Para quem cumpre medida socioeducativa, o tempo passa mais devagar e a distância de familiares e amigos gera ansiedade, angústia e incertezas. São sentimentos difíceis de lidar, que exigem atividades alternativas como a oficina de pintura em vasos e plantio de mudas, ministrada às adolescentes da Unidade de Internação Provisória e Internação Feminina de Cuiabá, no último sábado (19.12).
Foi a segunda vez que a artista plástica Isa Sousa dedicou tempo e conhecimento às jovens, mas ela garante que aprende muito com a iniciativa. “A primeira vez foi em fevereiro deste ano, antes da pandemia. Tenho uma oficina preparada já faz um tempinho, de introdução à aquarela, que tem como objetivo ensinar um pouco da técnica construindo planetas (reais ou imaginados). Aceitei logo de cara porque acho que sempre aprendo um pouco nesses processos”.
Ela ressalta ainda que apesar de o objetivo principal ter sido aprender a técnica, construir planetas, seus próprios planetas, é algo que vai além. “São meninas com histórias de vida difíceis e acredito muito que a arte é uma válvula de escape em momentos como o que elas passam ali. Acredito muito na potência da arte como ferramenta de transformação social”.
Durante a segunda edição da oficina, as três meninas fizeram pintura em vasos de cerâmica e também o plantio de mudas de alecrim e manjericão. Isa Sousa, que é pós-graduanda em Arteterapia e jornalista, diz que a autoconfiança faz parte do processo de transformação.
“Eu tenho consciência que são vidas difíceis, com a ausência certamente não só de bens materiais, mas também afetivos. Eu mesma sei que a arte muda, transforma, porque me ajuda diariamente na luta contra o transtorno de ansiedade”, ressalta.
Os materiais utilizados foram fornecidos por ela e pela idealizadora do projeto e educadora física da unidade, Marcela Pianesso Vieira.
“Em alguns momentos elas ficam muito ansiosas, por isso procuramos sempre realizar atividades com o intuito de acalmá-las, mas também passar conhecimento que pode servir para o desenvolvimento futuro de uma atividade externa que possa ser uma fonte de renda”, avalia a servidora.
A arte como terapia
Antes das oficinas, ela realizava trabalhos mais simples, como desenhos em folhas de papel, e agora as técnicas foram ampliadas, por meio das oficinas. Marcela Pianesso conta também que as jovens trabalham com música, como o rap.
“Elas escrevem letras, estimulamos também a meditação, a arte vem ao encontro disso, percebemos que durante o momento em que elas estão nas atividades, elas focam, é algo que faz muito bem”, acrescenta.
A gerente da unidade, Jaqueline de Souza Fortaleza, destaca que os parceiros são muito importantes para concretizar projetos como este.
“É algo que desenvolve nelas um sentimento de autoconfiança e autoestima, proporciona interação com a terra, com as plantas. Elas visualizam o resultado do próprio trabalho e, com isso, vislumbram também muitas possibilidades. Elas se sentem mais capazes ao olhar o resultado daquilo que elas fizeram. Então representa uma satisfação pessoal muito grande, por isso só temos a agradecer os parceiros e servidores envolvidos”.
A receptividade e interesse das adolescentes é percebido durante e ao final das oficinas, como relata a artista plástica.
“Eu confesso que sempre fico insegura, mas a aceitação é muito boa. O fato de elas perguntarem depois para o pessoal quando eu volto é um sinal de que elas gostaram. Elas sempre se envolvem e participam ativamente do processo. Mais do que falar, meu processo em sala é percebê-las e ouvi-las. Escutar ativa e afetivamente, é um processo natural e que flui. Fico imensamente feliz por essas horinhas em sala de aula e para 2021 espero que o projeto continue”, conclui Isa Sousa.