O rei Salman, da Arábia Saudita, prometeu nesta sexta-feira (23) manter a mesma linha de seus predecessores, em seu primeiro discurso à nação após ter ascendido ao trono. Ele assumiu após a morte do rei Abdullah nrsta sexta-feira (23).
"Seguiremos, com a força de Deus, no caminho reto que este estado tem seguido desde sua criação pelo rei Abdel Aziz Ben Saud e por seus filhos depois dele", disse o soberano em uma mensagem transmitida pela televisão.
"Deus quis que eu tivesse essa grande responsabilidade […] Rezo para que ele me apoie", declarou Salman, de 79 anos.
O rei também fez um pedido por unidade e solidariedade entre os países muçulmanos e árabes, e prometeu servir ao país e protegê-lo de todo mal, além de nomear como ministro da Defesa um de seus filhos, Mohamed Ben Salman.
À 1h desta sexta-feira (20h de quinta-feira no horário de Brasília), um apresentador anunciou na televisão estatal a morte do soberano, que reinou oficialmente durante uma década, mas que assumiu as rédeas do reino desde o ataque cerebral sofrido por seu meio-irmão, o rei Fahd, dez anos antes.
Sofrendo com uma pneumonia, Abdullah, de 90 anos – sua data de nascimento exata é desconhecida – estava internado desde 31 de dezembro em Riad, embora sua idade avançada e as muitas hospitalizações anteriores alimentassem regularmente os rumores sobre o futuro do reino saudita.
Nos últimos tempos, as aparições públicas de Abdullah foram se tornando cada vez mais escassas e ele regularmente era representado pelo príncipe-herdeiro, Salman Ben Abdel Aziz, ministro da Defesa desde outubro de 2011, como na última cúpula do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), no início de dezembro no Catar.
O rei Abdullah era, como os quatro soberanos que o precederam, filho do rei Abdel Aziz, fundador da dinastia Al-Saud que dá nome ao país.
Sucessão
Salman também resolveu a questão da sucessão a longo prazo do reinado ao nomear o sobrinho Mohammed bin Nayef como vice-príncipe herdeiro, o que significa que ele será o primeiro de sua geração a governar o país algum dia.
O príncipe Mohammed, que permanece como ministro do Interior, de acordo com decreto real divulgado pela televisão estatal, é o próximo na linha para governar após Salman e o príncipe herdeiro Muqrin (herdeiro direto, outro meio-irmão de Abdullah).
Próximo dos Estados Unidos, o príncipe Mohammed ganhou crédito junto a países ocidentais por ter derrotado uma insurgência da Al Qaeda entre 2003 e 2006, quando era o comandante das forças de segurança e seu pai era o ministro do Interior.
Nascido em 1959, o príncipe Mohammed é relativamente jovem para o padrão do alto escalão da realeza saudita, e sua nomeação como segundo na linha de sucessão do trono deve resolver a questão da sucessão a longo prazo por muitos anos.
Forte alta do petróleo
Os preços do petróleo cotado em Nova York registraram uma forte alta após o anúncio da morte de Abdullah.
Nos últimos anos, a Arábia Saudita liderou a lista dos países que lutaram com firmeza pela manutenção ao nível atual da produção petrolífera dos países da Opep, embora sob o risco de acelerar a queda dos preços do petróleo (-50% desde junho).
Em Davos, o economista chefe da Agência Internacional de Energia (AIE) Fatih Birol disse que não espera uma mudança significativa da política petrolífera do país.
Abdullah manteve a primeira potência petrolífera mundial a salvo das crises do mundo árabe, mas também frustrou as expectativas dos reformistas, sobretudo em relação ao papel das mulheres na sociedade.
De fato, ocorreram debates frequentes entre os liberais e conservadores da família real, o que pode ter contribuído para paralisar sua ação.
Caracterizado por seu espesso bigode e cavanhaque pretos, o rei Abdullah exercia uma forte influência na política regional.
Diante do crescente poder dos movimentos islamitas, a Arábia Saudita se converteu em um importante apoio de Abdel Fatah al-Sissi, atual presidente egípcio, após a deposição do islamita Mohamed Mursi.
Também teve um papel chave no apoio à oposição do presidente sírio Bashar al-Assad, autorizando o treinamento de combatentes rebeldes em seu território a cargo do exército americano.
O rei será enterrado ainda nesta sexta-feira após as orações da tarde e os sauditas estão convidados a prestar homenagem ao novo rei e ao príncipe-herdeiro no palácio real, acrescentou a declaração oficial sobre a morte do monarca.
O novo rei deverá enfrentar muitos obstáculos, em um contexto de queda do preço do petróleo que pesará nas receitas do reino.
Último adeus no Twitter
As reações à morte deste aliado de Washington e dos ocidentais na luta contra os jihadistas do Estado Islâmico e da Al-Qaeda não demoraram a chegar.
O presidente Barack Obama se referiu a ele como um valioso amigo e como um líder sincero que deu passos valentes buscando o objetivo de conquistar a paz no Oriente Médio.
O presidente francês, François Hollande, prestou homenagem a 'um estadista cuja ação marcou profundamente a história de seu país' e cuja 'visão de uma paz justa e estável no Oriente Médio segue estando mais do que nunca atual'.
Além disso, muitos sauditas deram seu último adeus ao monarca na internet, embora alguns, entre eles ativistas da liberdade de expressão e dos direitos das mulheres, tenham sido mais críticos que os demais.
Entre as milhares de mensagens divulgadas na rede social, muitas citaram um hadith – dito do profeta – segundo o qual morrer em uma sexta-feira (dia de oração do Islã) significa que a vida do falecido terminou bem.
Em um país onde os meios de comunicação oficiais são fortemente controlados, a internet oferece um espaço de liberdade aos sauditas, embora a rede não esteja isenta de vigilância, como demonstra a recente prisão do blogueiro Raef Badaoui, condenado a 1.000 chibatadas e a dez anos de prisão por insultar o Islã.
"Que Deus o perdoe e tenha piedade dele", retuitou o blogueiro em sua conta após a morte do soberano.
Fonte: G1