O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou nesta terça-feira, durante entrevista coletiva com a presidente Dilma Rousseff, que "não vê o Brasil como uma potência regional, mas (como) uma potência global".
Obama e Dilma falaram a jornalistas após se encontrarem na Casa Branca quase dois anos depois de a brasileira cancelar uma visita aos EUA após denúncias de que havia sido espionada pelo governo americano.
Questionada sobre o episódio, a presidente afirmou que o problema havia sido superado. "De lá para cá, algumas coisas mudaram", disse a presidente, citando declarações de Obama de que não haveria atos de "intrusão em países amigos".
"Eu acredito no presidente Obama e ele também me disse que, se precisasse de alguma informação não pública do Brasil, me telefonaria".
Durante o encontro, Dilma parabenizou Obama pela reaproximação com Cuba: "É o fim da Guerra Fria e o estabelecimento de relação de qualidade (com América Latina)", disse.
A presidente também afirmou que pretende transformar a cooperação na área de inovação em um dos "temas centrais" nas relações entre o Brasil e EUA e que o Brasil quer dobrar a corrente comercial com Estados Unidos em uma década.
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Clima
Pouco antes, em uma declaração conjunta sobre mudanças climáticas divulgada nesta terça-feira durante a visita da presidente Dilma Rousseff a Washington, o Brasil se comprometeu implementar políticas para eliminar o desmatamento ilegal.
O país anunciou também que pretende que sua matriz energética (incluindo biocombustíveis) atinja em 2030 uma participação de 28% a 33% de fontes renováveis, sem contar a geração hidráulica.
A mudança climática vem sendo tratada como um dos principais temas da visita da presidente aos EUA. De acordo com o documento, divulgado durante reunião de trabalho entre Dilma e o presidente Barack Obama, os dois países disseram que pretendem atingir, individualmente, mais de 20% de participação de fontes renováveis, além da geração hidráulica, em suas respectivas matrizes elétricas até 2030.
Em 2012, ultimo ano com dados disponíveis, essa participação era de 12,9% nos EUA e 7,8% no Brasil, sem contar as hidrelétricas.
O Brasil também promete restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. A meta de restauração, no entanto, é inferior ao total de áreas que devem ser recuperadas, de acordo com o Código Florestal.
Em artigo publicado na revista Science em 2014, pesquisadores afirmaram que o "passivo ambiental" do país – total de áreas ilegalmente desmatadas que precisam ser recuperadas – soma 21 milhões de hectares.
Não está claro como a meta de recuperação anunciada no acordo com os EUA se relaciona com a previsão do Código Florestal.
Os presidentes lançaram ainda uma iniciativa conjunta sobre mudança climática, com um grupo de trabalho para ampliar a cooperação bilateral sobre uso da terra e energia limpa.
Emissões de carbono
Os Estados Unidos pressionavam o Brasil a incluir no acordo metas de redução de suas emissões de carbono.
O governo americano já havia incluído o item em acordos com outros países, como a China. O Brasil, porém, preferiu anunciar suas metas mais à frente.
Na próxima cúpula do clima em Paris, em dezembro, espera-se que os países anunciem objetivos globais para a redução das emissões de carbono para frear o aquecimento global.
Ao fechar acertos com outros países antes da conferência, Obama tenta chegar a Paris fortalecido para as negociações. Ele diz que uma das prioridades de sua política externa é conseguir um acordo forte em Paris.
O Brasil, no entanto, reluta em se antecipar à cúpula do clima e se articula com outros países emergentes para a negociação em Paris. No domingo, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, se reuniu em Nova York com representantes da China, da Índia e da África do Sul para discutir suas posições.
Ao fim do encontro, ela disse que os quatro países – membros do bloco Basic, formado em 2009, pouco antes da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – levarão a Paris discussões sobre os custos da transição para uma economia menos poluente.
Tradicionalmente, países emergentes cobram o apoio financeiro de nações ricas para alterar suas matrizes energéticas.
Fonte: iG