Cientistas da França que acompanharam 14 pacientes que receberam muito rapidamente drogas contra o HIV, mas que depois abandonaram o tratamento, concluíram que mesmo após sete anos sem os remédios ainda não havia sinais de reaparição do vírus.
A pesquisa, publicada na revista científica "PLoS Pathogens", surge no mesmo mês em que médicos do Mississippi (EUA) anunciaram a cura de uma menina norte-americana que nasceu de mãe soropositiva e foi tratada logo após o parto, alcançando a chamada "cura funcional".
Christine Rouzioux, professora do Hospital Necker e da Universidade Paris Descartes, disse que os novos resultados mostram que o número de células contaminadas que circulam na corrente sanguínea desses pacientes, chamados de "controladores pós-tratamento", continuou diminuindo mesmo após vários anos de interrupção da administração medicamentosa.
"O tratamento precoce nesses pacientes limitou o estabelecimento de reservatórios virais, a extensão das mutações virais, e preservou as reações imunológicas. Uma combinação desses (fatores) pode contribuir para controlar a infecção nos controladores pós-tratamento", disse a pesquisadora, que participou há 30 anos da equipe que identificou pela primeira vez o vírus HIV.
Ela acrescentou que "o encolhimento dos reservatórios virais (…) praticamente se equipara à definição de 'cura funcional'".
"Cura funcional" é uma situação em que o vírus continua sendo detectável no organismo, mas em níveis tão baixos que não há necessidade de tratamento para mantê-lo sob controle.
Estima-se que haja 34 milhões de pessoas contaminadas com o HIV no mundo, e a maioria delas precisará passar o resto da vida sob a chamada terapia antirretroviral –medicamentos que geralmente controlam a doença, mas que têm fortes efeitos colaterais e alto impacto financeiro para os sistemas de saúde.
A epidemia global do HIV –vírus transmitido por sangue e fluidos sexuais– parece estar recuando. Houve 2,5 milhões de novos casos em 2011, segundo a ONU, cifra 20% inferior à de 2001. As mortes por Aids, que chegaram a 2,3 milhões em 2005, caíram para 1,7 milhão no ano retrasado.
Asier Saez-Cirion, pesquisador-sênior do HIV no Instituto Pasteur, em Paris, disse que provavelmente será impossível controlar o vírus na maioria dos pacientes já contaminados, mas que os resultados sugerem que pelo menos alguns podem se curar se receberem os medicamentos com rapidez suficiente.
Fonte: Folha de São Paulo