O quão fundamental é o serviço em que uma entidade filantrópica presta à sociedade? Seja para deficientes físicos, mentais, crianças, idosos e pessoas com problemas de saúde, o serviço vem atender o que o Estado – tanto em âmbito Estadual, Federal ou Municipal – não consegue suprir.
Uma dessas instituições é a Casa da Mãe Joana, a única instituição que apoia portadores do vírus HIV em Mato Grosso. A entidade atende 22 pacientes que moram na Casa e cerca de 65 pessoas que são atendidas fora dela. “Tem pessoas muito debilitadas que levamos ao médico, pegamos medicamento, marcamos exames, analisamos os resultados”, conta o coordenador da Casa da Mãe Joana há 30 anos, Paulo Rodrigues.
O Estado de Mato Grosso colabora com o aluguel do imóvel e ainda há isenção de energia e água na Casa. Contudo, o maior montante, que são despesas com funcionários, alimentação, higiene e transporte são sanados por apoiadores.
“A nossa maior dificuldade é com o pagamento de funcionários. As doações vêm todas da iniciativa privada. As pessoas que ajudamos muitas vezes almoçam e jantam aqui na Casa. A gente tem um consumo muito grande gás, por exemplo. Nós trabalhamos no vermelho”, revela o coordenador.
A ausência de uma pré-escola no bairro periférico de Cuiabá, Jardim Passaredo, fez com que voluntários idealizassem a Creche Filantrópica Boa Vontade. Há 16 anos a creche atende não só crianças em idade pré-escolar, mas também a adolescente no período em que estão fora das salas de aula, com aulas de música e reforço escolar.
“Este é um bairro de risco, e nós vivenciamos situações com pré-adolescentes e crianças ainda em desenvolvimento, que ficam apenas um período na escola e não têm continuidade na educação. Essas crianças, que muitas vezes poderiam ter um bom desenvolvimento escolar, perdem o foco, porque ficam sozinhas em casa”, revela a diretora da Creche, Enilda Conceição Almeida Torres.
Para o sociólogo Naldson Ramos, a assistência filantrópica oferece um serviço que é responsabilidade do Estado, mas não que supre a carência total da população. “A filantropia é importante, mas a sociedade deve cobrar cada vez mais do Estado que faça o seu papel social. O estado é falho e omisso em várias áreas e setores. É exatamente nesse momento que abre espaço para atuação das entidades filantrópicas. E algumas ajudas são sérias, coerentes, e fazem um trabalho de utilidade pública”, ressalta.
Casa de Idosos
A matéria, que foi capa da edição 603 do Jornal Circuito Mato Grosso, “Dois idosos agredidos por dia em Cuiabá”, relatou a história de duas casas filantrópicas que dependem de auxilio da população e ajuda do governo.
No Estado, por exemplo, das 47 instituições filantrópicas que ele apoia, 24 são lares de idosos. O Lar dos Idosos São Vicente de Paulo, recebe apoio somente da prefeitura de Várzea Grande, e abriga atualmente 62 idosos. O perfil da entidade é para idosos que não têm família, mas 90% dos abrigados foram retirados do seio familiar por maus tratos, abandono ou liminar judicial.
O Lar é aberto ao público todos os dias, das 8h às 11h e das 15h às 17h. Contudo, devido à dificuldade de localização, as visitas públicas e até doações se tornam raras. “Tem idoso aqui que há mais de 10 anos não vê os filhos. Então as pessoas que quiserem vir até o lar, para eles são maravilhosas”, afirma a funcionária do local, Renata de Amorim. Segundo Renata, apenas 10% dos moradores do lar são visitados por parentes.
Outra instituição que recebe idosos é a Fundação Abrigo Bom Jesus, em Cuiabá. A instituição já viveu graves problemas financeiros, a exemplo de 2014.
“Hoje, financeiramente, o abrigo não tem dinheiro sobrando, mas está equilibrado. Tem dinheiro para pagar funcionário? Tem. Tem dinheiro para trocar piso? Não tem. Tem dinheiro para comprar comida? Tem. O dinheiro é supercontrolado e tudo feito com planejamento”, conta Cleide Miranda, que trabalha e mora no abrigo desde 1979, há 36 anos.
