A partir de 2010, após o terremoto que abalou as estruturas do Haiti atingindo com força a capital e matando mais de 300 mil pessoas, os haitianos começaram o processo migratório rumo ao sonhado “Eldorado” brasileiro. Mato Grosso não ficou de fora desta rota em busca de uma nova vida, carregada de expectativa e projetos para se realizarem aqui. Felizmente, nesse período estavam iniciando-se as construções e reformas pré-Copa do Mundo, que se realizaria em 2014.
A entrada dos haitianos nos 4 anos seguintes à tragédia no país caribenho foi bastante intensa. A grande maioria entrava no país de forma clandestina, regularizando-se assim que cruzavam a fronteira e iam de encontro ao posto da Polícia Federal no norte do País, mais especificamente nos Estados do Amazonas e Acre. Além das malas com seus poucos pertences e os documentos, traziam consigo os inúmeros sonhos, dentre eles o de um bom emprego para ajudar a família que ficou no Haiti. Após a emissão do Protocolo de refúgio, continuavam sua caminhada dividindo-se entre os diversos estados e regiões do nosso país, quando não de forma espontânea, guiados pelas empresas que os recrutavam nos abrigos em que eles ficavam alojados até que se regularizassem.
Como já dito anteriormente, nesse período de grande fluxo migratório havia muitas empresas contratando, principalmente aquelas que atuavam no ramo da construção civil voltadas para a Copa do Mundo. Havia algumas que contratavam de uma só vez dezenas de imigrantes haitianos. Fui voluntário no Centro de Pastoral para Migrantes em Cuiabá entre novembro de 2013 a março de 2014, sendo depois contratado, ali permanecendo até setembro do mesmo ano. Nesse período em que lá estive recebíamos a visita de várias empresas, as mais freqüentes eram empreiteiras e frigoríficos. Era emocionante ver o brilho nos olhos dos haitianos que conseguiam uma vaga, deixavam a pastoral com um sorriso largo no rosto por terem sido contratados e por estarem mais perto da realização do seu sonho.
Em 2015 a situação dos haitianos em nossa cidade já se apresentava de outra forma, tornara-se assustador o número daqueles que se diziam desempregados. Muitos perderam a vaga que tinham nas empresas que trabalhavam e outros, principalmente os que haviam recém chegado, reclamavam que se cansara de bater na porta das companhias e não conseguir emprego. Era comum ver haitianos com 6 meses ou mais sem trabalhar, fato este que ainda permanece até hoje, sendo as maiores vítimas as mulheres. Por conseqüência deste triste quadro a saída para eles não foi outra, se não a de deixar o Brasil e seguir rumo a um outro país com melhores oportunidades.
A partir do segundo semestre de 2015 até hoje mais de mil haitianos deixaram Cuiabá e seguiram, principalmente, rumo aos EUA. Praticamente toda semana um grupo de haitianos deixa a cidade, movimento este que se repete por todo o solo brasileiro. Ouço notícias de haitianos partindo do sudeste, do norte e do sul do país; com a ajuda de coiotes, dentre eles até mesmo brasileiros, saem do Brasil cruzando as fronteiras, reproduzindo um movimento semelhante ao que fizeram para aqui chegarem. Assim, o “Eldorado” brasileiro é deixado de lado, e o “american dream” é adotado por estes imigrantes destemidos.