Apesar de decisões da Justiça determinarem que as polícias e os bombeiros do Rio Grande do Norte voltem a trabalhar, e com portaria do governo anunciando que cumpriria ordem judicial que manda prender grevistas, a paralisação das forças de segurança potiguares foi mantida nesta quarta-feira (3). Após 16 dias com baixo policiamento nas ruas, nenhum agente foi preso.
Parte dos militares não vai às ruas e policiais civis reduziram drasticamente o efetivo nas delegacias como forma de protesto para o pagamento dos salários de novembro, dezembro e o 13º, além de melhores condições de trabalho.
Duas ordens judiciais mandaram os agentes encerrarem a greve. Na mais recente, do dia 31, o desembargador Claudio Santos determinou que os comandantes da PM, dos bombeiros e da Polícia Civil prendam em flagrante os agentes da segurança pública que promoverem, incentivarem ou colaborarem com a paralisação. A Secretaria Estadual de Segurança anunciou que cumpriria a ordem judicial, mas nenhum dos grevistas ainda foi preso.
Na manhã desta quarta, na Delegacia Geral de Polícia, em protesto, policiais civis se apresentaram simbolicamente à prisão -o que não ocorreu. Um dia antes, agentes na Central de Flagrantes da cidade registravam queixas só de roubo e furto de veículos.
Na Polícia Militar, porém, o movimento arrefeceu depois das decisões judiciais: 59 carros da polícia fizeram o patrulhamento da capital nesta quarta -o governo não divulga o total de carros, ao alegar questões de segurança. O policiamento também voltou a ocorrer a pé.
Os agentes negam que seja uma greve e chamam a paralisação de "Segurança com segurança": comparecem ao trabalho, mas dizem que não podem ir às ruas com veículos danificados e coletes balísticos vencidos.
O governo promete terminar de pagar os salários do mês de novembro até este sábado (6) -os funcionários que ganham até R$ 4.000 já tinham recebido este vencimento. A gestão Robinson Faria (PSD) afirma que "permanece com o trabalho para a confirmação de receitas para anunciar os pagamentos de dezembro e 13º salário o mais breve possível."
Com a paralisação, o Estado passou por uma onda de violência: foram 106 mortes violentas nos primeiros 15 dias sem policiamento nas ruas, uma média de 7,07 mortes por dia, segundo levantamento do Observatório da Violência Intencional do Estado. Nos 15 dias anteriores à paralisação, foram 75 homicídios, segundo o órgão, média de 5 por dia. As cidades mais atingidas foram a capital Natal, com 20 mortes, e Mossoró, segunda maior do Estado, com 21.
Isso, além do motim em janeiro de 2017 na Penitenciária de Alcaçuz, contribuiu para que 2017 fosse o ano mais violento, nas contas da entidade: foram 2.405 mortes violentas (homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte), alta de 20% em relação ao ano anterior.
Em meio ao crescimento da violência, o presidente Michel Temer (PMDB) enviou, pela terceira vez em dois anos, tropas das Forças Armadas a capital. Os militares estão na capital e em Mossoró desde 29 de dezembro, a princípio por 15 dias, que podem ser prorrogados. São 2.800 homens, a maior parte do Exército (2.000), mas também da Marinha, Aeronáutica e da Força Nacional de Segurança, de Estados como Alagoas, Paraíba e Ceará.