Opinião

O Lula e o dólar

Por Renato de Paiva Pereira

O Lula, nos últimos dias, agiu como o ingênuo. Ingênuo é pouco, ele passou mesmo
por infantil ao desconhecer que suas declarações impróprias trariam grande pânico na
cotação do dólar.
Invocando suas simplórias teorias conspiratórias, declarou diversas vezes que o
“mercado” teria feito um complô para derrubar o Real. Ora vejam, depois de mais de
50 anos de vida pública (líder sindical, deputado federal, presidente de partido,
presidente da República) parece que o nosso líder não entendeu ainda o que é
mercado. Ele devia saber que “mercado” nada mais é que o conjunto das ações de
compra e venda de papéis (ações, títulos) de mercadorias ou de serviços. E que a
especulação sempre está presente nas interações entre os participantes do jogo.
A intenção do Presidente é criar um motivo para explicar coisas que não estão dando
certo, como alta taxa de juros, por exemplo, convencendo seus eleitores de que a
culpa é do Banco Central e de seu presidente Roberto Campos Neto. Mas a artimanha
pode dar errado, como sugere a alta do dólar que chegou a R$ 5,70.
Pessoas desinformadas não se ligam na cotação das moedas e se o fazem alegam que
isto não tem importância porque eles não “comem dólar”. Mas é um engano, ele
influencia no preço de coisas que as pessoas usam no dia a dia, entre elas a
alimentação diária.
O que preocupa é que o Lula precisou que alguns ministros o alertassem sobre o risco
de manter a política de gastos inalterada e da inconveniência de desancar verbalmente
o BC nas abundantes entrevistas que têm dado. Convencido das trapalhadas que vinha
fazendo, retrocedeu e concordou em reduzir as despesas – expediente que negava há
alguns dias.
Também prometeu manter as metes do arcabouço fiscal, confirmando o compromisso
com o déficit zero neste ano e com a projeção de inflação em 3%.
Como consequência, o dólar, que já tinha perdido mais de 15% do seu valor neste
semestre, iniciou um movimento de acomodação. Claro que não sabemos se esta
tendência vai se manter porque o mercado de moedas é muito sofisticado, mas pelo
menos houve uma interrupção da alta desenfreada.
“Antes tarde do que nunca” diz o ditado popular. Mas este “tarde” pode gerar
problemas e sugerir uma decadência cognitiva do Presidente. Neste momento que se
discute mundialmente a possível incompetência do Presidente americano por conta da
idade avançada, não custa lembrar que o Lula está na mesma faixa etária do Biden e
do Trump e que, tal qual os outros dois, se diz candidato na próxima eleição.
E essa intenção do Lula foi o que o motivou a amenizar seu discurso. Ele foi convencido
de que suas falas iradas tem o poder de estimular o mercado especulativo e que
poderia repercutir na inflação, esta, sim, a maior inimiga de uma futura candidatura do
Presidente em 2026.

A aceitação pelo Lula do poder real do mercado, pelo menos por enquanto, estanca a
escalada do dólar e antevendo melhoras, possivelmente, suavize seu recorrente tom
colérico e amenize a expressão raivosa nas aparições na TV.

Foto: Seu dinheiro/Shutterstock

Renato Paiva

About Author

Você também pode se interessar

Opinião

Dos Pampas ao Chaco

E, assim, retorno  à querência, campeando recuerdos como diz amúsica da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul.
Opinião

Um caminho para o sucesso

Os ambientes de trabalho estão cheios de “puxa-sacos”, que acreditam que quem nos promove na carreira é o dono do