Circuito Entrevista

“O governo quer empurrar goela abaixo doutrinas de orientações sexual”

Foto Ahmad Jarrah

O deputado federal, Victorio Galli (PSC), tem posições fortes, não raro polêmicas, sobre assuntos em debate na sociedade. Natural de Rosana em São Paulo, se mudou para Mato Grosso ainda na adolescência, aos 12 anos, e aqui fez sua história na política.

Crítico do movimento LGBT, ele qualificou como “equivocada” a recente decisão de um juiz de Mato Grosso, que autorizou a mudança de nome e gênero de um menino diagnosticado com transtorno de identidade sexual na infância. “Uma coisa é o sujeito maior de idade decidir isso, outra coisa é uma criança”, disse ele. 

Victorio ainda é membro da comissão de educação no Congresso, e foi eleito com 64.691 votos. O deputado é autor do PL 4312/2016, que regulamenta o transporte privado individual de passageiros mediante sistema associativo de cadastro prévio e chamada por aplicativo digital, como o Uber.

Leia entrevista na íntegra

Circuito Mato Grosso: Como foi o início da carreira política do deputado?

Victorio Galli: Formei-me em pedagogia e me tornei professor. Nessa época eu já havia me filiado ao PMDB, quando ainda morava em Mundo Novo, à época o partido era MDB. Quando eu sai do PMDB eu tinha 29 anos de partido, e em 2006, o pessoal da igreja me pediu para entrar na política, e foi quando eu me candidatei e fiquei na Primeira Suplência, com 23 mil votos. 

Assumi duas vezes, uma na vaga do Bezerra em 2007 e em 2009 eu assumi na vaga do Wellington, que hoje é senador. Então, eu sempre agradeço os dois porque me deram espaço e me ajudaram muito na minha formação política, de aprendizado de articulação política em Brasília, e a gente foi. Em 2010 me candidatei de novo e subi para 55 mil votos, fiquei na Suplência e de novo o Bezerra me deu espaço em 2012. Mais uma vez agradeço a nobreza do deputado Bezerra em abrir espaço. 

Combinei com ele, porque surgiu a oportunidade da gente trabalhar justos no PSC, aqui no Estado de Mato Grosso, pra organizar o partido, e ele me liberou pra sair do PMDB e ir pro PSC, e assim nos assumimos o PSC em 2011. Organizamos o partido pra eleição em 2012, fizemos um prefeito, seis vice-prefeito e 33 vereadores. Em 2014, já no PSC, me candidatei de novo a deputado federal, e conseguimos quase 65 mil votos e foi quando tornei titular da cadeira. Esse é o resumo da minha trajetória política.

C.M.T: Antes de você conquistar a primeira suplência, chegou a se candidatar a algum outro cargo ou já saiu como deputado direto?

Galli: Fui direto, por 23 mil votos. Nunca fui nem presidente de bairro.

C.M.T: O Projeto de Lei 4.500/2012 ainda está sendo discutido no congresso?

Galli: O projeto de lei 4.500 é aquele que da direito a pessoa de se manifestar, está em tramitação na CCJ. Inclusive o relator dele é um padre do PT, e ele vai relatar a favor do projeto, pra que haja liberdade de expressão, opinião sexual, tanto para padres, pastores e professores também nas escolas, porque o que o governo quer fazer é empurrar goela abaixo, doutrinas de orientações sexuais, e nós que defendemos a família, entendemos que quem tem obrigação de orientação sexual, não é o Estado, são os pais. E o estado quer tirar o direito dos pais de educar seus filhos nessa questão.

C.M.T: Recentemente você criticou uma campanha publicitária de um apresentador da Rede Globo, o senhor considerou uma campanha publicitária inapropriada ?

Galli: Eu ate admirei! O Luciano Hulk é pai e com uma propaganda publicitária indecente daquela? Eu critiquei e ele entendeu, até pediu desculpas depois em um programa ao vivo. Ele jogou a culpa na assessoria de imprensa, que não vigiou e disse que também não aprovaria aquilo, ficou tudo bem. Tudo aquilo que vem contra a família a gente tem que se posicionar, e depois, eu também o agradeci pela humildade em pedir desculpas, porque de fato era uma propaganda que não serve para criança.

