Na história da presença negra em nosso país encontramos uma ação natural de defesa de culto efetivada pelos africanos em terras estranhas a sua cultura, se trata exatamente da ação conhecida como sincretismo religioso. A ação, que possui cunho social, não é uma exclusividade brasileira, na verdade, fazer junção de divindades, deidades e sentidos religiosos de vertentes diferentes tornando-as apenas uma, é uma coisa natural de se acontecer em vários países, momentos e grupos da história.
O sincretismo é pura e simplesmente a ação de efetivar a ligação de seres de correntes espirituais diferentes tomando como base para isso características aparentemente iguais entre elas. No Brasil temos uma porção de sincretismos efetivados, não apenas pela raiz negra como também de outras raízes, cuja quantidade corresponde à quantidade de seres espirituais e correntes espiritualistas existentes, não obstante, devemos frisar que a maior parte dos sincretismos conhecidos em nossa terra se trata exatamente dos efetivados entre santos católicos e orixás africanos. É quase impossível, por exemplo, não ter um brasileiro que não conheça Ogun como São Jorge ou Yemanjá como Nossa Senhora. Nem mesmo as divindades naturais originais de nossa terra, como, por exemplo, Tupan, Guaracy, Rudá, e que também passaram pelo processo sincrético antes mesmo dos Orixás, são tão conhecidos pelos brasileiros quanto o realizado com os deuses negros.
Embora seja naturalmente um processo histórico natural, devemos sempre ter consciência de que, embora sendo energias parecidas e talvez até mesmo unidas por laços internos espirituais, dois elementos sincretizados entre si não são definitivamente a mesma coisa; possuem energias de características similares, mas são de culto e tratos diferentes.
O sincretismo é uma ação pública e histórica que nos provam o quão as religiões são irmãs na origem; os deuses, os santos, a forma de se evocar Deus, podem ser diferentes, no entanto suas essências são tão parecidas e similares que nos é possível até mesmo sincronizá-las. Na biologia se conhece um ser pela sua origem e filiação, na espiritualidade não é diferente, as mais antigas egrégoras se reconhecem pelas características iguais, pois a essência não modifica a realidade de nenhuma delas, apenas ganha novo corpo de visão.
Que possamos compreender o desejo do Astral em nos fazer tão diferentes e iguais ao mesmo tempo e, a partir da verdadeira compreensão de espiritualidade, lutarmos em busca de um mundo onde as diferenças sejam apenas sinais distinguíveis e não motivo de separação e guerra. Saravá.