Política

OAB critica proposta defendida por ministro de gravar conversa de preso com advogado

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, criticou neste sábado (23) uma ideia lançada pelo ministro da Defesa, Raul Jungmann, de gravar conversas entre presos e advogados nos presídios federais como meio de combater o crime organizado.

Em nota, Lamachia afirmou que a proposta revela “incapacidade em utilizar de métodos de inteligência investigativa” e mira a advocacia, “como se dela fosse a culpa pela existência das quadrilhas que comandam as prisões”.

“A ideia de gravar as conversas entre a advocacia e seus clientes confunde a sociedade, dando a entender que os profissionais são responsáveis pelo avanço da violência. A gravação de qualquer comunicação entre advogadas ou advogados e clientes é crime, prática que jamais deveria ser defendida por quem quer que seja, especialmente por aqueles que fazem parte do sistema de Justiça”, diz o presidente da OAB na nota.

Em entrevista à imprensa nesta sexta (22), na qual anunciou o envio de tropas militares ao Rio de Janeiro para conter tiroteios entre policiais e traficantes, Jungmann disse que a sugestão de instalar “parlatórios” nos presídios veio da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, com quem havia conversado pela manhã.

Jungmann também defendeu a instalação desses parlatórios em unidades prisionais, maior parte das quais administradas pelos estados. Conforme o ministro, o preso ficaria separado por um vidro do advogado ou familiar e se falariam por telefone, com as conversas registradas. Jungmann declarou que há resistência à medida, sobretudo de advogados criminalistas.

"Ela [Dodge] deu uma sugestão que eu acho que nós temos que imediatamente aceitar: começar a colocar os parlatórios dentro das penitenciárias e presídios federais. É um princípio de mudança que eu espero que venha a ser seguida por todo o sistema prisional brasileiro", afirmou o ministro.

Segundo Jungmann, o contato de criminosos com seus familiares e advogados, "livremente", "faz com que o crime organizado, que também dispõe hoje lá dentro de celulares, ele consiga comandar de dentro da prisão, que se transforma em um home office do crime organizado, crimes nas ruas".

A OAB diz que a gravação de conversas entre advogados e clientes é crime e trata-se de solução "simplista". A entidade diz que agirá com rigor para punir atos ilegais por parte de seus profissionais (leia a íntegra da nota ao final desta reportagem).

Durante a entrevista nesta sexta (22), Jungmann reconheceu "resistência" da advocacia à proposta e disse que iria conversar com Lamachia sobre o assunto.

"Uma relação entre um advogado e um cliente que cometeu um crime, é uma coisa. Já o advogado que se torna advogado de um bando como esses, ele pode ser chantageado, ele pode ser ameaçado de morte se ele não passar a servir. Não estou querendo de forma nenhuma criminalizar os advogados, que exercem uma função constitucional absolutamente reconhecida. Estou dizendo que nós temos um caso diferente", justificou o ministro.

Leia abaixo a íntegra da nota da OAB:

Diante do caos instalado na segurança pública do Rio de Janeiro, o Estado Brasileiro, responsável principal pelo descalabro que testemunhamos, ao invés de buscar soluções eficazes, faz o que sempre fez: joga para os outros a responsabilidade da criminalidade.

Além da notória incapacidade de prover com mínima eficiência qualquer serviço básico à sociedade, utiliza-se agora de subterfúgios para não assumir suas responsabilidades. Nada disso é novidade, é apenas mais um episódio da falência administrativa do Estado no combate ao crime organizado.

Face a incapacidade em utilizar de métodos de inteligência investigativa, algo elementar na abordagem moderna de combate ao crime, mira a advocacia, como se dela fosse a culpa pela existência das quadrilhas que comandam as prisões.

A ideia de gravar as conversas entre a advocacia e seus clientes confunde a sociedade, dando a entender que os profissionais são responsáveis pelo avanço da violência. A gravação de qualquer comunicação entre advogadas ou advogados e clientes é crime, prática que jamais deveria ser defendida por quem quer que seja, especialmente por aqueles que fazem parte do sistema de Justiça.

Não se combate o crime cometendo outros crimes e não será com soluções simplistas que o quadro atual será superado.

A OAB agirá com rigor e punirá todo e qualquer profissional que incorrer em atos ilegais, mas jamais defenderá ou apoiará qualquer tipo de ato que esteja fora das normas constitucionais e da legislação vigente.

Fora da lei não há solução.

Claudio Lamachia

Presidente nacional da OAB

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Política

Lista de 164 entidades impedidas de assinar convênios com o governo

Incluídas no Cadastro de Entidades Privadas sem Fins Lucrativos Impedidas (Cepim), elas estão proibidas de assinar novos convênios ou termos
Política

PSDB gasta R$ 250 mil em sistema para votação

O esquema –com dados criptografados, senhas de segurança e núcleos de apoio técnico com 12 agentes espalhados pelas quatro regiões