NU ou PELADO? Arte ou Pornografia? A maior expressão artística popular no Brasil é o carnaval. Com ele imagens do nu, com ou sem a ‘invenção’ do pecado, com ou sem conotações evangélicas, mercadológicas e sem censura adentram nossa casa sublinhando o que eu, você, seus ancestrais todos fomos, somos e seremos: CORPOS. O resto é cultura. Cultura certa ou errada, cultura educativa, cultura doente, cultura artística, o apego lingüístico e sua manutenção, ainda assim, em nada pode nos afastar deste ponto inicial. Educar nossos filhos a crescer sem medo do nudismo, a aceitar o corpo e sempre questionar aqueles que insistem em enfiar medo e pecado na nossa estrutura original é uma cultura saudável. A segurança de aceitar o corpo humano, de lembrar que muitos mitos e pecados são meras invenções é uma das façanhas da arte na cultura contemporânea. Isso é você nu.
Agora traga o seu corpo para CUIABÁ, hoje, junho de 2016. Você e toda a sua família diante da televisão em rede nacional vendo nossos ônibus sendo queimados. Pela internet e nos celulares vivemos a maior experiência de terrorismo atual na historia de Mato Grosso. Com gravações comunicadas de dentro das cadeias para nossos ouvidos, com o Governo e a policia num admirável malabarismo acalmando centenas de pessoas sem transporte publico. Nas praças e nas ruas vejo policiais assustados. Aqui você está pelado.
Neste domingo, dia dos namorados, um Sargento da policia foi ao SHOPPING GOIABEIRAS e ameaçou que iria abrir um boletim de ocorrência e processar o estabelecimento solicitando a retirada da exposição CINCO ELEMENTOS DO CERRADO. Uma exposição de arte com fotografias do nosso bioma e seus elementos, com algumas partes do corpo humano desnudo, em algumas uma modelo contratada numa imagem do cerrado queimado mostra a carcaça de um animal. Numa outra foto diante de um loja com uma enorme publicidade com um rapaz sem camisa, está uma modelo negra chupando um caju com os seios de fora. O projeto fotográfico OS CINCO ELEMENTOS DO CERRADO do fotografo Tchelo Figueiredo foi aberto no corredor do Shopping Goiabeiras no dia 01 de junho, enaltecendo um de nossos biomas, suas inspirações artísticas como pintura de ADIR SODRE no corpo feminino, cajus, banhos de cachoeiras, as queimadas e o nu feminino. Tudo extremamente delicado, muito menos chocante que qualquer publicidade de lingerie ou samba de ‘Globeleza’. Na semana passada um Bispo evangélico se mostrou chocado com o perigo que essa exposição pode causar na sociedade cuiabana. Foi um artigo com referencias históricas equivocadas desde ‘a primeira escada rolante’ até o vocabulário desconexo. Mas obviamente a sociedade preferiu ver a exposição e elogios encharcaram a internet do artista enquanto alguns comentários de religiosos apoiaram o Bispo.
Ainda que alguns sites precisem de polemicas e opiniões de religiosos desesperados por atenção da mídia em ano de eleição, é incabível a CENSURA de uma exposição de Arte num shopping. Independente da opinião pessoal do oficial, é inadmissível o desperdício do dinheiro publico com um líder da segurança pública indo ameaçar uma exposição artística- ainda mais -neste exato momento. Parece uma piada. É um despreparo em lidar tanto com o real quanto com o irreal. Um desequilíbrio muito grande com os fatos e com as artes criadas a partir deles. Nem nu nem pelado. O oficial e bispo que deveriam estar protegendo a sociedade acabam por promover mais medo, pecado e o perigo aonde não existe.
Se antes apenas 8 dos 800 visitantes que viram a exposição manifestaram que não ‘curtiram’ as fotos das modelos nesta exposição, esta semana cresceu de maneira GI-GAN-TES-CA a opinião popular desejando aplaudir a exposição do artista e a postura do Shopping em promover a arte, nosso bioma e o corpo humano. Isso é a beleza do nu artístico.
Nenhuma família fica realmente mais assustada com essas fotos artísticas do que com a realidade em que vivemos neste final de semana na mídia e com amigos perguntando se você chegou bem em casa. Um oficial entrar num shopping e solicitar a retirada de uma exposição de fotografias enquanto os ônibus ardem, isso sim, é vergonhosamente pornográfico.
Luiz Marchetti é editor do caderno Cultura em Circuito do jornal Circuito Mato Grosso