Texto e foto do ensaio MOSAICO de Valéria del Cueto
Querida cronista. Embalado por um funk que manda “…todo mundo tomar no C’, filho da…” estou te passagem por uma ponta pra poder dar um alô e “firmar” que ainda ando nas quebradas tentando “dichavar” esse bagulho doido (e malhado, diga-se de passagem) de acontecimentos que rolam por aqui.
Tá me estranhando? E com razão, melhor amiga. Faz parte do processo de assimilação e osmose que desenvolvemos para adequar-nos melhor ao habitat visitado em nossas viagens interplanetárias. Entendeu bem. Ando muito cria, cheio de irmãos.
É claro que poderia escolher outras tribos para camaleonicamente me camuflar. Mas, como você, minha cronista voluntariamente exilada do outro lado do túnel, me receberia pelos raios da lua que passam pela fresta da janela de sua cela se, por exemplo, seu extraterrestre camarada se disfarçasse de parlamentar?
Acho que travestido de quem aceita um faz-me rir das emendas parlamentares para aprovar projetos por vezes inconstitucionais e sempre prejudiciais à população brasileira, agredindo colegas no plenário que denuncia a manobra, derramando lágrimas de crocodilo e jurando inocência por crimes eleitorais cometidos (comprovados e julgados por unanimidade, tal a consistência das provas), não seria bem recebido em seu isolamento.
Minha nega, deixa eu te contar. Outra possibilidade seria assumir a falsa moral da dinastia que acha que governa seu amado país.
Agir como quem interfere na política de preços de empresa estatal de economia mista, “tira do ar” campanhas publicitárias de instituições financeiras, manda os homens lavarem suas partes íntimas(!), anda de moto com chapéu de capacete, descumprindo a legislação de trânsito e num pronunciamento de um minuto e vinte segundos expõe sua incapacidade explícita de ler no teleprompter.
Não, meu dengo, não posso assimilar a persona de quem acredita que as milícias cariocas merecem aplausos e louvores, surrupia o acesso alheio do pai às redes sociais (aprendeu o truque com quem?). Claro, sendo massa de manobra contra a própria mãe numa eleição, aos 17 minutos do primeiro tempo, é fácil entender a existência de funcionários que nunca receberam seus salários, por exemplo.
Cronista, abriram a caixa de Pandora e, a cada dia, o cerco se aperta mais. Num avanço proporcional a entrada de armas de grosso calibre no país noticiadas na imprensa.
O processo de dizimação da população “inútil” se desenvolve embaixo do nariz das próprias vítimas. O emprego encolhe. A “abertura” ao exterior tende a ajudar a enfraquecer ainda mais as representantes nacionais que resistem bravamente. A deterioração da saúde passa a ser uma porta aberta para a aceleração da “limpeza”. A incompetência da segurança pública ajuda a dizimar a população mais pobre.
O que salva, por enquanto, é a sanha. A vaidade e a ambição. Desmedidas. Aliadas a falta de conhecimento e conteúdo. É um tal de diz e desdiz. Em vez de cuidar das questões nacionais e das reais dificuldades do povo a ordem é a volta da Solange. Lembra dela, aquela que era chefe da censura? Mesmo sem ter poder para tanto, a ordem é dada! Depois… desdada por que deu ruim. É a lei!
Não quero, nem mereço, esse tipo de simbiose. Já dói demais ver de perto a manipulação contra os índios, a irresponsabilidade com o meio ambiente. “Não falem garimpo, digam MINERAÇÃO, recomenda o ministro baba ovo” com a câmera já gravando o encontro das impossibilidades para enganar trouxas.
Querida, guarde a imagem da lua que nos ilumina, lembre do apelo de Gil em Lunik 9, “Poetas seresteiros, namorados correi…”. E… corra! Corra para o que preserva sua sanidade. Esteja onde estiver.
Por aqui, sigo registrando, anotando e assimilando (por enquanto o que escolho) do que acontece nesse mundo doido. De onde não consigo sair por incapacidade propulsora da nave que piloto. Aliás, com as novas medidas implementadas por aqui, acho que o buraco de ozônio que me separa da Via Láctea, só tende a se ampliar…
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Fábulas Fabulosas”, do SEM FIM… delcueto.wordpress.com