Foto: Ándrea Lobo
Grades, vidros à prova de balas, câmeras, segurança armada e cercas elétricas. Esses são alguns dos aparatos usados por comerciantes da Grande Cuiabá para trazer mais segurança aos estabelecimentos, entretanto isso não vem acontecendo – os assaltantes não se inibem. Segundo fontes da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), só nos primeiros dois meses deste ano foram 505 casos de roubos e furtos registrados a comércios em Cuiabá e Várzea Grande. Um aumento de 14% se comparado ao mesmo período do ano passado.
Dos 505 casos de roubos e furtos, 160 registros são de roubos, ou seja, em 31% dos casos o assaltante entrou em contato com a vítima, usou de violência ou ameaça. Em decorrência desses índices, há setores no comércio com grande dificuldade de contratação. Postos de combustível, lotéricas, lojas de eletroeletrônicos estão entre os estabelecimentos mais visados por assaltantes, de acordo com o vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Cuiabá (CDL), Célio Fernandes.
“As pessoas não querem ser contratadas para ficarem vulneráveis a esse tipo de violência. Preferem lugares em que não tenha porta aberta ao público, e podem se submeter até a ganhar uma salário menor”, conta Fernandes.
A luz do dia também não inibe a ação dos bandidos. A loja de veículos representante da marca BMW, localizada na Avenida Fernando Corrêa, em Cuiabá, foi vítima de assalto às 7h50 no começo de abril. Clientes e vendedores foram rendidos por assaltantes que fizeram um arrastão levando celulares, relógios, carteiras e dinheiro. O prejuízo estimado foi de R$ 50 mil. “Se é noite, o índice de assaltos em residências é alto, durante o dia é o comércio que está com as portas abertas, se tornando mais vulnerável”, revela o vice-presidente.
O número de registro cresceu, entretanto é sabido que ele pode ser maior do que as estatísticas mostram. Há comerciantes que não recorrem mais às delegacias para fazer o Boletim de Ocorrência tamanha a incredulidade no poder público. “Eu, por exemplo, já registrei uns dez boletins de ocorrência. Se alguém me perguntar sobre uma única vez que recebi alguma ligação para dar satisfação sobre a minha denúncia, eu te digo: isso nunca aconteceu”, revela Fernandes.
Diretor da CDL e da empresa Mitsubishi Tauro Motors, Paulo Boscolo conta que já assaltaram quatro vezes sua loja de automóveis em Várzea Grande. Após o primeiro assalto, o empresário recorreu à concertina (espécie de arame farpado); os assaltantes a violaram. Após o incidente, colocaram cerca elétrica e aumentaram o muro, ainda assim os assaltantes não se intimidaram e arrombaram a parede para cometer o crime.
“Armas dos seguranças já foram levadas. O que me preocupa é a reincidência. Eles sabem que serão presos e logo mais, soltos. A gente não tem uma segurança pública efetiva. O comerciante que quiser segurança tem que investir do próprio bolso, pois os impostos pagos não estão tendo retorno para coisas básicas”, critica o diretor.
Em coletiva à imprensa na sexta-feira (17), o secretário de Segurança Pública, Mauro Zaque, falou sobre as ações da Sesp nos primeiros 100 dias do governo Pedro Taques (PDT). Quando questionado sobre o aumento de roubos e invasões a lojas da capital, tanto Zaque quanto o coordenador de Comunicação Social da Polícia Militar, tenente-coronel Paulo Serbija Ferreira Filho, se reservaram a dizer que novas informações deverão ser repassadas pela pasta nos próximos dias.
Caso recente
Localizada em uma das avenidas com maior importância comercial da capital, uma das lojas franquiadas à perfumaria O Boticário fechou as portas após 34 anos de funcionamento e 27 anos no local. O motivo: nos últimos oito anos foram registrados 15 assaltos, sendo quatro só nos três primeiros meses deste ano.
Devido à grande notoriedade do caso, uma reunião com o secretário de Segurança Pública foi agendada três dias após o fechamento da loja. Segundo a presidente da franquia O Boticário de Cuiabá e Várzea Grande, Dalva Ferraz, não há políticas públicas voltadas especialmente para minimizar os assaltos, e a principal alegação da secretaria é a falta de efetivo. No estado são 5 mil militares, e o ideal seria de no mínimo 11 mil.
Os danos causados não acabam nos prejuízos financeiros dos comerciantes: há ainda os traumas físicos e psicológicos aos clientes e vendedores. A diretora relata que a decisão de fechar a loja foi consequência do alto grau de violência nos últimos assaltos. “Além dos prejuízos financeiros, a sensação de impotência em relação à solução do problema e o cenário de insegurança pública crescente da capital mato-grossense”, disse.
Apesar de o caso chocar pela quantidade de delitos cometidos e nenhuma solução encontrada pelas entidades públicas, a diretora da rede diz que é necessário acreditar na instituição pública e registrar boletins de ocorrência. “Hoje não funciona [segurança pública], mas eu acredito que vai funcionar. Não podemos nos acovardar em meio a esses ladrões. O bem sempre vence o mal”, acredita Dalva Ferraz. A diretora ainda acrescenta que a raiz da violência é a falta de educação, em casa e nas escolas, que só poderá ser solucionada com investimento na área.
A loja de perfumaria já está programada para reabrir ainda este ano, segundo a diretora, em um lugar mais seguro, dentro do Supermercado Comper da Miguel Sutil.