Alguns intérpretes da Bíblia consideram o trabalho uma maldição que caiu sobre o
homem como consequência da desobediência ao criador. Penso que estes, ao
relacionarem trabalho com castigo, tenham se baseado tão somente no esforço
desacompanhado da esperança, que caracteriza os trabalhos repetitivos sem objetivos ou
finalidades.
No mundo da mitologia grega, Sísifo é o exemplo clássico dessa maldição. Punido pelos
deuses porque teria roubado o fogo divino e distribuído aos homens, segundo alguns, ou
aprisionado a “morte” que foi mandada para dar-lhe o devido corretivo, segundo
outros, condenado a empurrar uma pedra morro acima por toda a eternidade. O detalhe é
que a dita pedra rolava montanha abaixo toda vez que atingia o cume.
Chamamos hoje de “Trabalho de Sísifo” as tarefas que envolvem esforço inútil, sem
horizonte e sem recompensa.
Mesmo nesses tempos de Inteligência Artificial que nos livra de muitas obrigações,
temos muitos seguidores de Sísifo nas empresas modernas, impondo a si mesmos
cansativas obrigações diárias desnecessárias, ocupando o tempo que poderia ser usado
para um fim mais proveitoso ou para o lazer.
Lembro-me do caso de um gerente cuja obsessão era “bater o caixa”. Muitas vezes,
gastava horas na busca de ínfimas diferenças, algumas de 1 ou 2 centavos. Para ele, a
exatidão do caixa era mais importante que o funcionamento geral da empresa. Não se
despreza aqui a necessidade da perfeição da contabilidade, mas questiona-se se cabe a
um gerente que tem tantas e tão importantes atividades urgentes para o
desenvolvimento do negócio, preocupar-se com este detalhe.
Outro, este agora dono de um hotel, tinha fixação por economia. Sua realização era
ajuntar coisas que podiam ainda ter algum proveito. Nessa tarefa, buscava sobras de
sabonete que poderiam ainda ser usados, restos de rolos de papel higiênico e muitas
outras miudezas cujos custos de recuperação eram muito superiores ao próprio valor.
Mas o fato é que o Sísifo hoteleiro se deleitava nessa tarefa, exibindo orgulhoso o material
salvo no final do dia.
Esses Sísifos certamente nunca se perguntaram quanto custava, em termos de tempo
precioso dos administradores, a busca do centavo escondido ou do pedaço de sabonete
que estava indo para o lixo.
São também imitadores de Sísifo os que não utilizam ferramentas adequadas ou de alta
tecnologia nas lides diárias. Vale tanto para o carpinteiro que, recusando-se a usar
ferramentas modernas, esforça-se o dobro para cortar uma tábua, como para o
empresário que dispensa o computador porque não tem tempo ou vontade para aprender
a usá-lo.
Excessos de controles burocráticos também representam uma enorme perda de tempo.
Há controles cujas perdas por não serem realizados são muito menores que os custos de
sua manutenção.
O trabalho feito sem objetivo não é apenas inócuo, ele é prejudicial porque ocupa
pessoas, equipamentos e recursos que deveriam ser aproveitados em algo produtivo.
Antes de rolar a pedra, pergunte-se se é necessário fazê-lo. Não sendo, ocupe seu tempo
atraindo clientes, melhorando processos, gerando negócios. Estes sim, procedimentos
básicos para o sucesso da empre.
Renato de Paiva Pereira.
Foto Capa: Reprodução/Divulgação