Devido ao aumento de casos de anomalias congênitas e síndrome de Guillain-Barré em regiões onde há o vírus zika, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) enviou, neste domingo (17), um comunicado de atualização epidemiológica alertando os países-membros sobre a doença transmitida pelo Aedes aegypti.
A Opas, braço da Organização Mundial de Saúde na região, informa que desde o ano passado 18 países e territórios confirmaram a circulação autóctone do vírus zika: Brasil, Barbados, Colômbia, Equador, El Salvador, Guatemala, Guiana, Guiana Francesa, Haiti, Honduras, Martinica, México, Panamá, Paraguai, Porto Rico, St. Maarten, Suriname e Venezuela. Entre novembro de 2015 e janeiro de 2016, a transmissão local do vírus foi registrada em 14 novos países e territórios.
A Opas recomenda que os países garantam ser capazes de detectar e confirmar casos de zika, ao mesmo tempo em que se preparem para responder a um possível aumento da demanda por serviços de assistência especializada a síndromes neurológicas.
Os países também devem reforçar suas atividades de consulta e assistência pré-natal. A organização considera ser fundamental que os países se esforcem para reduzir a presença do mosquito.
Doenças possivelmente associadas
Durante o surto de zika na Polinésia Francesa (entre 2013 e 2014), 74 pacientes apresentaram síndromes neurológicas ou autoimunes logo após terem manifestado sintomas compatíveis com a infecção pelo vírus. Desses, 42 foram classificados como síndrome de Guillain-Barré.
Em julho de 2015, o Brasil relatou a detecção de pacientes com síndromes neurológicas que tiveram histórico recente de infecção por zika na Bahia. Foram identificados 76 pacientes com síndromes neurológicas, dos quais 55% (42) foram confirmados como Síndrome de Guillain Barré. Entre eles, 62% (26) tinham um histórico de sintomas compatíveis com infecção pelo vírus. Além disso, em 25 de novembro de 2015, a Fundação Oswaldo Cruz Pernambuco informou que foram encontradas infecções por zika em sete amostras de pacientes com síndrome neurológica. Desde o início do monitoramento de casos de microcefalia no Brasil, foram registrados 3.530 casos suspeitos da malformação possivelmente ligados ao zika vírus em recém-nascidos.
Em janeiro de 2016, El Salvador relatou a detecção de um aumento incomum de casos de síndrome de Guillain-Barré desde dezembro de 2015. Em média, o país registrava 14 casos de SGB por mês (169 por ano). No entanto, entre 1º de dezembro de 2015 e 6 de janeiro de 2016, foram registrados 46 casos de síndrome de Guillain-Barré, dos quais dois morreram. Em 22 pacientes cuja informação estava disponível, 54% (12) tiveram doença febril que causava manchas na pele entre sete e 15 dias antes do início da SGB.
Síndrome de Guillain-Barré
A síndrome de Guillain-Barré – que pode afetar pessoas de qualquer idade, especialmente adultos mais velhos – começa a se manifestar por formigamento nos pés e pernas. A sensação tem caráter ascendente, ou seja, vai subindo para os joelhos, coxas, mãos e braços.
O formigamento e a alteração da sensibilidade dos membros vêm acompanhado de fraqueza nos músculos e paralisia. Os sintomas podem atingir os músculos da face e da respiração, o que faz com que o paciente precise ser tratado em unidades de terapia intensiva (UTI).
A doença pode regredir de maneira espontânea, mas existem dois tratamentos que aceleram a recuperação. Um deles é a plasmaférese, procedimento que lembra a hemodiálise, em que o sangue é filtrado para remover os anticorpos que estão lesando os nervos do paciente. O tratamento exige uma estrutura hospitalar complexa e uma equipe com experiência em hemoterapia.
O outro é a injeção de imunoglobulina humana, que faz com que os anticorpos deixem de atacar os próprios nervos. O tratamento de um único paciente com essa estratégia pode custar entre R$ 30 e 40 mil. Segundo o neurologista Marcondes Cavalcante França Junior, da ABNeuro, os dois tratamentos estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), porém nem todos os hospitais têm a estrutura necessária para aplicá-los.
Além disso, é importante que o paciente fique internado durante a doença porque, caso a paralisia afete os músculos respiratórios, ele precisa ser submetido à ventilação mecânica. Mesmo pacientes com sintomas mais leves devem ser internados, pois a doença pode evoluir rapidamente.
A síndrome de Guillain-Barré é considerada uma doença de prognóstico favorável pelos médicos. Em 85% dos casos, há uma recuperação praticamente completa que pode levar de dois a quatro meses. Em 15% dos casos, pode haver sequelas, desde as mais leves, como fraqueza nos pés ou dormência, até as mais significativas, em que os pacientes podem perder a capacidade de andar.
Fonte: G1