Opinião

O Herói, o Bandido e o Mito

Há poucos dias presidentes de 11 partidos políticos, muitos com grande número de deputados e senadores, firmaram acordo para reprovar a PEC que pretende instalar o voto impresso nas eleições de 2022. Eles representam 326 deputados e 55 senadores, números que inviabilizam de vez a emenda do voto impresso.

Essa ideia de imprimir o voto não é novidade nem tão ruim como alguns dizem. O problema é sua inoportunidade, aliada ao gasto de dois bilhões de reais, necessários para evitar uma fraude que não existe. A urna eletrônica funciona no Brasil há 25 anos e, até hoje, não se constatou nenhuma irregularidade.

Mas o Presidente Bolsonaro é um obcecado, quando põe uma ideia na cabeça, por mais absurda que seja, não a esquece. Foi assim com o atentado que sofreu na campanha. Ele encucou que aquilo foi uma armação da esquerda para eliminá-lo, e mesmo com todas as investigações possíveis descartando esta possibilidade, até hoje não se convenceu de que foi um ato isolado de um esquizofrênico. Também encasquetou que a Cloroquina cura a Covid, que a máscara não protege o indivíduo e que a imunidade coletiva deve acontecer pelo contágio, não pela vacina.

Eu diria, mas isto é só um palpite, que no fundo o Presidente está satisfeito com essa união dos partidos contra a PEC da impressão dos votos. Como já indicou muitas vezes, na verdade ele busca apenas um pretexto para questionar as próximas eleições, como o Trump fez nos Estados Unidos no ano passado. Sem o voto impresso ele continuaria com o discurso de fraude eleitoral, para contestar eventual resultado negativo.

Nosso futuro político parece estar cada vez mais dependente do Exército, se ele bandear para o lado do Bolsonaro para salvar o Brasil do “comunismo” e o Lula ganhar a eleição, é muito provável que não tome posse. Neste cenário teríamos três alternativas: uma – ruim –  o Bolsonaro se reelege; outra – péssima – o Lula ganha a eleição e toma posse; e a terceira – catastrófica – o Lula ganha, mas não toma posse.

Uma nova força política para nos livrar deste trilema, pelo menos por enquanto, parece distante. Os possíveis candidatos (Ciro Gomes, Tasso Jereissati, Dória e Mandetta), com índice de intenção de votos variando de dois a nove por cento, parecem sem condições de passarem para o segundo turno.

Em 2017, quando o Bolsonaro se elegeu, uma grande parte da população afirmava que o Lula era bandido, enquanto ovacionava o “Mito”. Outra parte garantia que o líder do PT foi condenado para não concorrer às eleições. Ainda fora da política naquele momento, o juiz Sérgio Moro era o herói nacional para 70% da população.

Passados quatro anos o ex-presidiário está virando herói; o “Mito” aliou-se aos “bandidos” que combatia para manter-se no cargo, e o “herói” que era a esperança de consertar o Brasil, se bobear, vai ocupar a cela em que o Lula morou em Curitiba.  

Enquanto isso os mais sensatos rezam para que as Forças Armadas fiquem longe da política e esqueçam esta história de defender o País do comunismo.

Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor

renato2p@terra.com.br

Redação

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