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Nos próximos 30 anos, mais de 60% dos produtores deixarão a atividade, diz especialista

A baixa rentabilidade aliada à necessidade de intensificação deve impactar negativamente a pecuária no Brasil, que pode perder mais de 60% dos atuais produtores nos próximos 30 anos. Para o professor doutor da Universidade Federal de Mato Grosso, Nelcino Francisco de Paula, a atividade não tem como se sustentar concorrendo com culturas de alta lucratividade, como soja, milho e algodão.

"Tem sido melhor arrendar a fazenda ou mesmo vender a propriedade – e deixar o dinheiro aplicado – do que continuar na atividade. Portanto, vejo a intensificação como um caminho sem volta para se possa produzir mais arrobas por hectare e, assim, manter a competitividade, já que a tendência em longo prazo é que os custos fixos comam o produtor pelas pernas", frisa o professor que promove estudos na área há mais de 10 anos.

Nelcino tem mestrado em Ciência Animal pela UFMT e doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa, com estágio na Texas A&M University. Atualmente é professor Adjunto da Faculdade de Agronomia e Zootecnia, onde atua na área de Nutrição e Produção de Ruminantes. "Nossos estudos mostram que o pecuarista deve vencer determinadas resistências e tabus para melhorar o sistema produtivo e também começar a investir em sucessão familiar".

Ele ministrou palestra para produtores da Associação de Criadores Nelore de Mato Grosso (ACNMT), onde ensinou técnicas para otimizar a produção de carne bovina a pasto, alertando para o risco de declínio da atividade. Entre as estratégias, o especialista destacou a suplementação animal no estágio inicial de vida do animal, ao invés de somente na terminação, o que exige planejamento para o ciclo completo.

"Há ainda a ilusão de que se deve investir na suplementação nos últimos 100 dias, que é fase de terminação, com o intuito de obter retorno mais rápido. Mas os números comprovam que, mesmo levando mais tempo para esse retorno econômico, o produtor deveria se preocupar mais com a fase de cria e recria, para produzir um bezerro de melhor qualidade e genética muito superior".

Outro ponto fundamental para a modernização na pecuária, segundo ele, é algo aparentemente simples: a qualidade da água oferecida ao rebanho. "Estamos vindo de uma cultura que dizia que o boi gostava de água suja, porém as pesquisas mostram o contrário, que o animal gosta de água de qualidade, como a que a gente bebe. Essa simples mudança gera um ganho de peso adicional e mais lucratividade".

Vale a pena a instalação de bebedouros e aguadas, que devem ser constantemente higienizados, porque a água limpa também reduz sensivelmente o índice de abortos nas fêmeas, algo que o presidente da Nelore Mato Grosso, Breno Molina, comprovou em sua fazenda Onça Pintada, localizada em Poconé, Pantanal mato-grossense.

"Como administrador de empresas, trato a propriedade como um negócio e por isso estou buscando sempre as técnicas mais eficientes e, como presidente da associação, faço questão de levar essas informações e também a minha experiência pessoal aos demais produtores, incentivando o processo de modernização do setor".

Pesquisas mostram que no sistema de confinamento, por exemplo, quando se lava o bebedouro pelo menos duas vezes na semana, os animais ganham mais peso do que quando se lava uma vez. Nelcino orienta que quando a temperatura da água é mais fresca, os animais costumam ingerir mais ração, elevando a taxa de ganho de peso.

Na fazenda experimental da UFMT, a equipe de estudiosos está mensurando essa variável (água) e também chegou à conclusão que a ingestão de minerais orgânicos, entre eles, cromo, zinco e selênio, promovem resistência ao calor e elevam o bem-estar animal e são itens a serem considerados como investimento. "Essa suplementação exógena é recomendável porque não é encontrada nos alimentos e nas forragens, promovem melhor desempenho e impactam na qualidade carne".

SUPLEMENTAÇÃO – Na seca, a suplementação é inegociável, porque é a época em que a forragem está reduzida e isso afeta o desempenho do rebanho. O que os pecuaristas não imaginavam, segundo o professor da UFMT, é que intensificar no período chuvoso elevasse a um ganho de mais de 300 gramas, o que no ciclo de vida do animal pode representar aumento no peso de até uma arroba e meia. "Quem quer fazer a diferença, precisa correr atrás desses 200/300 gramas no tempo das águas".

Ele pontua que suplementação não se entende apenas o uso do sal mineral, envolve uma dieta com minerais, proteína e alimentos com energia, como milho, farelo de soja e a ureia. "A cada 1 real investido, o retorno é superior a 10 reais, ou seja, com a suplementação, o rendimento é de 10 vezes maior, mas o grau de intensificação e modernização vai depender da propriedade, nenhuma fazenda começa a fazer esse trabalho lá de cima, deve arrumar a base e isso se chama tecnologia de processo".

Nelcino pontua que o pecuarista pode e deve começar com tecnologias que não envolvem desembolso, ou seja, não exigem mexer "no bolso", um exemplo é a implementação da estação de monta, que é a definição do tempo em que touros permanecerão juntos com as vacas para acasalar ou o momento para inseminação artificial das fêmeas. Os gráficos apontam que o mês de nascimento do bezerro é importante para o peso dele no desmame.

"As estatísticas mostram que aqueles que nascem em agosto são desmamados bem mais pesados do que àqueles que nascem em janeiro, mas há produtores que ainda desconhecem a técnica e têm receio de colocar em prática, porém nosso trabalho é mostrar a eles que é importante organizar várias práticas de manejo dentro da fazenda, já que isso reduz problema com mortalidade e melhora qualidade dos bezerros, sem contar no incremento da lucratividade".

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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