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Ondas de calor se tornaram mais frequentes e mais longas

Estudo revela que fenômeno se intensificou nos últimos 40 anos. Aquecimento global é o principal causador desta mudança

Por Assessoria/DW Brasil

As mudanças climáticas estão fazendo com que as ondas de calor se tornem mais frequentes e mais longas do que há 40 anos, revelou um estudo publicado na Science Advances, na sexta-feira (29/03).

Desde 1979, as ondas de calor se tornaram 20% mais longas, expondo populações por mais tempo a temperaturas extremas, e tornaram 67% mais frequentes. O estudo mostrou que, entre 1979 e 1983, essas ondas duravam em média oito dias. Entre 2016 e 2020, a duração média deste fenômeno passou a ser de 12 dias.

Embora pesquisas anteriores já tenham constatado que a mudança climática está tornando os períodos de ondas de calor mais longos, mais frequentes e mais intensos, o novo estudo se difere por considerar não apenas a temperatura e a área de superfície, mas também a duração do calor e sua propagação pelos continentes, explicam os coautores da pesquisa e climatologistas Wei Zhang, da Universidade Estadual de Utah, e Gabriel Lau, da Universidade de Princeton. 

O estudo também indicou que a Eurásia foi a região atingida pelas ondas de calor mais duradouras. A pesquisa ainda acrescenta que esse fenômeno diminuiu na África, enquanto a América do Norte e a Austrália tiveram os maiores aumentos em magnitude, ou seja, considerando a temperatura e a área de superfície.

“Esse estudo é um aviso claro de que as mudanças climáticas tornam as ondas de calor ainda mais perigosas em vários aspectos”, alerta o cientista Michael Wehner, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, que não participou da pesquisa.

Assim como em um forno, quanto maior a duração do calor, mais assada ficará a comida. Nesse caso, são as pessoas, de acordo com os coautores. “E os impactos em nossa sociedade seriam enormes e aumentariam com o passar dos anos”, observa Zhang.     

Papel do aquecimento global

A equipe realizou simulações de computador que mostram que essa mudança se deve às emissões que retêm o calor da queima de carvão, petróleo e gás natural. Os pesquisadores também usaram modelos climáticos para determinar como seriam os resultados na ausência de mudanças climáticas causadas pelo homem.

O estudo detectou a pegada das mudanças climáticas ao simular um mundo sem emissões de gases de efeito estufa e concluiu que sem a alteração no clima não haveria as ondas de calor observadas nos últimos 45 anos.

Eles também analisaram as mudanças nos padrões climáticos que propagam as ondas de calor. As ondas atmosféricas que movem os sistemas meteorológicos estão se enfraquecendo e, portanto, não são capazes de mover as ondas de calor com a mesma rapidez, segundo Zhang.

Isso mostra “como as ondas evoluem e se movem em três dimensões e se deslocam por regiões e continentes em locais específicos”, explica Kathy Jacobs, cientista climática da Universidade do Arizona que participou do estudo.

As mudanças se aceleraram principalmente a partir de 1997 e, além das causas humanas, o enfraquecimento da circulação do ar na atmosfera superior pode ter um papel importante, segundo o estudo.

“Uma das consequências mais diretas do aquecimento global é o aumento das ondas de calor”, acrescenta Jennifer Francis, cientista do Woodwell Center.

As ondas de calor com períodos prolongados e excessivo causam impactos prejudiciais na saúde, na economia, na agricultura, na produtividade do trabalho e em incêndios florestais, entre outros.

“Os resultados sugerem que grandes ondas de calor contínuas, mais longas e mais lentas, causarão impactos ainda mais devastadores nos sistemas naturais e sociais no futuro se os gases de efeito estufa continuarem aumentando e nenhuma medida eficaz para a redução for adotada”, concluíram os autores.

Zhang se preocupa ainda com os impactos desproporcionais nas regiões menos desenvolvidas, pois, por exemplo, uma onda de calor recorde que ocorreu na Europa em 2003 causou enormes perdas socioeconômicas e aproximadamente 70 mil mortes. Em lugares com menos estrutura, as perdas serão maiores.  “As cidades que não têm infraestrutura verde suficiente ou não têm muitos centros de resfriamento, em particular para a população desfavorecida, serão muito perigosas”, alerta. 

lr/cn (afp,ap,ots)
Foto: Buda Mendes/Getty Images

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