Nem ele, o extraterrestre, aguentava mais. Não tinha tanta resistência quanto os humanos. “Não era casca grossa”, lhe dissera a cronista enclausurada, dando risada de si mesmo e considerando a hipotética possibilidade de que ela também não o fosse. Caso contrário, que raios estaria fazendo ali, do outro lado do túnel, pela terceira semana seguida?
Pelo sim, pelo não, sugeriu a Pluct Plact que tentasse se reequilibrar dando um tempo numa praia, que não necessariamente precisava ser a dela, a Ponta do Leme.
Não resistiu a Copacabana, hipnotizado – como todos os turistas do mundo, pelo zig-zag das ondas de pedras portuguesas, da famosa calçada da orla carioca.
Até tentou chegar ao Arpoador, mas notou que o sol teria baixado antes que ele conseguisse transpor com mais um micro-pulo, a ponta do Forte de Copacabana e a praia do Diabo. Ainda não era verão.
Preferiu ficar por ali e olhar o mar, sentir o ar batendo em sua pele de alienígena pouco cascudo (como já sabia) e pensar…
Pensar no que estava acontecendo na floresta, de onde a anta vestiu o tênis e resolveu ir pagar mico diante dos representantes de toda a fauna mundial, na Assembleia Geral.
Ali deixou claro após um blablablá eleitoreiro capiau que não assinaria o tratado climático proposto. Afinal, depois de termos até ter tido um Embaixador Extraordinário de Mudanças Climáticas – chamado Serra, que não era o José, mas o Sérgio (nos tempos do crustáceo), agora, não havia mais intermediários. Ela queria dialogar com todos os elementos da flora, fauna e também os minerais.
A anta andava com a corda toda! Definiu, imaginem, que o papel dos jornalistas não é investigar. Também querendo piar no quintal, quer dizer, fechar o bico da profissão alheia!
Justamente quando vazou os nomes de umas espécies coleguinhas e parceiras na delação premiada de um dos lava-jatos recolhidos ao xilindró. Para ficar mais tranquilo, o dono dos dólares também está disposto a abrir o bico e cantar outras novidades sobre quem-levou-quanto-de-onde-para-onde, como e porquê. Considerando que só se ganha o benefício do dedurismo se as informações forem deveras interessantes e definitivamente comprovadas, calcule (por baixo, por favor) o que vem por aí a jato em plena falta d’água…
Tudo isso coisa velha, que pode ser ainda mais apimentada nas edições de final de semana das revistas nacionais. Ora, veja, que época para exame… Mas o que tirou nosso ET do sério não foi nada disso que, afinal de contas, não é a sua praia espacial.
Triste e desolado ficou quando a dita anta disse que irá nos próximos dois anos “preparar uma geração olímpica”. Sem que quase ninguém se revoltasse ou pedisse o segredo guardado no coração mais profundo da floresta que permitirá conseguir a proeza que todas as nações do mundo querem descobrir: como fazer em duas temporadas esportivas (começando das categorias de base, nas escolas), o que não foi feito nos "troçantaslulas" anos, desde que fomos escolhidos sede olímpica. Período onde poucos esportes fizeram algo por uns quantos atletas, enquanto a maioria ficou na transposição da vala do esquecimento e do abandono.
Foi aí que viu os sinais: raios na areia! Poderia usá-los para tentar mais uma vez sua impulsão sideral. Não partiu. No seu exílio terreno, viu coisas que até Deus duvida! Mas aprendeu a nunca deixar um parceiro para trás. Não seria ele que abandonaria a cronista enluada no escuro. Quem sabe numa próxima oportunidade…
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Fábulas Fabulosas”, do SEM FIM… delcueto.wordpress.com