O filme Nossas Noites (Our Souls at Night), estrelado por Jane Fonda e Robert Redford, apresenta uma narrativa delicada e profundamente humana sobre a solidão na terceira idade, o preconceito etário e a possibilidade de recomeços afetivos mesmo em fases mais avançadas da vida.
Dirigido por Ritesh Batra, o longa é baseado no romance homônimo de Kent Haruf e nos oferece uma poderosa reflexão sobre o amor, o tempo e a coragem de se abrir novamente à vida.
Addie Moore (Fonda) é uma viúva solitária que vive em uma pequena cidade do Colorado. Em uma atitude inusitada e corajosa, ela toma a iniciativa de bater à porta do vizinho Louis Waters (Redford), também viúvo, com uma proposta inesperada: que ele passe a dormir em sua casa – não por desejo sexual, mas pela companhia e conversa, como forma de afastar a insônia e a solidão que os acometem. A princípio hesitante, Louis acaba aceitando, e o que começa como um arranjo prático se transforma em uma relação de companheirismo e ternura.
O enredo revela, com muita sensibilidade, o quanto a terceira idade é muitas vezes associada a uma espécie de apagamento social. A presença do etarismo – o preconceito contra os mais velhos – é percebida tanto nos olhares alheios quanto nas cobranças familiares que tentam impor limites à autonomia dos protagonistas. Ainda assim, Addie e Louis resistem com coragem e maturidade, mostrando que o envelhecer não precisa ser sinônimo de resignação ou inércia emocional.
A relação que surge entre os dois é bonita exatamente por sua simplicidade e profundidade: eles compartilham dores, memórias, fracassos e afetos, sem pressa, sem máscaras e sem medo de se expor. A cumplicidade construída entre eles desafia os padrões sociais que determinam até que idade se pode amar, se relacionar, construir sonhos.
As atuações impecáveis de Jane Fonda e Robert Redford conferem autenticidade aos personagens, mostrando que o amor, o cuidado e a busca por conexão humana não têm prazo de validade. A direção discreta e a fotografia suave reforçam o tom intimista da narrativa, proporcionando ao espectador uma experiência envolvente e tocante.
Nossas Noites é um convite à reflexão sobre o envelhecimento e sobre como o afeto pode – e deve – continuar sendo cultivado em todas as fases da vida. É também um grito silencioso contra a invisibilidade da terceira idade e uma celebração da coragem de amar, mesmo quando o mundo parece dizer que já é tarde demais.
Amar em qualquer fase da vida é expressão da própria natureza humana — uma necessidade vital que transcende tempo, idade e circunstâncias. No entanto, o etarismo, cada vez mais presente em nossa sociedade, tenta impor limites ao afeto e à afetividade na maturidade. É preciso combater esse preconceito e reafirmar que o amor não tem prazo de validade — ele é humano, legítimo e possível em todas as idades.
O amor maduro carrega uma beleza serena e profunda. Diferente das paixões impulsivas da juventude, ele nasce do encontro entre duas histórias de vida, com mais calma, acolhimento e verdade. É um amor que não busca preencher vazios, mas compartilhar plenitudes. Estável, consciente e respeitoso, esse amor valoriza o que é essencial: a presença, o diálogo, o cuidado e a parceria. Ele não idealiza, mas compreende — e justamente por isso revela o verdadeiro sentido de amar.
Que delícia de filme.
Vale muito a pena assistir.

Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.
Foto capa: Reprodução/Divulgação