As palavras em qualquer língua vão com o tempo adquirindo significados diferentes, às
vezes até antagônicos. “Bizarro” tanto pode ser gentil e nobre, como esquisito e
extravagante. O mesmo adjetivo pode ser ofensivo ou elogioso, depende do contexto.
O dicionário diz que malicioso é quem tem malícia, mas o filósofo Matias Aires ensina
que quem tem malícia descobre o mal para evitá-lo e o malicioso o antevê para
exercê-lo. O indivíduo malicioso é um mau-caráter e o que tem malícia é virtuoso e
esperto.
Machista é ofensivo. Feminista elogioso. O primeiro, conforme o entendimento das
mulheres, refere-se aos homens que as oprimem. O segundo diz respeito às
mulheres, conforme elas mesmas, que se defendem da opressão. Por muitos anos, as
feministas mais exaltadas nos xingavam de machistas, acrescentando diversos
adjetivos que reforçavam o primeiro.
Os tempos mudaram. As mulheres foram além do que imaginaram, assumindo
posições, responsabilidades e obrigações que não estavam presentes nas primeiras
reivindicações de igualdade. Parece que hoje elas não gostam mais do termo feminista
e não têm nenhuma razão para chamar os homens (a maioria deles) de machistas.
Com o fim dessa geração de “machistas” e a ascensão social e econômica das
“feministas”, está na hora de devolvermos aos termos os significados lógicos:
feministas serão as que defendem as fêmeas, e machistas, os machos, sem distinção
ou hierarquia entre eles.
Isto vai demorar algum tempo e nós, os “machos” deveremos gastar o latim para
popularizar essas palavras até que se dispam completamente das conotações de bom
e mau que hoje carregam.
Claro que quando conseguirmos essa revolução semântica estaremos (ou já estamos)
todos dominados, porque a vida mostra que elas têm um enorme poder de
recuperação. Foram criadas para serem “ajudadoras do homem”, como ensina a Bíblia,
mas não se conformaram com esse segundo lugar. Em uma fantástica corrida de
recuperação, pois largaram muito atrás, demoraram um tempão para alcançar os
homens. Daí para tomar a dianteira foi um passeio.
Aqui entra o meu plano para escaparmos da opressão. Vamos transformar o termo
“feminista” em um xingamento, como elas fizeram conosco usando o “machista”. Cada
um deve assumir o compromisso de xingar de “feminista” a companheira toda vez
que ela abusar da dominação.
Assim, quando, tomando uma cervejinha no sofá, ela mandá-lo ao mercado comprar
um tira-gosto, não desobedeça, mas fale entre dentes “sua feminista”. Se, lá do
computador, ela gritar: trocou a fralda do neném? Não se intimide e retruque com
firmeza: “opressora, feminista”. Pode varrer a casa e lavar a louça, mas não o faça sem
protesto: “feminista, chauvinista, marvada ”(sic).
Podem ter certeza que vai dar certo, só precisa de coragem. Coisa que certamente
sobra em vocês, meus caros leitores. Eu como sei que “brincadeira de macaco é perto
do pau” vou esperar um pouco até os mais destemidos experimentarem. Se eles
sobreviverem eu arrisco.
Enquanto isso, vou fazendo as tarefas domésticas e comprando o tira-gosto preferido
dela, sem reclamação.
Renato de Paiva Pereira
O medo de ser machista.
