Que falta faz o futebol. Depois dos fracassos da seleção e da draga que são os times brasileiros (se juntar todos não dá um time bom de verdade), o papo preferido dos botequins é política. Até acho que veio tarde essa moda. O foda é que ninguém entende absolutamente nada de política. Pior: não praticam política.
– O senhor viu as chamadas para a passeata na internet? O senhor vai? – pergunta Dona Val, com semblante preocupado.
– Não vi as chamadas, não. O que houve?
– Gente chamando pra ir pra passeata contra Dilma pedindo a intervenção militar. Tão triste isso. Eu mesmo tive um sobrinho comunista que nunca mais apareceu. Eu não vou mais. O país tá ruim, mas já teve muito pior.
Inegável a falta de conhecimento da atual geração tupiniquim. Inegável o crescimento dos sentimentos antissemitas. Eu mesmo recebi uma mensagem por Whatsapp em que um coronel dos bombeiros pedia para colocar um muro separando Sul, Sudeste e Centro-Oeste do restante do país. Perguntei se era uma brincadeira. Mas tá até parecendo brincadeira. As discussões dessa virada de mês são as mais bizarras possíveis. Enquanto uns discutem se a Dilma cai ou não cai, se o Aécio cheira ou não cheira, Bolsonaro vai ou não vai ser presidente, devemos ou não amarrar bandidos no poste.
– Lá no CPA um marido traído amarrou a esposa num poste e tacou fogo. Como ele é polícia bandido, nem no jornal saiu – acrescenta Micos, o nosso motoboy.
Realmente desesperador. A violência, os insultos, a capacidade humana. O facebook é uma verdadeira atrocidade aos direitos humanos. Há 10 anos, eu não pensava que isto seria possível. Ou que chegaríamos a tal nível.
– O problema, seu João, é que esta internet deu voz a idiotas que durante milhares de anos não tinham voz. E agora sabemos por que – dispara Dona Val, minha secretária sexagenária, criada e vivente aqui da Praça da Mandioca.
Sabedoria milenar de Dona Val. Que voltem logo os papos superficiais do futebol.