Opinião

O estouro da boiada

Desde o fim da ditadura militar no Brasil em 1985, nunca houve um momento tão tenso politicamente como o atual. Os confrontos explícitos entre o executivo e o judiciário estão atingindo limites que, se ultrapassados, nos levarão à desordem geral.

A briga da vez é a disputa pelo voto impresso, que o Presidente da República defende e o Superior Tribunal Eleitoral acha inoportuno

Essa demanda é absurda, porque mesmo que passasse na Comissão Especial que a recusou por 23 votos a 11, dependeria de duas votações entre os deputados e mais duas no Senado Federal, além de exigir votos favoráveis de 3/5 dos parlamentares das duas casas. Só por aí já se vê que era quase impossível aprovar tal proposta neste ano.

Reforça-se pois, que o interesse do Bolsonaro, sabendo antecipadamente que o jogo estava perdido, não é no voto impresso, mas sim o de convencer a população, ou parte dela, de que está em andamento um plano de fraudar o pleito de 2022, arquitetado pelo PT e seus admiradores.

Creio que parte dos bolsonaristas está disposta a contestar as eleições do próximo ano, se elas lhes forem adversas, porque estão convencidos de que há uma conspiração para derrotar o atual Presidente, através de adulteração das urnas eletrônicas e que isto resultaria na implantação do comunismo no Brasil.

Ideias ridículas, diga-se. A primeira, como está confirmado com dados técnicos ao longo desses 25 anos de funcionamento da urna eletrônica, é absolutamente improvável. Sobre esta improbabilidade, todos Ministros que presidiram o TSE (17) desde 1988, em carta aberta à nação, neste início de agosto, relataram a inteira confiança no processo eleitoral do Brasil.

 A segunda alegação – sobre o comunismo – também não convence. Se em treze anos de governo, o PT não instalou o comunismo no Brasil, por que o faria agora?

Mas verdades não importam, o que conta são as versões delas. E essas fantasias tem o dom de manter as bases eletrizadas, criando um clima favorável ao confronto, desfecho que parece entusiasmar o Presidente.

E assim, se não for estancada essa insensatez, de passeata em passeata, de xingamento em xingamento, vamos acirrando os ânimos, até que um incidente qualquer provoque o estouro da boiada, o que “justificaria” a intervenção militar.

Então, quando a situação sair do controle, surgirá o nosso “Messias” para salvar o seu povo das garras de Satanás, aqui representado pelo comunismo que o Lula quer impor ao Brasil.

Só que diferente do verdadeiro Messias que entrou em Jerusalém montado em um jumentinho, o nosso “Salvador” irromperá na Esplanada dos Ministérios, ovacionado pelos seguidores entusiasmados, pilotando uma Honda 750 à frente de uma vibrante motociata.

Em seguida, ouvindo os gritos de “mito, mito, mito”, mandará um cabo e um soldado fecharem o Supremo, para cumprir a profecia que o filho 02 fez lá em 2018.

Depois dissolve o Parlamento e, sentando-se na cadeira presidencial que os puxa-sacos já mandaram colocar em um caminhão dos bombeiros, desfila pelas ruas de Brasília.

E como estamos plagiando o linguajar bíblico não custa supor que incorporando a deidade que assumiu, aos políticos que hoje lhe vendem apoio, dirá: “apartai-vos de mim vós que praticais a iniquidade”.

Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor

renato2p@terra.com.br

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Opinião

Dos Pampas ao Chaco

E, assim, retorno  à querência, campeando recuerdos como diz amúsica da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul.
Opinião

Um caminho para o sucesso

Os ambientes de trabalho estão cheios de “puxa-sacos”, que acreditam que quem nos promove na carreira é o dono do