Opinião

O fim da Lava-Jato

Em abril de 2016, há quase cinco anos, um magistrado da Itália, que participara de todas as fases da operação “Mãos Limpas”, dava uma entrevista a jornalistas brasileiros, afirmando que a famosa investida da justiça italiana contra a marginalidade tinha ficado pela metade.

Passados o susto e a surpresa, ele disse, os políticos e empresários presos retomaram as rédeas e começaram a trabalhar pela anulação das sentenças e evitar, com novas leis, futuras condenações.

Na época escrevi um artigo para a imprensa local, dizendo, baseado nas informações do magistrado, que a nossa Lava-Jato corria o mesmo risco, pois já surgiam aqui e ali, grupos tentando desprestigiar o Ministério Público e a Justiça Federal.

Neste ponto do artigo cometia o primeiro engano, porque o perigo não vinha de onde eu supunha. Se a previsão da resistência dos investigados e condenados estava certa, a origem do fogo contrário não foi o que eu previa. Passados estes cinco anos, vimos que as supostas vítimas (Ministério Público e Justiça) na verdade tornaram-se os algozes da força-tarefa.  

Mas houve mais erros no meu texto de 2016. Naquele momento mencionei o ainda não presidente, mas já definido como tal, Michel Temer, como potencial inimigo da Lava Jato, pois sinalizava a nomeação de um Ministro da Justiça contrário a ela.

Agora, tal qual aconteceu na Itália, detonaram a nossa “Mãos Limpas” e não me surpreende se, para completar o serviço, comecem a esmiuçar os processos julgados para punir os que condenaram os ladrões.

O estranho para nós leigos é que não está em discussão a culpa dos condenados, muitos com sentenças confirmadas em instâncias superiores. Também não se questiona se os bilhões já devolvidos aos cofres públicos eram fruto de roubos, todos sabem que são. Pouco importam os delitos cometidos pelos condenados, o que conta é a higidez do processo.

Há cinco anos não tínhamos o Procurador Geral da República como inimigo da Lava Jato. Também ainda não se manifestara antagonismo significativo no Supremo e não se via nenhuma ação concreta do Presidente Temer contra a força tarefa do Paraná.

Mas no ano passado a coisa complicou. A acusação contra um filho do Presidente de desviar dinheiro dos funcionários de seu gabinete, fez o pai amoroso interferir na Polícia Federal, o que levou à demissão do Ministro da Justiça Sérgio Moro. Nascia aí o maior e mais poderoso inimigo da Lava Jato. A ele se juntou o Procurador Geral da República e a ala garantista do STF.

Afirmam os analistas políticos que o Bolsonaro está gostando das decisões do Supremo que tem beneficiado seu inimigo Lula. Ele está confiante, dizem os entendidos, que dos candidatos prováveis para 2022 (Dória, Huck, Mandeta, Lula) o mais fácil de ser batido em segundo turno é o petista. Mais fácil ainda, ele crê, que algum preposto dele.

Enfim, eu estava certo há cinco anos quando previa a guerra contra a Lava Jato, mas errei feio ao identificar seus inimigos. Afinal ninguém poderia imaginar o surgimento de um candidato à Presidência, lavajatista convicto, que virasse inimigo da famosa força-tarefa. Nem tampouco, que um Procurador Geral da República, por ciúmes, combatesse seus liderados, ambos apoiados pelo STF.

Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor

renato2p@terra.com.br  

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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