É um filme estadunidense de 2006 dos gêneros mistério e thriller, dirigido por Ron Howard, e escrito por Akiva Goldsman com base no homônimo bestseller de 2003 de Dan Brown.
Produzido por Howard juntamente com John Calley e Brian Grazer, o filme é o primeiro da série de filmes de Robert Langdon.
Assistir à O Código Da Vinci é mergulhar em um jogo de sombras onde arte, religião e mistério se entrelaçam. Ron Howard conduz a narrativa com a cadência de quem sabe que cada pista é uma isca, e cada revelação, um passo mais fundo em território proibido. Desde a primeira cena, o Louvre deixa de ser apenas um museu: torna-se um tabuleiro silencioso onde o passado medieval, a simbologia renascentista e teorias conspiratórias se encontram sob o mesmo teto.
Tom Hanks, como Robert Langdon, é a âncora da história. Seu olhar atento e postura contida passam ao espectador a confiança de quem lê o mundo como um grande texto cifrado. Audrey Tautou, como Sophie Neveu, traz sensibilidade e tensão, equilibrando-se entre o mistério pessoal e a investigação coletiva. Juntos, eles formam uma dupla que não apenas decifra códigos, mas também carrega o peso de segredos que ecoam desde a Idade Média. Ian McKellen, no papel de Sir Leigh Teabing, rouba a cena com charme e ironia, enquanto Paul Bettany entrega um Silas marcado por uma devoção que beira a autodestruição.
O filme se apoia na tensão entre a história oficial e as versões que ela omitiu. O espectador é levado a considerar se as obras de Leonardo da Vinci seriam apenas pinturas ou se, nas entrelinhas de suas pinceladas, repousam mensagens destinadas a atravessar os séculos. A figura de Maria Madalena surge como centro de um mistério que a Igreja, na ficção, teria se esforçado para apagar, transformando-a de discípula em pecadora, e apagando qualquer rastro de um possível legado sagrado.
Há algo de poético na forma como a trama trata a História. Não como um conjunto imutável de fatos, mas como um texto reescrito várias vezes, onde vestígios antigos ainda sobrevivem, esperando por quem saiba lê-los. As ruas de Paris, os corredores de Londres e as abadias remotas funcionam como páginas desse manuscrito vivo, onde cada pedra e vitral parecem guardar um segredo.
E assim, enquanto a trama se desenrola, O Código Da Vinci nos lembra que todo símbolo é um convite. Que toda história tem margens borradas. E que, talvez, os maiores segredos não estejam escondidos em cofres ou manuscritos antigos, mas nos espaços em branco entre as linhas da história oficial. Ao final, o espectador sai com mais perguntas do que respostas – e é justamente aí que reside o fascínio. Porque o que é a verdade, afinal, senão um enigma que cada um precisa decifrar?
Ao final, O Código Da Vinci não se contenta em ser apenas um thriller. Ele se transforma em uma provocação, questionando o que aceitamos como verdade e lembrando que, assim como as obras de arte que resistem ao tempo, as histórias também têm camadas ocultas. E, mesmo que a História real não confirme suas insinuações, o filme conquista por nos lembrar que a curiosidade — tal como a fé — também pode mover montanhas.
Como obra cinematográfica, O Código Da Vinci é ao mesmo tempo fascinante e imperfeito. Fascinante pela habilidade em transformar símbolos e passagens históricas em peças de um quebra-cabeça envolvente, pela atmosfera carregada de tensão e pelo elenco que dá credibilidade a teorias improváveis. Imperfeito, porque a densidade das ideias, aliada à fidelidade ao texto original, por vezes sacrifica o ritmo e exige do espectador paciência para acompanhar cada pista. Ainda assim, e para mim, é justamente essa mistura de ousadia e minúcia que o torna marcante: o filme não se limita a entreter, mas convida a pensar, a desconfiar e a ler o mundo como se cada detalhe fosse um código à espera de ser decifrado.
O Código Da Vinci é uma obra que ultrapassa o mero suspense policial, propondo uma reflexão – ainda que ficcional – sobre fé, história e a interpretação de símbolos. Misturando mistério, arte e teoria conspiratória, o filme cria uma atmosfera onde o espectador se vê entre a curiosidade intelectual e o fascínio místico.
Mesmo com críticas quanto à precisão histórica, o longa conquistou relevância cultural ao popularizar debates sobre religião e simbolismo, mantendo-se como uma das adaptações cinematográficas mais comentadas da literatura contemporânea.
Eu adorei.
Vale a pena assistir.

Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.
Foto capa: Reprodução/Divulgação