pio XI, em São Paulo. Agora, pretende fazer doutorado em educação indígena.
Diante das diferenças dos costumes e crenças, o padre contou que não se 'intromete nas questões das autoridades' indígenas e somente transmite a palavra cristã. "Ainda não está tudo completamente entendido nas celebrações", disse, ao informar que algumas comunidades indígenas dos xavantes ainda estão aprendendo sobre a religião para então começar a fazer as celebrações.
Já em relação ao fato de não se casar, Aquilino disse que a família e a tribo acham estranho. "Até hoje não entendem porque não me casei. Daí explico e aos poucos eles vão entendendo, mas ainda tem muitas aldeias que não conhecem essas normas. É estranho para eles". Conforme ele, a família considerou estranho no início a decisão dele querer se tornar padre, porém, "depois foram conhecendo a realidade e hoje estão comigo".
Ele mora em Nova Xavantina, a 651 quilômetros da capital, e atende mais de 150 aldeias da região. É pároco da Igreja São Domingos Sávio, frequentada pelos índios xavantes, no município. Aquilino celebra missa uma vez por mês na aldeia Mãraiwatsédé, onde a família dele vive. Foi liberado para estudar ensino religioso, o qual pretende ensinar nas escolas públicas.
O padre tinha nove irmãos. Dois deles morreram de sarampo durante a transferência da Mãraiwatsédé para a aldeia São Marcos, a 400 km da terra indígena. "Muita gente morreu e dois eram da minha família. Me lembro que fomos em um avião, da Força Aérea Brasileira (FAB). Não tinha assentos no avião, só cordas para não escorregar", recordou, ao comemorar a decisão da Justiça Federal que determinou a retirada de cerca de seis mil posseiros da comunidade de Posto da Mata, em Alto Boa Vista, a 1.064 km de Cuiabá.
No início deste mês, representantes do governo federal fizeram a entrega oficial da área para os xavantes que foram retirados à força da região. "Devolvemos para eles o sofrimento. Eles sofreram hoje porque estão pagando o que fizeram", enfatizou. Hoje, vivem na Mãraiwatsédé cerca de 920 índios. Os indígenas já estão se mudando para a região e, durante esse processo, contam com o apoio de agentes da Força Nacional para evitar conflitos com os produtores rurais que foram retirados da área, reconhecida como sendo de propriedade dos xavantes.
Fonte: Repórter do Araguaia