Cidades

Obras inacabadas, comerciantes prejudicados

A escolha de Cuiabá como uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, realizada entre junho e julho do ano passado no Brasil, ajudou a elevar a autoestima do mato-grossense e atiçou os empresários locais que enxergaram no evento uma oportunidade única nos negócios. Sete meses após o fim do Mundial da Fifa, entretanto, uma realidade diferente daquela que o cuiabano queria pairou sob sua cidade – que se tornou um canteiro de obras inacabadas e fraudulentas –, além de causar prejuízos financeiros a alguns comerciantes.

As avenidas Fernando Corrêa e da FEB estão entre as principais vias das maiores cidades de Mato Groso – Cuiabá e Várzea Grande, respectivamente. Afora a importância para o transporte público e o deslocamento das pessoas, ambas também compartilham outras características, como a alta densidade de estabelecimentos comerciais, com destaque para concessionárias de veículos, e as intervenções que sofreram com as obras de mobilidade urbana – sobretudo em Várzea Grande.

Algumas dessas revendedoras de veículos amargaram prejuízos significativos, caso do Grupo Trescinco/Ariel, que recentemente ingressou na justiça com pedidos de recuperação judicial e da Suzuki, que foi obrigada a fechar as portas com menos de um ano de atividade na cidade de Várzea Grande. A Extra Caminhões, em Cuiabá, também anotou prejuízos principalmente na área de oficinas e manutenção de caminhões.

Entre as queixas comuns dos empresários está a falta de diálogo com a gestão anterior do governo estadual, que realizava intervenções ao redor dos estabelecimentos comerciais, prejudicando ou até mesmo impossibilitando o acesso de clientes e fornecedores sem uma solução que não diminuísse as vendas nesses locais.

Carlos Montenegro, da Mattiuzo, Mello Oliveira e Montenegro Advogados, afirma que algumas obras prejudicaram sim o comércio, uma vez que o “impedimento de acesso a sua loja acarreta a perda de visibilidade de seu estabelecimento”. De acordo com ele, “é certo que o prejuízo existe”, no entanto o especialista também afirma que é necessário “quantificar” essas perdas: “A questão é quantificar esse prejuízo. Ninguém melhor do que o próprio empresário para mensurar suas perdas”.

Além dos problemas relacionados às obras em Cuiabá, o mercado automobilístico nacional apresentou queda nas vendas. Dados do Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2015, da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apontam que, pela primeira vez desde 2011, o número de licenciamentos de veículos nacionais caiu em relação ao ano anterior. Em 2013 foram licenciados 3.060.523 unidades. Já 2014 apresentou resultado um pouco mais modesto, totalizando 2.881.015 automóveis.

Mato Grosso também sentiu a queda no número de licenciamentos. Em 2013, 72.158 veículos foram licenciados, ao passo que em 2014 esse número caiu para 67.411.

Embora Montenegro afirme que esses casos de queda de vendas configuram apenas eventuais indenizações e não numa sanção direta aos políticos e gestores, ele analisa que uma ação contra o Estado é cabível e que as empresas menores são as que mais sofrem: “É cabível entrar contra o Estado pelo não cumprimento de prazos, principalmente as empresas de pequeno porte, que costumam sofrer mais nesses casos”.

Diego Fredericci

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