C.M.T: Deputado, uma das bandeiras que o senhor levanta é a da educação. Os alunos mato-grossenses não atingiram uma nota satisfatória em português e matemática no ensino fundamental segundo a Prova Brasil, que proposta o senhor tem para este setor?

Galli: Bem, sobre a questão de educação, o Brasil tem muito a caminhar. Infelizmente, a nossa educação está muito precária. Inclusive, a própria ação do Governo discorda com aquilo que eles colocaram na bandeira, no lugar de “Ordem e Progresso”, colocaram “Pátria Educadora”. Como o Brasil vai ser uma pátria educadora se a presidente Dilma, está cortando dinheiro da educação? Isso é uma situação que não vai resolver o problema da educação do País. Nós temos professores mal remunerados, sem qualificação profissional, eles não têm acesso a qualificação que o governo poderia promover. 

Recentemente, nós aprovamos na câmara o direito do professor comprar livros e o dinheiro ser descontado no imposto de renda, mas infelizmente a Dilma vetou esse projeto. Como ser uma pátria educadora se eles não conseguem qualificar o instrumento número um da educação, que é o professor? Infelizmente ainda temos escolas no ensino fundamental que professores estão dando aula em baixo de árvores, e quando tem quatro paredes é um forno terrível, sem ar condicionado. Mato Grosso também passa por isso, inclusive os indicadores da educação do estado estão precários, nós temos que melhorar muito isso. 

Agora colocaram o Fies e depois cortaram, mudaram as regras do jogo no meio, as pessoas não conseguem atingir a meta nesse sentido. Tudo isso é em função do mau funcionamento do ensino público nos nossos municípios. Temos que melhorar muito isso. Visando esta questão, eu como educador, O Estado de Mato Grosso tem 15 emendas de bancada, cada emenda dessa é 100 milhões, a que pertenceu a mim, coloquei tudo na Unemat. O governador Pedro Taques está com um slogan “Mato Grosso, estado de transformação”, mas eu só acredito em transformação se houver educação, sem educação não há transformação.

C.M.T: Cada emenda são R$ 100 milhões ou todas justas somam este valor?

Galli: Não, cada emenda de bancada são R$ 100 milhões, em Mato Grosso são 15 emendas. Então, ficou uma pra cada parlamentar, nós somos 11, três senadores e oito deputados, e ficou quatro. Essas quatro foram sorteadas, ficou uma quadra. Eu, Fábio Garcia, Bezerra e Leitão, com R$ 25 milhões pra cada um e distribuímos para os munícipios, para que eles possam ter infraestrutura, estruturação de projetos e essa coisa toda.  

Isso ai é uma porta de emenda de bancada que a gente tem que lutar para o governo liberar, evidentemente que a Unemat terá que ter projetos para pleitear no Ministério da Educação, especialmente no FNDE, para que os recursos sejam liberados. 

Entretanto, as minhas emendas individuais são outra situação. As emendas individuais são R$ 15 milhões, só que a Dilma já deu um corte, baixou para R$ 13 milhões, e eu acho que quando abrir o orçamento vai haver mais cortes ainda. Esses méritos individuais são ‘merreca’ que a gente distribui para os municípios. Um pouquinho pra cada um, e eu coloquei R$ 250 mil no Hospital Santa Helena, R$ 400 mil na Santa Casa, R$ 250 mil no Hospital de Câncer. E ainda coloquei R$ 250 mil no Hospital Sara Kubistchek lá em Brasília, que tem muitas especialidades que nós não temos aqui em Mato Grosso. Sempre tem pacientes de Mato Grosso lá em Brasília, então é bom que a gente ajude o hospital em alguma coisa. Também coloquei R$ 250 mil no Hospital de Barretos, que é um hospital especialista em câncer, que tem situações que a gente não pode tratar aqui e a gente pode encaminhar pra lá nessa questão de saúde. Eu acredito quer saúde ainda continua sendo um gargalo no governo Pedro Taques, tem muita coisa que melhorar na saúde ainda.

C.M.T:  Deputado, o senhor acha que o Eduardo Cunha está conduzindo de maneira correta a presidência da Câmara dos Deputados?

