O atleta do Vôlei e da Seleção Brasileira Maurício de Souza está passando por um linchamento moral, que me parece totalmente desproporcional ao suposto delito. Não se discute que ele tenha errado ao comentar a revista em quadrinhos que apresenta o super-herói, filho do Clark Kent – o Super-Homem original – como bissexual.
Mas exageraram ao taxarem-no de homofóbico. Basta um conhecimento básico de etimologia para entender que esta adjetivação não lhe cabe: fobia como elemento de composição de uma palavra sugere medo mórbido, aversão, hostilidade e ódio o que, nem de longe estavam presentes na postagem do atleta.
Aliás a ira descontrolada mostrada nas redes sociais, imputando grave intolerância ao atleta, diz muito mais da intransigência dos que o acusam.
Intolerância sexual foi o pecado que lhe impingiram. Neste caso, os intolerantes tomando para si o direito de julgar, ajudados e estimulados pelos jornais, revistas e TVs fizeram tão grande escarcéu, que o time a que pertencia o jogador achou melhor e mais lucrativo eliminar o atleta, ainda que injustamente, a contrariar os poderosos jornalistas e fanáticos internautas.
O remédio necessário e suficiente seria repreender o atleta, mas preferiram o veneno que foi bani-lo do time. Claro que erraram a mão, e, como diz o manjado clichê, a diferença entre um e outro (veneno e remédio) está na dose.
Se essa dose cavalar já não fosse suficiente, ainda lhe enfiaram goela abaixo outra tanto da poção diabólica, cooptando a Seleção Brasileira de Vôlei a vedar-lhe o acesso ao time principal.
Nem quando o Goleiro Bruno, condenado por homicídio qualificado, tentou voltar ao futebol depois de cumprir parte da pena, houve uma condenação tão veemente quanto esta que sofre o Maurício.
O Atleta não cometeu nenhum crime, não ofendeu qualquer pessoa ou classe, apenas deu sua opinião sobre a publicação, dizendo que não via com bons olhos aquela divulgação para os consumidores da revista, o que acendeu a ira santa dos incomplacentes algozes.
Sei que a luta para livrar grupos identitários ou minoritários das segregações que realmente sofrem é totalmente válida e precisa ser apoiada por todos nós. Mas o que aborrece é ver estes grupos permeados de pessoas mais intolerantes do que os que eles condenam como tal, distribuindo o ódio que dizem combater.
A conscientização para eliminação das desigualdades e das segregações é um processo novo na sociedade brasileira e toda transformação exige tempo e perseverança para se concretizar. É também um processo educacional continuado que já renderá frutos na geração que hoje está na escola.
Entretanto qualquer um, ou porque nasceu e cresceu em uma sociedade conservadora ou por motivos religiosos, que tenha reservas quanto à homossexualidade deve ter o direito de expressar-se desde que, claro, não ofenda ou desmereça o outro.
Também os homossexuais e a mídia deveriam se abster de chamar de homofóbicos os que têm conceitos diferentes deles, porque a palavra é muito forte para o que pretendem exprimir. Na verdade, na sociedade civilizada, não há ódio dos héteros aos gays, somente trogloditas incivis teimam em discriminá-los.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor
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