O número de crianças gripadas é quase o dobro das atendidas no mesmo período no ano passado, de acordo com dados do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo.
Mesmo antes do início da temporada de gripe, prevista para meados de abril, os hospitais infantis já registram aumento no atendimento de crianças acometidas pelo vírus influenza.
Os pequenos são alvos fáceis para o vírus. A fase mais crítica é nos seis primeiros meses de vida, ou seja, antes da primeira dose da vacina. De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), estudos apontam que as chances de internação em UTI nesse período são 40% maiores se comparadas às de crianças entre seis e 12 meses.
Ainda de acordo com a Sbim, no ano passado, 7% das vítimas por influenza no Brasil eram menores de 5 anos. Em 2018, as crianças dessa faixa etária já são 13% das vítimas.
O infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira Junior, gerente do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar Hospital Infantil Sabará, explica que o risco de transmissão entre as crianças é maior por uma questão de comportamento.
“As crianças colocam coisas na boca e compartilham, e é mais difícil fazer com que elas higienizem as mãos e usem lenço. Além disso, as crianças menores de 5 anos têm maior risco de formas graves da gripe por causa da imaturidade do sistema imunológico”, afirma.
Para proteger as crianças, é importante vacinar todos os anos. O infectologista também dá outras dicas: lavar as mãos com frequência e priorizar os ambientes ventilados.
“É importante orientar as crianças sobre a etiqueta de tosse: usar lenço descartável, higienizar as mãos, não colocar as mãos na boca, nos olhos e no nariz e tossir no cotovelo se não houver lenço”, destaca Oliveira Junior.
As crianças estão entre as principais vítimas do vírus influenza, junto com idosos, gestantes e pessoas com o sistema imunológico enfraquecido.
Gripe na escola
De acordo com o pediatra, os locais onde existe aglomeração, sejam escolas, shoppings, hospitais, predispõem maior risco de transmissão tanto do vírus Influenza como de outros vírus respiratórios. Ele explica que se a criança apresentar sintomas de gripe, é importante interromper a ida à escola durante o período em que apresentar sintomas respiratórios e avisar a coordenação.
Se as crianças gripadas devem ficar em casa, a mesma regra vale para professores e funcionários das escolas.
A fisioterapeuta Aline Pierdoná teve uma supresa desagradável quando foi buscar a filha Alice, 5, na escola. Segundo ela, a professora apresentada sintomas da gripe.
"No outro dia a Alice já começou a tossir, ficar amoadinha. À noite, começou a ter febre de mais de 38 graus e tosse, corisa, dor de garganta. Mesmo com medicação durante todo o fim de semana, ela precisou ficar alguns dias sem ir para a escola".
Influenza faz vítimas no Brasil
A época do ano mais crítica da gripe é entre os meses de maio e julho, principalmente nas regiões Sul e Sudeste devido ao clima mais frio do outono e do inverno, segundo o infectologista.
De acordo com a otorrinolaringologista Maura Neves, o frio e o clima mais seco favorecem a proliferação do vírus influenza. "Essas condições do clima dificultam a dispersão de agentes infecciosos ao mesmo tempo em que favorecem a aglomeração de pessoas".
Desde o início do ano até o dia 31 de março, o Brasil registrou 228 casos de influenza e 28 pessoas morreram em decorrência da gripe, segundo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde publicado nesta quarta-feira (4).
Existem três tipos de vírus influenza: A, B e C. De acordo com o Ministério da Saúde, o tipo C causa infecções respiratórias brandas e não está relacionado com epidemias. O tipo B é o que causa epidemias sazonais em regiões menores como cidades ou estados.
Já o tipo A é o mais perigoso, de acordo com o ministério. Além de epidemias sazonais, é o responsável pelas pandemias, que fazem vítimas em diversas regiões do mundo. Eles são divididos em subtipos. Os mais comuns no Brasil, neste ano, são o H3N2 e o H1N1.
De acordo com o boletim, o vírus da influenza tipo A H3N2 foi o responsável pelo maior número de mortes. Desde janeiro, foram 57 casos e 10 mortes. O segundo tipo mais letal foi o vírus influenza A H1N1, com 84 casos registrados, oito pessoas morreram. Em outros 37 casos e 4 mortes por influenza A o tipo de vírus não foi identificado.
A influenza tipo B também fez vítimas. Foram 50 casos e 6 óbitos registrados.
Os números são menores do que os registrados no mesmo período do ano passado. Em 2017, entre janeiro e março, foram confirmados 276 casos de influenza no país, com 48 mortes. Como neste ano, os tipos mais letais foram o H1N1 e o H3N2 com 28 mortes. A influenza tipo B fez 21 vítimas.
Campanha de vacinação
De acordo com o Ministério da Saúde, o vírus da influenza costuma fazer mais vítimas durante o inverno, principalmente no mês de julho. Por isso, tradicionalmente, a campanha nacional de vacinação começa na segunda quinzena de abril, desta forma, a população fica protegida antes do período mais crítico de disseminação do vírus.
Neste ano não vai ser diferente. A data deve ser divulgada nos próximos dias, mas, segundo o ministério, a campanha não deve ser adiada, ao contrário do que tem sido publicado na imprensa. A previsão é 16 de abril.
O calendário da campanha é organizado conforme capacidade de produção e entrega das doses. Todos os anos, esta produção começa a ser feita depois da autorização da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que normalmente acontece no mês de setembro.
Isso porque, todos os anos, é a OMS que avalia quais os tipos de vírus circularam no hemisfério sul. A partir daí a vacina é adaptada para o ano seguinte. A produção das doses leva cerca de seis meses. Depois esse prazo, há um trâmite administrativo e jurídico para aprovação do contrato de compra das vacinas para posterior distribuição aos estados. Esse é o procedimento comum para compras públicas.
Quem produz a vacina da influenza no Brasil é o Instituto Butantan. Em nota, o instituto afirmou que a produção começou no dia 29 de setembro e que a entrega deve acontecer dentro do prazo para a realização da campanha.