Opinião

O Papagaio de Humboldt

O Goeth-Institut apresenta na cidade do Rio de Janeiro a mostra “O Papagaio de Humboldt”, composta por 15 instalações sonoras que reproduzem parte dos trabalhos de artistas e antropólogos da América Latina, todos familiarizados com a linguística indígena.

O naturalista Humboldt explorou diversas partes do mundo. Na América esteve nos Estados Unidos, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Cuba e México. Interessado em realizar expedições no Brasil, foi impedido pelos portugueses por ser considerado um espião alemão. Foi ele, juntamente com Aimé Bonpland, também explorador científico, quem deu o nome de Hiléia à floresta Amazônica.

“O Papagaio de Humboldt” é um papagaio adquirido pelo naturalista dos indígenas do Caribe, na selva do Orinoco, Venezuela. Diz o mito que Humboldt percebeu que a ave não falava a língua dos índios que visitava, mas a língua Maipuré (ou Aituré), então exterminada. O papagaio, portanto, era o único falante vivo da língua.

A exposição é um grito de alerta ao sério problema da extinção de línguas indígenas na América Latina. Em todos os vinte países, com exceção do Uruguai, Cuba, Haiti e República Dominicana, são faladas 600 línguas ameríndias, 10% dos idiomas falados no planeta, sendo que um terço destes está ameaçado de extinção e outro terço está em situação alarmante. No Brasil são faladas mais de 160 línguas. Desde a época da chegada dos portugueses, calcula-se a extinção de 85% das línguas “vivas”. A cada língua que se extingue perde-se um precioso patrimônio linguístico e uma explêndida visão de mundo. 

Ao adentrar a sala da exposição, depois da leitura do painel contendo todas as 700 línguas latino-americanas, indicando o número de falantes de cada uma delas, o visitante segue por um tapete sonoro, a ouvir um murmúrio polifônico. Alto-falantes reproduzem falas de cada uma das 15 línguas selecionadas. Painéis individuais apresentam textos com o conteúdo das falas e o desenvolvimento histórico de cada uma delas.

Vale a pena conhecer o “Papagaio de Humboldt”, ancestral do “Papagaio de Macunaíma”, de Mário de Andrade.

Anna Maria Ribeiro Costa

About Author

Anna é doutora em História, etnógrafa e filatelista e semanalmente escreve a coluna Terra Brasilis no Circuito Mato Grosso.

Você também pode se interessar

Opinião

Dos Pampas ao Chaco

E, assim, retorno  à querência, campeando recuerdos como diz amúsica da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul.
Opinião

Um caminho para o sucesso

Os ambientes de trabalho estão cheios de “puxa-sacos”, que acreditam que quem nos promove na carreira é o dono do