Crise afeta Assistência Social
Com a deficiência financeira para serviços básicos à sociedade, o Estado destina recursos financeiros para instituições. Para o secretário adjunto da Secretaria Municipal de Assistência Social e Desenvolvimento Humano (SMADH), Cesar Vidotto, se não fossem as entidades filantrópicas, pastorais e voluntários a situação social do País estaria pior.
Em uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mato Grosso, nos meses de abril e junho de 2016, registrou que a taxa de desemprego atingiu 9,8% no Estado, o que corresponde a cerca de 164 mil pessoas.
A crise financeira pela qual o Brasil passa gera mais usuários para os programas sociais. “Um pai de família, se tiver emprego fixo, quando desempregado ainda consegue se sustentar por alguns meses com FGTS e seguro desemprego. Mas depois de um tempo, se não conseguir ser empregado novamente, passa a ser usuário da assistência social”, afirma Vidotto.
O secretário adjunto analisa que os problemas de uma sociedade acabam se encontrando com a Assistência Social, como a questão da segurança.
“Quando falamos em segurança, pensamos no imediato. Em sistema prisional, em detenção de acusados. Mas precisamos olhar que lá atrás o problema foi gerado pela falta de cultura, de educação e principalmente de fortalecimento dos vínculos familiares. Então, é na família que é embrião de tudo. É dali que saem as crianças mal-direcionadas, que se tornam jovens delinquentes e, futuramente, delinquentes maiores”, analisa.
“Estamos fazendo milagre aqui”
O Estado de Mato Grosso apoia 47 Organizações Não Governamentais (ONG) com diversas finalidades, como idosos, crianças, pessoas com deficiências etc. Já o município de Cuiabá apoia 52 entidades filantrópicas que estão cadastradas na rede.
Para fazer garantir a fatia do orçamento público, as instituições devem apresentar um projeto ao Conselho de Assistência Social Estadual, Municipal ou Federal referente ao uso do serviço que será prestado. E, assim que aprovado, o Conselho referente à ajuda fica responsável por fiscalizar o serviço prestado.
“As entidades que não são sérias, sucumbem. Elas apresentam um projeto, não conseguem cumprir e nunca mais conseguem angariar nada. As que são sérias, e nós conhecemos várias delas, permanecem no mercado e são muito importantes para promover esse tipo de trabalho à população”, revela o secretário adjunto de Assistência Social, Cesar Vidotto.
Vidotto revela que a Secretaria de Assistência Social de Cuiabá está com repasses federais em atraso – na ordem de R$1,5 milhão. “Infelizmente a conta não fecha quando a economia está ruim. A assistência social precisaria de mais recurso para a sua atuação. E ocorre justamente ao contrário”, aponta.
Ainda segundo o gestor, a Assistência Social Municipal é custeada pela fonte 100 (Fonte do Tesouro Municipal). “Estamos fazendo milagre aqui. Do jeito que está hoje é muito complicado a gente manter todos os serviços. Daqui para o fim do ano, pode ser que lancemos mão de encerrar ou paralisar algum tipo de atendimento”, declara.
VOCÊ PODE CONTRIBUIR
Os interessados em ajudar a Casa da Mãe Joana devem entrar em contato com Paulo Rodrigues pelo telefone (65) 3644-3343.
À Creche Boa Vontade, encaminhar dinheiro para o Banco do Brasil, Agência 8687-8 Conta Corrente 34650-0. Para mais informação 3667-7370/ 92039516.
O Lar dos Idosos São Vicente de Paulo, em Várzea Grande, aceita visitas e fica na Rua C, S/N, Quadra 10, Bairro Parque do Lago – Várzea Grande (MT). Telefone para contato (65) 3682-0446 / 3688-3161
Para ajudar a Fundação Abrigo Bom Jesus, deve-se ligar para (65) 3322 9021/3644 1706. A instituição fica na Av. Dom Aquino, 10, Bairro Dom Aquino – Cuiabá/MT.