Opinião Renato Paiva

O Troco

A historinha que conto seguir, embora possa parecer invenção do cronista, é verdadeira,
aconteceu neste final de mês de maio.


Cheguei ao consultório médico para os exames de renovação da CNH. Atendido pela
secretária, mostrei-lhe a guia do Detran. Falou o valor da consulta e apontou um QR code ao
lado para eu fazer o Pix. Bati a mão no bolso buscando o celular e notei que o tinha esquecido
no carro.


— Posso pagar em dinheiro – perguntei-lhe.


— Claro, são tantos reais.


Dei-lhe 150 reais, enquanto ela me passava um questionário para ser preenchido. Devolvi o
formulário e, como eu ficasse em pé na frente a ela, repetiu que poderia sentar-me até ser
chamado.


— Estou esperando o troco. Disse-lhe.


— O troco será entregue pelo doutor, durante a consulta.


Estranhei que uma secretária não pudesse controlar o caixa de um único médico que atendia
naquele consultório.


Em seguida, fui chamado. Após os cumprimentos de praxe, o profissional abriu a pasta onde
estava o formulário preenchido e o dinheiro. Pegou a calculadora e, descontando R$ 126,97
(valor da consulta) dos R$ 150,00 que entregara à secretária, viu que deveria me devolver R$
23,03.


Abriu a primeira gaveta, de onde pegou uma nota de 20 reais e, como continuasse a buscar o
complemento do troco, disse-lhe que não se preocupasse com os valores menores.


— Não, ele argumentou, esse dinheiro é do Detran, precisa ser controlado com exatidão.


— Fulana! disse para a auxiliar, você tem um real aí? Não tinha.


Inconformado, ele pegou de outra gaveta, onde achara uma nota de 2 reais, um saquinho de
plástico transparente cheio de moedas.


Este estava bem amarrado com um nó cego arroxado, que exigiu tempo para ser desatado.
Olhando aquele tanto de moedas, achei que seriam suficientes para atender o senso de
exatidão, que o doutor buscava para devolver-me o troco.


Não eram. Parece que ali não tinha o fracionamento necessário que o metódico profissional
exigia. Por isso, buscou em outra gaveta uma caixinha daquelas que os caixas de farmácia
usam para separar as moedas por valor. Devolveu-me os 22 reais em cédulas e um punhado de
moedas, rindo da brincadeira que fiz, dizendo que iria conferir a exatidão.


Achei interessante o episódio e, chegando no meu escritório, por curiosidade, contei as
moedas — eram 16 — e em seguida joguei-as no cesto de lixo.


Mas a história não acaba aqui. No dia seguinte, encontro na minha mesa um pacotinho
contendo as mesmas moedas, agora resgatadas pela funcionária que esvaziou o lixo. Abro-o e
confiro: são 12 moedas de 5 centavos e quatro de 10 centavos. Estavam lá intactas as 16
moedas que recebi do médico.

Preciso agradecer à funcionária que recuperou as moedas, porque ela me livrou de cometer
um delito, pois é crime destruir dinheiro.


Por último, fica uma sugestão para o Governo voltar a fabricar moedas de 1 centavo para que
o minucioso médico, da próxima vez, não fique com sobra no seu caixa dos 3 centavos que não
conseguiu me devolver.


Renato de Paiva Pereira.

Foto: Chat Gpt

Renato Paiva

About Author

Você também pode se interessar

Opinião

Dos Pampas ao Chaco

E, assim, retorno  à querência, campeando recuerdos como diz amúsica da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul.
Opinião

Um caminho para o sucesso

Os ambientes de trabalho estão cheios de “puxa-sacos”, que acreditam que quem nos promove na carreira é o dono do