Galli: O Eduardo Cunha enquanto presidente é impecável. Nós não temos o que reclamar dele. Em 2015 foi o ano em que a Câmara mais produziu, pode perguntar pra qualquer veterano lá dentro, que eles vão falar. O Eduardo Cunha tirou um projeto interessante para o país que estava na gaveta. Agora, as questões pessoais que o envolve é um caso à parte, tem que ser investigado e todo cidadão tem o direto de se defender, da prerrogativa de inocência. Enquanto isso não for provado, a gente está lá para dar apoio ou então juntos, se a pessoa não conseguir justificar o que ele fez, e o Ministério Público está acusando, a situação vai se agravar cada vez mais. 

Estamos aguardando dentro do direito da prerrogativa de inocência de cada um e o direito dele de se defender. Como no caso da Dilma, que também está nesse sentido, com acusações de todos os lados, a oposição dando tiro de metralhadora pra todo lado e ele se defendendo como pode e infelizmente quem perde com isso é o povo brasileiro.

C.M.T: O senhor criticou recentemente a decisão de um juiz daqui, que autorizou a alteração de gênero de uma criança. Como o deputado avalia essa questão?

Galli: Achei uma decisão equivocada, porque é uma criança de 12 anos de idade. Uma criança assim ainda está em formação, a própria psicologia nos informa que uma criança nessa idade está em formação, ela não tem condições de saber o que quer ainda. Como já aconteceu em uma certa ocasião,  a filha do Toninho Cerezo, jogador de futebol, se arrependeu da mudança de sexo que fez com um ano, ela já tinha mais de 20 anos. 

É uma decisão precoce do juiz. Ele não deveria fazer isso, ele não deveria autorizar que um homem, que não tem como provar que não é, mudasse de nome, ele tem pênis! Já viu mulher de pênis? Não existe isso. Isso foi uma violência contra a natureza, porque a natureza é que se encarrega de fazer isso. Eu não sou homofóbico, respeito a orientação sexual das pessoas , só não admito fazer isso, e transformar em apologia para as crianças.

C.M.T : O senhor ainda é pastor?

Galli: Eu sempre fui pastor, mas nunca dirigi uma igreja. Eu sou um pastor na igreja, e não um pastor da igreja. Eu sempre fui um colaborador do pastor responsável. 

C.M.T: Qual a consideração que o senhor faz sobre a teologia da prosperidade? 

Galli: Eu acho negativa, a pessoa por ser próspero, não é porque ele prega a prosperidade, mas, pelo trabalho que ele faz. Muitas igrejas estão fazendo isso, algumas fazem até campanha para terem dinheiro na conta. Eu sou contra essa situação, a pessoa tem que viver dignamente do seu trabalho. Não importa a profissão, do engraxate ao gerente de banco, todos tem seu valor dentro da sociedade. 

C.M.T: O dinheiro das igrejas, que são provenientes dos fiéis, podem abrir espaço para corrupção dentro doas doutrinas?

Galli: Eu não sei como as outras igrejas funcionam nessa questão de finanças, mas, eu vou falar pela minha igreja. Nós temos dois tipos de receita na igreja, os dízimos e ofertas, todas elas são aplicadas na administração da igreja. Todos os templos da Assembleia de Deus são propriedade nossa, não são alugados.  Além disso, todo ano, a nossa diretoria tem um conselho fiscal, que fiscaliza todas as aplicações e movimentações do dinheiro, tudo isso é vistoriado para que não haja situações de desvio. Além disso, nós também realizamos trabalhos filantrópicos, com várias casas de recuperação para usuários de drogas e isso é pouco reconhecido pelo Governo.  Inclusive o PL 468 de 2015 de minha autoria, isenta templos religiosos, tanto evangélicos como católicos e espiritas, que de fato estejam trabalhando filantropicamente, de pagar impostos de água, luz, combustível etc… Não essas igrejas de fundo de quintal, apenas as que trabalham corretamente. 

C.M.T: Qual a sua avaliação do governo Dilma Rousef?

Galli: Infelizmente eu votei na Dilma em 2010, porque achei que ela iria honrar a promessa que fez, de não mexer com questões que envolvam a família, como o caso da liberação do aborto, da pedofilia etc… Já em 2014 eu votei na oposição, no Aécio. Porque pra mim esse PT que está ai já deu o que tinha que dar. O Brasil, hoje, precisa de uma credibilidade política. No dia em que o Cunha aceitou o pedido e impeachment , o dólar caiu e as bolsas de valores subiram, os investidores hoje não estão acreditando no Brasil. Por isso eu sou favorável ao impeachment, eu acho que com Dilma no comando o Brasil só vai piorar

C.M.T: Você acha que os problemas que o prefeito Mauro Mendes está tendo com suas empresas, podem influenciar na gestão de Cuiabá? 

