Jurídico

“O Governo não extorquia ninguém”, diz Silval ao confessar esquema para pagar dívida

O ex-governador Silval Barbosa (PMDB) afirmou que o esquema envolvendo a desapropriação de uma área de 55 hectares no Bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá, em 2014, foi orquestrada para o pagamento de uma dívida de campanha do grupo político no valor de R$ 10 milhões com o empresário Valdir Piran.

"[O esquema] foi feito com a intensão de saudar uma divida com o senhor Valdir Piran. Uma dívida de campanha", disse, em depoimento à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, na tarde desta quinta-feira (20). Este é o terceiro interrogatório que o político realiza nesta semana.

Silval, que desde junho cumpri prisão domiciliar, presta esclarecimentos no âmbito da ação penal derivada da 4ª fase da Operação Sodoma.

Na ação, ele é apontado como líder de organização criminosa que teria desviado R$ 15,8 milhões, por meio da desapropriação.

A área, de acordo com a Delegacia Fazendária (Defaz) e o Ministério Público Estadual (MPE), custou aos cofres públicos R$ 31,75 milhões, dos quais metade do valor foi desviado. O levantamento foi elaborado a partir da colaboração premiada (delação) do empresário Filinto Muller. 

Os depósitos a Piran, conforme a ação, foram realizados pela empresa de Filinto Muller, a S F Assessoria e Organização de Eventos, criada especialmente para facilitar a operacionalização do suposto esquema e colocada no nome de Sebastião Faria.

Além de Silval, também são réus:os ex-secretários de Estado Pedro Nadaf, Marcel de Cursi, César Zílio e Pedro Elias; o médico e filho de Silval, Rodrigo Barbosa; e os empresários Alan Malouf e Valdir Agostinho Piran.

Liderança de Nadaf

De acordo com Silval, o assunto quanto a desapropriação do Jd. Liberdade foi repassado pelo então secretário-chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf.

O político explicou que Nadaf se reuniu com ele relatando que o processo de pagamento de desapropriação já estava em andamento, tendo até decisões judiciais determinando que o Executivo repassasse o valor ao dono da área, o empresário Antônio Carvalho.

Segundo Silval, foi o procurador aposentado do estado Francisco Gomes Lima Filho, o “Chico Lima” quem falou sobre a desapropriação com Nadaf.

“O Pedro [Nadaf] me disse que o Chico disse que o processo de desapropriação estava pronto para pagar. Eu, Nadaf e Chico fizemos uma reunião para resolver isso”, disse. 

“Nessa reunião, eles me disseram que o proprietário da área estava disposto a nos passar um retorno do valor que seria pago. Então, eu determinei que o Nadaf e Chico Lima tocasse isso.  Eles trataram desse assunto com o proprietário”, afirmou.

Silval ressaltou que Nadaf, em parceria de Chico Lima, tocaram o processo.

Sem pressão

O ex-governador negou que os membros da organização tenham pressionado o empresário para que o proprietário do terreno devolvesse metade do valor pago na desapropriação.

“O Governo não extorquia ninguém. Procurava essas pessoas que tinham processos, mas nunca fez pressão para resolver isso. Fazia por que tinha interesse em fazer. Se o governo não quisesse pagar [a desapropriação] era só recorrer”.

Questionado pela magistrada sobre a declaração de Antônio Carvalho, de que ex-secretário de Estado de Fazenda (Sefaz), Marcel de Cursi, teria exigido a devolução de 50%, Silval negou que tivesse conhecimento ou autorizado Marcel a atuar desta forma. “Quem tinha autorização a tratar era Nadaf e Chico Lima”.

Prioridade

O ex-governador declarou que após tomar conhecimento do processo de desapropriação e do acordo de devolução, ele se reuniu com o ex-secretário de Planejamento, Arnaldo Alves, para pedir prioridade no pagamento, uma vez que o montante devolvido iria resolver “um problema de dívida”.

“Tratei com o Marcel de Cursi, para ele liberar o recurso. O Pedro disse que poderia ter um retorno para os secretários e eu disse a ele que pagando a dívida do Piran, não tinha problema”. 

Silval ressaltou que não entendeu o motivo pelo qual os pagamentos da dívida com Piran foram realizados por meio da empresa S F Assessoria, do empresário Filinto Muller.

“Eu não entendi o motivo que o levou a determinar um contrato com o Filinto Müller para ter o retorno para pagar a dívida com o Piran. Poderia fazer o contrato com o próprio Piran”.

Pagamento Alan

Ainda em seu interrogatório, Silval afirmou que R$ 200 mil do dinheiro desviado foi repassado ao empresário Alan Malouf, sócio do Buffet Leila Malouf. 

Conforme o político, na posse ao Governo, em 2011, restou o montante de R$ 1 milhão de dívida com Alan. Nadaf teria, então, o compromisso de angariar recursos para saldar a dívida com o empresário.

“Além da dívida com Piran, o dinheiro da desapropriação foi usado para o Alan Malouf. Foram R$ 200 mil”.

Silval garantiu que Alan tinha conhecimento de que o dinheiro do pagamento da dívida era fruto de desvio, uma vez que o montante não teria como ser quitado por meios legais, pelo próprio Executivo estadual.

"Eu determinei que o Pedro Nadaf desse um jeito e a dívida foi liquidada. Desse caso [da desapropriação do terreno], ele recebeu R$ 200 mil. Todo valor que o Alan recebeu foi de propina. Ele sabia que o Estado não tinha condição de pagar por vias legais".

Ouro e João Justino

Silval levantou suspeita sobre a afirmação do ex-presidente da Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat), João Justino Paes de Barros, que teria comprado outro para Pedro Nadaf e Marcel de Cursi, com o dinheiro desviado no pagamento da desapropriação.

“Não sei nada de sua participação. Mas com relação a essa compra de ouro para o Pedro e Marcel, quero dizer que em lugar nenhum na região norte se compra ouro com desvalorização de 30%. Eu já trabalhei com isso lá, se ele fez isso, venderam ouro falso para ele”.

Silval, no entanto, negou que tenha afirmado que o ex-presidente do Intermat tenha comprado ouro falso.

O ex-governador ainda inocentou seu ex-chefe de gabinete, Silvio Cesar Corrêa Araújo.

Caso da cadeira

Silval disse que a declaração de Pedro Nadaf, na qual Valdir Piran teria ameaçado jogar uma cadeira no Silval é "sensacionalista".

"Não houve agressão. Ele chegou lá nervoso dizendo que queria receber, que era para darmos jeito. Eu disse que não conversaria com ele daquela maneira, que na hora que se acalmasse a gente se falaria. Então, sai da Casa Civil e fui para meu gabinete. Ele ficou lá com seu filho e Nadaf", disse.
 
"Essa história do Pedro Nadaf de falar que houve cadeirada é sensacionalismo. O Piran só estava nervoso, pessoas que tomam remédio, esquece", completou.

O ex-governador voltou a esclarecer que a dívida com Piram era de seu grupo político, mas preferiu não citar o nome dos membros que teria recebido o dinheiro emprestado com o empresário. Além disso, Silval declarou que o empresário tinha conhecimento de que os R$ 10 milhões foram pagos por meio de desvio.

Mais informções em instantes.

 

Redação

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