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Ocupação de pessoas com curso superior cresce, mas profissionais atuam em funções que não exigem tanta qualificação

Ter uma boa qualificação é fundamental para conquistar vagas atrativas no mercado de trabalho cada vez mais disputado, mas não é o único critério para se posicionar à frente da concorrência. Levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) indica que o número de ocupados com ensino superior completo subiu 15% entre 2019 e 2022. Todavia, grande parte desses profissionais passou a desempenhar funções não exigem esse grau de escolaridade em função de problemas estruturais da economia nacional.

Mesmo em situação de pleno emprego, Mato Grosso também reflete um pouco da precarização do trabalho. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que, no acumulado entre janeiro e outubro de 2023, os setores de comércio e serviços, que exigem menos qualificação e experiência, foram responsáveis por quase 50% dos postos de serviços criados.

Na visão da especialista em recursos humanos, recrutamento e seleção, Jerusa Rocha, o fenômeno é fruto da falta de conhecimento prático daqueles que tentam se habilitar para uma determinada oportunidade. “Na maioria das vezes, o profissional acredita que apenas a graduação é suficiente para garantir uma vaga. No entanto, os tempos são outros. É necessário agregar vivência no campo ao currículo, especialmente com estágios e cursos técnicos. Cada vez mais as empresas valorizam a experiência do candidato”.

Ainda segundo Jerusa, o crescimento da ocupação de profissionais qualificados em atribuições não condizentes com o nível de formação também decorre da falta de vagas em áreas relacionadas à saúde – como farmácia, biomedicina – e do excesso de profissionais que buscam seguir carreira jurídica. “Neste último caso, muitos acabam se frustrando e optam por mudar de área de atuação”.

Foi o que aconteceu com Rafael Souto, 26. Depois que concluiu a faculdade de Direito, o jovem não se identificou no ramo e decidiu usar os conhecimentos de atendimento ao público que adquiriu atuando na padaria do pai, em Cuiabá, para apostar as fichas em corretagem de imóveis, seguindo os passos do irmão mais velho Rodrigo, 32. Rafael conta que a função hoje é a sua principal fonte de renda.

“A rotina do escritório não correspondeu com as minhas expectativas. A partir daí, decidi fazer o curso técnico de Transações Imobiliárias (TTI) para trabalhar como corretor. Quando falo a minha formação, consigo transmitir credibilidade e sinto que as duas áreas são complementares e úteis no processo de venda”.

João Freitas

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