Desde que foi eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC nos anos 1970, o presidente Lula percebeu que a frequente exposição à mídia o livraria da rotina de pilotar um torno mecânico.
Ele tem especial talento para atrair holofotes e microfones e parece sentir extraordinário prazer fazendo discursos e dando entrevistas. Situações para se expor ele cria a todo momento. Agora mesmo foi buscar na distante Roraima imagens e relatos chocantes sobre o povo Ianomâmi para colocar-se como salvador da pátria e cutucar mais um vez o governo passado, afirmando levianamente sua intenção de extinguir aquela etnia.
É triste ver aquelas crianças a um passo da morte, cuidadas por pais e mães tão desnutridos e doentes quanto os filhos que carregam. Faltam-lhes remédios que segundo informações estão sendo desviados para os brancos, os mesmos que poluíram seus rios, mataram os peixes e espantaram as caças.
Estes mesmos brancos viciam os jovens com cachaça e drogas, seduzem as moças com presentes e promessas, esburacam suas terras e espalham o tóxico mercúrio, envenenando as águas.
Claro que o presidente quando decidiu ir lá já sabia da real situação dos indígenas e viu aí mais uma oportunidade para atrair a mídia nacional e internacional com sua costumeira verborragia.
Acho que este problema gravíssimo demanda socorro imediato. Mas uma ajuda eficiente e serena não rufando tambores e tocando cornetas. Entretanto, ao contrário da prudência o governo está prometendo uma “desintrusão” cinematográfica, expulsando os garimpeiros que são dezenas de milhares nas terras dos índios.
Nem todos os garimpeiros são bandidos e se estão lá ilegalmente é por conta da leniência do governo federal, estadual e diversas Ongs, muitas coniventes com a degradação ambiental.
É necessária uma ação forte e continuada mas também é preciso dar a eles (os garimpeiros) um tempo para se reorganizarem. Queimar seus equipamentos e espalhá-los assim de repente seria empurrá-los para o crime, principalmente o tráfico de drogas e contrabando, muito comuns na região. Essa ideia de uma operação de guerra, como estão planejando é mais uma pirotecnia para dar mídia.
O que precisa é de uma operação de guerra em apoio às vítimas. Eles precisam de alimentos imediatamente porque estão famintos e a disponibilização de médicos, enfermeiros e medicamentos para estancar a desumana mortalidade.
Depois, arrumar alguma forma legal de o minério lá existente resgatá-los da miséria. Defender que o ouro deve ficar eternamente inexplorado só porque está debaixo da floresta amazônica é bobagem. O que precisa urgentemente é regulamentar sua exploração de forma que ela provoque o menor dano possível ao meio ambiente e que parte dos lucros da extração fique com os indígenas da região.
Algum dano ambiental precisa ser tolerado porque qualquer interferência no solo e na vegetação tem potencial de fazer algum estrago. Até arrancar minhoca para pescar causa feridas na terra. O que precisa é minimizar os males para criar uma convivência perene. E sempre ter em conta que a vida humana digna é muito mais importante que a “sacralidade” da floresta amazônica.
Espero que o atual presidente abandone um pouco sua verborragia e encare com seriedade o socorro aos Ianomâmis. É mister legalizar a atividade dos garimpeiros que estão disposto a minerar dentro das normas porque nessa atividade está a redenção dos Ianomâmis.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor