1915 coroou a Heitor Villa-Lobos (1857-1959). Há cem anos, o maestro e compositor atingiu a maturidade artística aos 28 anos, quando apresentou suas composições em vários concertos no Rio de Janeiro.
Villa, Villá, Villa-Lobos, como carinhosamente passou a ser chamado. Nunca por Heitor! Para ele, um nome de cachorro! Compôs febrilmente mais de 1.000 obras até pouco antes de sua morte. Homem de hábitos simples, tomava café na esquina das ruas do centro do Rio, jogava bilhar e assistia filmes de bangue-bangue. Camisas com estampas extravagantes ornadas com gravatas mais extravagantes ainda, bengala e casaca caracterizavam sua pessoa, que imprimiu a cédula de 500 Cruzados. Mas eram os charutos – os maiores do mundo – que realmente assinavam sua identidade. Por trás da baforada de fumaça, escondia-se dos indesejados.
Meu pai Danton, que em criança esteve sob regência do mestre, lembra da rigidez com que Villa-Lobos, com semblante sisudo, regia os cantos orfeônicos no Rio de Janeiro. Ainda em vida, a obra do gênio musical foi considerada o avesso do brasileiro, porque rejeitava o ideal europeizante para cultivar com sua batuta a semente da brasilidade, a exemplo de “Uirapuru”, um de seus poemas indianistas sinfônicos. Até hoje é aclamado por ter sido o principal responsável pela descoberta de uma linguagem musical genuinamente brasileira, com obras que expressam nuances das culturas regionais, com elementos populares e indígenas.
O universo indígena brasileiro em Villa deu-lhe, sem dúvida, a consagração como grande representante da musicalidade brasileira. A obra temática indígena recebeu maior atenção do compositor, marcando de modo profundo sua trajetória, especialmente durante 1923 a 1930, anos em que permaneceu na Europa.
O indígena é, indubitavelmente, o personagem estimado do “Índio de Casaca” ou do “L’ indien Blanc”, como também passou a ser chamado por se inspirar na Terra Brasilis, na Pindorama percorrida por léguas para colocar o som dos nativos ao lado do estilo erudito europeu. Villa é o próprio Uirapuru.