O número de doadores efetivos de órgãos cresceu 90% em seis anos no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde. Os dados foram divulgados na manhã desta quarta-feira (24) no Memorial JK e consideram o período entre 2008 e 2013. O evento marcou o começo da semana de comemoração do Dia Nacional da Doação de Órgãos.
De acordo com o coordenador geral do Sistema Nacional de Transplantes, Fausto Pereira, foram 2.562 casos no ano passado, contra 1.350 em 2008. "Nós vamos atingir a faixa de 14 doadores por milhão [meta estabelecida no início da gestão] até o fim deste ano, se mantivermos o ritmo", declarou. No final do ano passado, o Brasil chegou a 13,4 doadores por milhão, segundo o Ministério da Saúde.
Entre 2008 e 2013, o número de pessoas na lista de espera teve redução de 42%, passando de 64.774 para 37.736. Segundo Pereira, parcerias com empresas aéreas e conscientização das famílias ajudaram na redução da espera por um órgão.
Além disso, o incentivo às cirurgias de córnea também influenciou na queda. Algumas unidades da federação – Acre, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Sul, São Paulo e Distrito Federal – zeraram a fila de espera. No primeiro semestre deste ano, foram realizados 11,4 mil transplantes no Brasil – 6,6 mil de córnea.
Dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos apontam o país como o segundo no número de procedimentos em todo o mundo. SUS é responsável pro 95% dos procedimentos.
Entre 2010 e 2013, o número de transplantes de coração cresceu 60%, de pulmão, 123% e de fígado, 23%. A quantidade de organizações de procura por órgãos também cresceu, passando de dez (todas em São Paulo) em 2010 para 67 neste ano.
"A gente ainda precisa fazer muito para atender os mais de 30 mil brasileiros que aguardam transplante de órgãos. […] Mas não basta ter médico, medicamento e hospital capaz de fazer o transplante. O transplante só acontece quando a sociedade participa também", disse o presidente da entidade, Lúcio Filgueiras Pacheco Moreira.
Para ser um doador
Qaulquer pessoa pode ser doadora de órgãos, ainda que não manifeste em vida a vontade de doar ou deixe documentada a intenção. A decisão cabe à família. No Brasil, a taxa de aceitação das família para doar é de 55,7%, segundo o ministro da Saúde, Arthur Chioro. O ministério quer incentivar que as pessoas manifestem a parentes o desejo de doar, em caso de morte.
Doadores vivos podem doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea ou parte do pulmão. A lei permite o procedimento sem autorização judicial quando os pacientes têm parentesco de até o quarto grau ou são cônjuges.
No caso de doadores falecidos, o paciente tem que ter tido diagnóstico de morte encefálica. Coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestino, rins, córnea, vasos, pele, ossos e tendões podem ser doados nesses casos. Em todos os casos, os órgãos passam por exame clínico, para se saber se estão aptos para transplante.
Viúva do cinegrafista da Band Santiago Andrade, morto após ser atingido por um explosivo durante uma manifestação no Rio de Janeiro, Arlita Andrade disse que "não pensou duas vezes" antes de doar os órgãos do marido.
"A gente combinou que quem fosse primeiro, os órgãos poderiam ser doados. Como eu sou bem mais velha, eu dizia: 'Amor, quem vai na frente sou eu.' Ele sempre falava para mim: 'Deixa de ser boba, a gente vai viver muito. E quem sabe eu vou na sua frente'. E foi o que aconteceu", diz.
Os rins, fígado e córneas de Andrade doram doados para cinco pessoas. Bastante emocionada, Arlita afirmou que todas elas continuam vivas. "Eu pensei: 'Ele tem de ir embora, mas quanta vida ele pode dar?'. Não tive dúvida. […] Acho que meu Santiago, lá de cima, pensa que ainda está vivo em uma pessoa. Eu não fiquei triste, fiquei feliz. Essas pessoas carregam dentro delas um pedaço do meu amor. Por que a gente não dá oportunidade para outras pessoas viverem e serem felizes também?"
Redes sociais
Ao lado do diretor do Facebook, Bruno Magrani, o vocalista da banda Biquíni Cavadão, Bruno Gouveia, mostrou como se declarar doador de órgãos na rede. O interessado deve ir à página Doação de Órgãos. "De 2012 até hoje, conseguimos a marca de quase meio milhão de pessoas se declarando doadores de órgão no Facebook", afirmou Magrani.
O músico e artista plástico Paulo Cavalcante se viu na fila de transplante depois de um acidente de carro ocorrido há uma década. Ele precisou de transfusão sanguínea e acabou contraindo hepatite C. O procedimento foi feito em Belo Horizonte (MG), porque Brasília ainda não tinha equipes para fazer a cirurgia na época.
"De lá para cá sofri durante dez anos. Entrei na fila de espera da doação do órgão. Há mais ou menos uns quatro, cinco anos, eu recebi esse órgão. Modificou minha vida completamente. Hoje agradeço demais à família do meu doador. Voltei a ser o que eu era: jogo futebol, pratico jiu-jítsu e tenho um fígado novo", declarou.
Durante o evento, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, entregou uma carta de agradecimento – com um laço verde, que simboliza a campanha – a celebridades envolvidas com a ação. Além de Arlita, Magrani e Gouveia, foram homenageados a cantora Zélia Duncan, o vocalista da banca Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, atriz Lúcia Veríssimo.
Também foram homenageados como expoentes da campanha o dramaturgo Manoel Carlos, pelos personagens em novelas, e a Associação Brasileira das Empresas Aéreas, pelo transporte dos órgãos.
G1