Galli: De alguma forma, pode sim influenciar. Isso mostra o descrédito das pessoas, pois se ele não está conseguindo administrar o que é dele, como é que vai administrar aquilo que é dos outros? Eu acho que isso deve ser revisto, não sou a favor a reeleição, na Câmara eu votei contra a reeleição, porque eu acho que isso não resolve o problema, mas eu sei que prefeito nenhum faz milagre, diante desta recessão que estamos vivendo, ele está governado razoavelmente bem. 

C.M.T: Você é uma das pessoas cotadas para prefeitura de Cuiabá, o que o senhor pensa a respeito disso? 

Galli:Esse é um programa do PSC, ele quer lançar candidatos em todas as cidades polos, como aqui em Cuiabá o nome de projeção que o partido tem é o meu, eles pediram pra mim encarar isso, e como eu sou militante do partido, tenho que seguir o que está no estatuto, então eu coloquei meu nome à disposição mas com a condição de não sair candidato sozinho. Pra mim prefeito tem que gostar muito de pepino, no almoço, jantar e café da manhã, pois em um mandato de quatro anos, você tem que contratar um advogado pro resto da vida, porque vai vir processo de todos os lados. 

C.M.T: Qual é sua avaliação do governo Pedro Taques? 

Galli: Tem muita coisa pra se fazer no estado, e todos nós sabemos que ele pegou um estado falido, sem moral e sem crédito e pouca coisa se fez nesse sentido, o que ele está fazendo é revitalizar o crédito do estado, fazendo com que essa situação possa voltar ao normal. Acho que o que ele fez no primeiro ano, é o que era para ser feito. Tantas obras inacabadas e as que foram inauguradas estavam com defeito. Fora o gargalo do VLT, que tem que terminar isso de alguma forma. Na minha opinião, se mudar o modelo e destruir o que já foi feito, o prejuízo para a população será maior. 

C.M.T:  O que o senhor destacaria sobre sua atuação entre os parlamentares?

Galli: Essa legislatura está sendo uma das melhores. Lá em Brasília o nosso partido é Mato Grosso. Trabalhamos unidos na questão da liberação do Fecs para MT, e entrou em caixa R$ 400 milhões. Nós estamos trabalhando para que Mato Grosso esteja nos trilhos do desenvolvimento. Eu faço parte da comissão de educação, sou titular dela, suplente na CCJ, suplente na Comissão de Agricultura e faço parte de outras comissões especiais.  

Entre os assuntos em pauta dessas comissões está a questão da CPI da Funai, o PL 2015 que evolve as questões de direito de terras dos índios, a questão do armamento da população, pois eu sou contra desarmar a população e o bandido continuar armado, cada um tem o direito de defender a sua casa. Eu fui o deputado que mais votou a favor do agronegócio e da agricultura familiar no País, pois Mato Grosso é o que é, graças ao agronegócio. 

Consegui aprovar na câmara sete projetos de leis, e estou com um projeto muito interessante que é relacionado às vagas de idosos em viagens. Nos ônibus há duas vagas para idosos, e eu estendi isso para aviões, e esse projeto já está tramitando na comissão de justiça. Outro projeto interessante é o relacionado a validade dos créditos que a pessoa coloca no celular, com este projeto as empresas de telefonia não poderá determinar uma validade dos créditos. Se uma pessoa coloca R$ 20,00 esses créditos devem ficar por tempo indeterminado. 

C.M.T: O senhor acha que há uma relação entre a desigualdade social e a criminalidade?

Galli: Eu sou contra isso, as pessoas que defendem isso dizem que todo pobre é criminoso e não é. Isso é uma opção da pessoa, trabalhar com o crime ou não. Inclusive, eu votei a favor da redução da maior idade penal, porque eu entendo que o menor infrator tem que responder pelos seus atos. Um velório de um homicídio cometido por um adulto é tão sofrido para as famílias quanto um velório de um homicídio cometido por um menor. Pra mim criminoso bom é aquele que está preso.

Diego Fredericci

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