Me mudei de cidade e tudo saiu do lugar, literalmente tudo, parece que acordei. Em 2000 no Congresso de Pedagogia Waldorf em São Paulo o palestrante disse: “só peixes vivos nadam contra a corrente”. E refletindo sobre isso hoje me lembrei do que o Roberto Crema fala sobre 'Normose’: “… Na minha abordagem há três fundamentos da normose. O primeiro é o sistêmico: esta anomalia da normalidade surge quando o sistema no qual vivemos encontra-se, dominantemente, desequilibrado, doente e corrompido, quando o que predomina são as contradições ou sintomas como a falta de escuta, de respeito, de cuidado e de fraternidade, com uma violência alarmante e crescente contra o indivíduo, a sociedade e a natureza. Neste contexto, uma pessoa normal, ou melhor, normótica, é a bem ajustada ao sistema mórbido, assim contribuindo para a manutenção do status quo. Sabemos bem, pela própria carta constitutiva da Organização Mundial de Saúde (1946), que a saúde não é ausência de sintomas, mas a presença de um processo completo de bem-estar nos planos somático, psíquico e social. O fator ambiental e o espiritual foram considerados e incluídos neste conceito, mais tarde (1998). Em outras palavras, quando um sistema se encontra num estado patológico em larga medida, a pessoa realmente em boa saúde é aquela capaz de manifestar um estado de desajustamento consciente, de uma indignação justa, de um desespero sóbrio…". É normal mandar coraçãozinho no Whatsapp e não dar bom dia? Não sentir o gosto da comida? Transar com 5 ao mesmo tempo? O filho adoecer pra conseguir ser visto? Não ler 1 livro? Sentir-se esgotada a maior parte do tempo? Olhar mais o Instagram e Facebook que nos olhos das pessoas? Culpar o patrão pela sobrecarga que você aceitou? Participar de uma palestra que foi superficial, mas dizer que ela mudou a sua vida e fazer selfie com a palestrante? Não, acontece, mas não é normal. Recentemente participei como palestrante de um evento que atrasou. Na plateia havia idosos, crianças, bebês etc., a minha fala era a última, iniciei às 21h40 e quando olhei para uma senhora de idade sentadinha desde as 18h30 optei por encerrar a palestra e me comprometi a voltar. Normose seria ter olhado pra mim mesma, ignorado o público e ter dado a palestra. Ali eu consegui agir contra a corrente. Mas estou me questionando: onde estou ‘normótica’? Com que frequência uso as expressões: não deu tempo, deixa quieto, é assim mesmo, não vale a pena, este ano vai ser diferente? Março já está acabando, daí a pouco Simone já está cantando e o sentimento de que faltou ano inundando a maioria de nós. Pare alguns minutos e se pergunte: onde estou normótica? Reforçando o pensamento da Escola do Altruísmo: “Renasça (ou acorde), o mundo precisa de pessoas vivas”. Fique bem.