Mesmo com a criminalidade na região central de Cuiabá, os ourives têm resistido e continuam exercendo a profissão dos familiares, na maioria dos casos. O joalheiro Elias Mendes Alves, por exemplo, trabalha há 30 anos na Rua 13 de Junho vendendo ouro e fabricando joias. Aprendeu o ofício com o tio e após aposentadoria dele continuou a tocar o negócio no mesmo prédio.
O filho e a esposa dele também decidiram seguir a carreira da família. “Meu filho estava fazendo faculdade e trancou a matrícula para continuar trabalhando comigo, porque desde criança viu como eu trabalhava e aprendeu comigo”, disse.
Contudo, avalia que a profissão de ourives está prestes a ser extinta porque há muitos filhos que naõ se interessam pelo trabalho da família. Além disso, o profissional corre riscos de ser assaltado e até mesmo de perder a vida, conforme Elias.
O sociólogo e coordenador do Núcleo de Estudos de Violência da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Naldson Ramos, disse que os ourives correm risco porque o produto [ouro] que eles trabalham é cobiçado pelos assaltantes por ser de fácil comercialização e tem valor alto no momento da troca pela droga, principalmente.
istema de ronda.
“Isso facilita porque os ladrões agem em três minutos e fogem rápido. Eles usam a motocicleta para se locomover após ações criminosas. E no 'centrão' de Cuiabá dificilmente é possível reconhecer alguém dentre tantas outras por causa da movimentação”, comentou.
Algumas medidas podem ser adotadas para reduzir crimes, como a instalação de um dispositivo de segurança para o disparo de alarme na delegacia de plantão. "De fato, a polícia não dá conta do policiamento e sabemos também que sempre são as mesmas pessoas que agem. Essas pessoas podem agir nas mesmas regiões individualmente ou fazer parte de algum grupo. Dessa forma, pode-se acabar com o ciclo de repressão porque vai chegar ao autor do crime", pontuou.
O sociólogo disse ainda que uma maneira de despistar os assaltantes é deixar poucas peças à mostra para os clientes. “Deve-se evitar no máximo relógios e joias de valores. Além disso, o armário tem que estar sempre trancado com as chaves”, aconselhou.
Segurança privada
Para ter um pouco mais de tranquilidade o diretor da Associação dos Lojistas do Centro Histórico de Cuiabá, Sandro de Oliveira, contou que ele e outros cinco donos de joalherias tiveram que investir na segurança. Ao todo, cada um aplica R$ 2 mil reais para pagar quatros seguranças que se revezam para monitorar os estabelecimentos durante o período matutino e vespertino.
“Falar em segurança é complicado porque cobramos as autoridades várias vezes, mas, se eles fossem dar uma atenção especial para os comerciantes, a população em geral correria mais risco”, disse o diretor.
Conforme Sandro, essa alternativa para se sentir mais seguro foi criada há aproximadamente 10 anos quando muitos registrados de assaltos estavam sendo registrados na região. Além dos seguranças particulares, os joalheiros e ourives investem também em câmeras de segurança, alarmes e guardas noturnos.
Segundo o diretor, outros joalheiros não tiveram a mesma iniciativa em querer manter a segurança porque muitos trabalham somente com mostruários e não têm grande estoque de ouro. Conforme o coordenador comercial da Câmara de Dirigentes Lojistas de Cuiabá (CDL), o estado e nem mesmo a capital mato-grossense têm registro de quantos trabalhadores trabalham nesse ramo.
“Muitos ourives abrem joalherias, mas muitos joalheiros não tem ourives e trabalham com empresas terceirizadas. E, por isso, a junta comercial não tem esse balanço”, explicou o coordenador comercial.
Fonte: G1