O Pedra 90 é um dos bairros mais pobres de Cuiabá e está dentro da zona eleitoral 55, que compreende a maioria dos votos na capital. Não é à toa que a inauguração da Escola Estadual Mário de Castro seja uma obra tão esperada. Porém, burocracia e problemas de pagamento ainda impedem que Pedro Taques cumpra promessas de campanha.
Outro agravante para que a sede da escola Mário de Castro fique pronta logo é que grande parte das escolas estaduais do Pedra 90 está sem sede própria. O que obriga o Estado a alugar prédios privados, aumentado os custos do ensino público na região.
Nesta segunda-feira (23), o governador e a secretária de Estado de Educação, Marioneide Kliemaschewsk, visitaram o bairro Pedra 90 para vistoriar as obras da nova escola e acompanhar o andamento dos trabalhos. De acordo com relatos do governador e da comissão da empresa de engenharia responsável pelo projeto, o período de conclusão pode levar até um ano, ou mais.
No local onde já deveria estar 40% do projeto erguido, apenas uma estrutura em concreto. Apesar de uma grande equipe de trabalhadores da construção civil em atividade, a responsável pelo projeto não deu grandes garantias de avanço para 2018.
Durante a frustrante vistoria das obras, Pedro Taques foi gravado (novamente) em busca de uma boa imagem. No áudio é possível perceber o esforço do governador em tentar, a todo custo, pressionar a responsável pela obra a adiantar a entrega da escola para setembro. Confira o diálogo com exclusividade transcrito pelo Circuito Mato Grosso:
– Uma criança demora nove meses para nascer; nós não estamos com dinheiro na conta? – questiona Pedro Taques.
– O problema hoje, governador, é o pagamento – argumenta a engenheira.
– Então a questão é o pagamento? – indaga Taques novamente.
– Nós entregamos a obra do Senai, em Rondonópolis, que o senhor inaugurou em quatro meses, uma obra grande, agora em janeiro – explica a engenheira.
– Qual o valor desta obra aqui? – questiona Taques.
– Aqui, 7 milhões de reais… – diz a engenheira.
– E quanto já foi pago? – pergunta Taques.
– Desta obra já foram desembolsados 11%, governador, deveria estar com 40% pronto, mas aconteceram as chuvas também…
– Se tiver pagamento, a gente está com vontade de entregar logo – argumenta a engenheira.
– A senhora acha que dá tempo? – pergunta Taques.
– Se o senhor pagar… – diz a engenheira.
– Dinheiro não é problema para a secretária aqui (risos) – afirma o governador.
– O governador vai liberar – afirma a secretária de Educação Marioneide Kliemaschewsk (risos).
– Dinheiro não é problema para ela – diz Pedro Taques.
– Olha, eu tenho certeza que tem várias prioridades no governo, sei que existe um cronograma, mas a gente está super a fim também – diz a secretária de Educação.
– Tá, não estou prometendo nada, estamos tendo essa conversa aqui. Mas, vamos lá. Estamos em final de abril. Em maio já tem 10% pronto, é isso? – questiona Taques
– Quinze, está caminhando para isso – responde a equipe da empresa responsável pela obra.
– Vamos lá, maio, junho, julho, agosto, meados de setembro a senhora termina esta obra? – questiona Pedro Taques.
– Terminar, terminar não, mas o senhor já consegue ter muita coisa aqui – diz a gerente da obra.
– A parte de acabamento, por exemplo, vai faltar – diz outro funcionário da obra.
– Mas digo o seguinte: no Sesi, lá vocês terminaram em quatro meses… – diz Taques.
– Mas lá eles faziam o pagamento quinzenal. Aqui quinzenal nem… nem… nem… – argumenta a gerente da obra.
– Então o problema da demora é pagamento não é só a falta de dinheiro, mas a burocracia para pagar? – rebate Pedro Taques.
– É, não tem jeito… a secretária sabe… – respondem os funcionários da empresa responsável pelo projeto em consenso.
– É difícil, eu vou ver se consigo dinheiro, vou fazer um compromisso aí, vou separar. Aí a secretária de Educação vai ter que dar os pulos dela no sentido das medições e da conformação documental – afirmou o governador.
– Pode contar com a gente – respondeu um homem ao fundo da gravação.
– Vamos fazer um plano de ataque, vou conversar com o secretário de Fazenda hoje para que possamos fazer um piloto no sentido de regularidade do pagamento – encerra o governador.
Ao ser questionado sobre o áudio, a equipe de comunicação do governo afirmou que não há problemas na gravação. Que o governador estava apenas tentando fazer com que a obra cumprisse o cronograma de entrega e que as questões das medições estarão todas dentro da legalidade. A urgência na entrega do projeto seria por conta da falta de salas de aula no bairro.
Durante a coletiva de imprensa, Pedro Taques, visivelmente mais desanimado após a conversa com a equipe técnica do projeto, prometeu tentar inaugurar a escola ainda em 2018. “Quinze por cento da obra já estão prontos. Nós vamos buscar inaugurar essa escola talvez no mês de novembro para o ano letivo de 2019. E nós teremos condições dos alunos terem toda a possiblidade de um ensino no Pedra 90”, disse Taques.
Taques também afirmou que entregará 60 novas escolas até o final de 2018, isso se conseguir vencer a burocracia do próprio governo.
O Circuito Mato Grosso também questionou o secretário de Estado de Fazenda, Rogério Galo, se será possível seguir as indicações do governador e garantir o pagamento da obra, mediante o adiantamento quinzenal do custeio das medições.
Segundo o Gabinete de Comunicação do Governo do Estado, o governo fará um cronograma de regularização para manter os pagamentos em dia junto à Secretaria de Fazenda (Sefaz) para saber se vai conseguir ou não fazer os pagamentos e manter o prazo prometido de novembro 2018. A Sefaz não se pronunciou diretamente sobre o assunto.