O Ano-Novo é tido por muitas pessoas como o momento ideal para encontrar familiares distantes ou viajar para novos lugares. No entanto, aqueles que passaram por um procedimento cirúrgico recentemente devem evitar essa situação.
Indivíduos que foram submetidos a cirurgias prolongadas — mais de quatro ou cinco horas de procedimento — têm de aguardar para fazer essas viagens mais longas. Entende-se como longa, de avião ou de carro, aquelas que duram mais de cinco horas.
"Na duração dessa viagem, você vai ficar sentado. E esse posicionamento vai fazer com que você tenha uma estase venosa, que é o acúmulo do sangue na região das pernas e, querendo ou não, isso pode aumentar o risco de eventos tromboembólicos (tromboses)", explica o cirurgião plástico e professor de medicina da Uniara (Universidade de Araraquara) Guilherme Vantine.
E acrescenta: "A trombose pode evoluir para tromboembolismo pulmonar, que é realmente uma complicação grave que não queremos ter".
"Além da tensão de a pele estar mais fragilizada, porque foi cortada e suturada, você tem um risco maior de acontecer uma deiscência, que é uma abertura dos pontos", diz Vantine.
A parte estética também necessita de uma atenção especial. Segundo o cirurgião, todo o procedimento cirúrgico gera algumas equimoses — manchas roxas — na pele, que, se submetidas à exposição solar, podem virar manchas permanentes.
Portanto, é fundamental evitar, no mínimo, durante os primeiros 15 dias de pós-operatório, exposição solar e idas a piscinas ou praias.
"Se for [ter exposição solar], use protetor solar de, pelo menos, um fator superior a 30 fps. Temos o hábito de pensar ’está fechadinho [o local dos pontos], já cicatrizou’. Depois de uma semana realmente está fechado, ótimo, a cicatriz está boa, só que tem que ter cuidado, já que a fase de cicatrização é longa e pode chegar a até 12 meses", relata Vantine.
Fora esse cuidado, determinadas pessoas não podem cogitar viajar durante o pós-cirúrgico. Entre elas estão: pacientes com antecedente de trombofilia, doença hematológica, doenças autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico, e doenças de circulação.
"São algumas doenças para as quais realmente temos que ampliar o nosso cuidado, porque são situações que podem aumentar o risco de complicações", alerta o cirurgião.
Os procedimentos cirúrgicos exigem cuidados operatórios continuados, como uso de malha elástica ou botas pneumáticas, que devem ser respeitados.
"A depender da cirurgia, também fazemos a profilaxia com medicamento, justamente para blindar o paciente em relação a complicações pós-operatórias", conta Vantine.
Além do mais, na procura do equilíbrio entre viagem e cirurgia, para Guilherme, a programação é a peça-chave. A pessoa deve se programar para marcar uma cirurgia ao menos 30 dias antes de uma viagem, para ter uma segurança maior.
Esse período também garante que o paciente conseguirá escolher um profissional capacitado e fará uma anamnese (entrevista pré-cirúrgica com o médico) pertinente, para avaliar os riscos e antecedentes.
Não apenas isso: o cirurgião pode ajudar o paciente a analisar a possibilidade de viajar ou não após o procedimento, já que nas cirurgias mais simples, como prótese de mama, segundo Vantine, "conseguimos ser um pouco mais maleáveis em relação aos cuidados".