Política

O naufrago da campanha nas redes sociais em Mato Grosso e o limite de gastos

Alguns candidatos ao governo nas eleições 2018, em Mato Grosso, deram início as suas campanhas a partir de redes sociais. O primeiro a lançar mão do recurso foi Pedro Taques (PSDB), que fez uma transmissão ao vivo, contando a virada do relógio para o dia 16 de agosto, para dar início ao pedido de votos. Mauro Mendes (DEM) também fez seu primeiro contato de campanha com o público via posts. Parecia o canal para alavancar a propaganda nas primeiras eleições gerais em que vigorou um teto de gastos reduzido a 20%, em média, do que foi declarado nas prestações de conta de 2014. 

Mas, não vingou. Paralelamente ao cenário provável de intensificação do uso das redes sociais, as fake news (notícias falsas) colocaram ruído na comunicação com os eleitores, os candidatos não souberam aproveitar. O mal-uso da internet pode ser verificado pela divergência entre o número de seguidores dos três mais bem colocados candidatos ao governo – inclui-se Wellington Fagundes (PR) – e a posição deles nas pesquisas de intenção de voto. 

Pedro Taques, na disputa à reeleição, é o primeiro neste quesito. Ele chegou ao fim da campanha com 164 mil seguidores no Facebook e 32,9 mil no Instagram, as duas redes mais populares atualmente. Mas, seu desempenho nas pesquisas de institutos registradas no TRE-MT (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso) não ultrapassou o segundo lugar e até caiu para a terceira posição com empate técnico com Wellington Fagundes. 

Líder nas pesquisas, Mauro Mendes tem popularidade bem abaixo seu adversário tucano, com 22 mil seguidores, número quase 7,5 vezes abaixo do de Taques. No Instagram, a diferença entre os dois também é expressiva. O democrata tem 10,3 mil seguidores.  

O naufrago da campanha nas redes sociais é corroborada novamente pelo republicano Wellington Fagundes, que iniciou sua campanha no terceiro lugar distante do segundo colocado, nas pesquisas, e pulou para o segundo, com possibilidade de segundo turno, considerando os números divulgados. Atualmente, ele possui 21 mil seguidores no Facebook e a pouca expressiva quantidade de 4,7 mil no Instagram. Dos três, ele foi o que menos fez uso das redes. 

O cientista político João Edisom afirma que o uso sem estratégia da internet, associado ao fenômeno fake news, fez as redes sociais perderam seu valor logo no início da campanha. Ele avalia que a credibilidade da ferramenta ficou perto de zero na comunicação com eleitor, que só viu ataques entre candidatos. 

“A internet deixou de ser informação. Ela passou, na questão da política, a uma rede de acusações. Então, ela perdeu a credibilidade muito cedo. É difícil dizer o que é verdade, o que é mentira, e as pessoas passaram a ver tudo como inválido. Não é verdade e nem mentira, é inválido”. 

Ele comenta que parte da invalidez do que é publicado nas redes sociais deve-se à falta de filtro das informações. Hoje, elas são disseminadas tanto por militantes, que podem, eventualmente, forçar a defesa de seu candidato e ridicularizar os oponentes. 

“A comunicação é algo muito sério. Quem faz jornalismo estuda quatro anos, estuda ética, faz laboratório, vai para as redações. Com a popularização da ferramenta da informação da internet, qualquer idiota que tem dedos coloca notícia no ar”. 

O analista Onofre Ribeiro diz que a oportunidade de manifestação pelas redes não se concretizou nem mesmo para ampliar as propagandas em horário gratuito e em debates em rádio e TV. Os ataques corridos pelos canais tradicionais se repetiram no mundo virtual. 

“O horário eleitoral gratuito não modificou o interesse do eleitor. O que estava decidido ficou. Os candidatos ficaram batendo boca, não apresentavam proposta. Nas redes sociais, que são uma linguagem nova, não foram aproveitadas. Eles ficaram nos ataques, nos memes, nos fakes. É uma linguagem nova, mal compreendida, que não souberam usar, e as propagandas tradicionais não funcionam mais”. 

As fakes news atingiram quase todos candidatos ao governo, geralmente sendo associadas a adversários políticos ou a cabos eleitorais. Em algumas situações, houve atribuição de notícias falsas até mesmo aos próprios candidatos atingidos por elas.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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