O Presidente americano Barack Obama fará nesta quarta-feira (4) uma breve viagem, mas de grande importância política, da Casa Branca ao Capitólio para tentar convencer os legisladores a defender sua reforma do sistema de saúde.
Os esforços de oito anos de Obama para expandir a cobertura de saúde a dezenas de milhões de americanos estarão sob risco quando o presidente eleito, Donald Trump, assumir o poder em 20 de janeiro com uma maioria republicana nas duas casas do Congresso.
Em uma medida preventiva, o atual presidente se reunirá com senadores e deputados democratas "principalmente para discutir como contra-argumentar a meta republicana de revogar o Affordable Care Act (ACA)", conhecido como Obamacare, indicou o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest.
Conquistado em 2010 após um combate legislativo feroz que custou caro aos democratas, o Obamacare é uma peça central do legado de dois mandatos do 44º presidente americano.
A menos de três semanas da chegada à Casa Branca de Donald Trump, a prioridade de Barack Obama é "proteger os interesses de 22 milhões de americanos", cuja cobertura de saúde desapareceria se os republicanos suprimissem o texto, segundo Earnest.
A pouco habitual peregrinação política coincide com a visita ao Congresso do vice-presidente eleito Mike Pence, que irá se reunir com os membros republicanos da Câmara de representantes. "Estamos focados em um objetivo: revogar e substituir o Obamacare", explicou Pence na terça-feira, resumindo laconicamente a posição do Grand Old Party.
"Procuramos uma legislação para nos dar as ferramentas para reduzir o fluxo de papelada e regulação que estão estrangulando os empregos americanos", declarou.
Os democratas, ainda aturdidos pela perda da Casa Branca, têm uma limitada margem de manobra para defender esta lei.
A Casa Branca aposta que os eleitores americanos vão reagir com fúria se Trump retirar de milhões a cobertura médica sem uma alternativa viável.
O presidente da Câmara de representantes, Paul Ryan, reeleito na terça-feira, elaborou um sistema menos restritivo, mas cuja operação continua uma incógnita.
'Ato covarde'
Alguns sugeriram manter alguns componentes, tais como a proibição das seguradoras de recusar um paciente por causa de um perfil considerado muito arriscado. Mas é difícil modificar parte do sistema sem colapsá-lo por completo, uma vez que o seu equilíbrio financeiro é frágil.
Outra hipótese levantada é votar o fim da lei, mas adiar por alguns anos a revogação de seus principais componentes.
Nancy Pelosi, líder dos democratas na Câmara dos representantes, denunciou com antecedência "um ato covarde".
"Não me surpreende que haja alguns republicanos preocupados com a extensão do impacto que poderia ter sobre os seus partidários a revogação do Obamacare", disse Earnest.
"Sabemos que há pessoas em todo o país que se beneficiam desta lei, que estão protegidos por esta lei, cujas vidas foram salvas por esta lei", acrescentou.
Durante sua campanha, Donald Trump falou de uma "coisa horrível", de uma reforma "absolutamente desastrosa".
Um dia após seu único encontro com Barack Obama no Salão Oval, em meados de novembro, ele aliviou suas palavras, garantindo que o texto poderia simplesmente ser "alterado".
Desde então, voltou a uma retórica menos sutil. "As pessoas devem se lembrar que Obamacare simplesmente não funciona e é muito caro", tuitou na terça-feira, referindo-se à recente subida dos seguros, incluindo um aumento dramático no Arizona (+116 %).
A esperança dos democratas poderia ser resumida da seguinte forma: oferecer a Trump uma vitória política simbólica com a supressão desta lei odiada pelo campo conservador, mas manter, com outro nome, a essência da arquitetura.
Barack Obama terá uma última chance de falar sobre o assunto durante seu discurso de despedida, marcado para terça-feira em Chicago. Mas ele sabe que suas chances de sucesso são limitadas.
Fonte: Globo