Opinião

“Nonnas”: um banquete de emoções, tradição e memórias servidas à mesa 

O filme Nonnas é uma ode comovente à memória afetiva, às raízes familiares e ao poder simbólico da comida como forma de amor. Inspirado em uma história real, o longa retrata com delicadeza e emoção a criação de um restaurante nos Estados Unidos cuja alma está nas mãos e corações de avós italianas — as queridas nonnas, mulheres que traduzem em receitas simples a grandeza do cuidado, da tradição e dos laços familiares. 

Dirigido por Stephen Chbosky (As Vantagens de Ser Invisível, Extraordinário), Nonnas conta com a atuação do aclamado ator Vince Vaughn no papel de Joe Scaravella, um nova-iorquino de origem siciliana que, após perder a mãe, mergulha em um período de luto e busca reconexão com suas origens. Nesse processo, decide abrir um restaurante italiano — mas com um conceito inusitado e profundamente emocional: contratar avós de verdade, de diversas regiões da Itália, para cozinhar pratos tradicionais que trazem consigo séculos de história, cultura e afeto. 

O filme se ancora na história verdadeira de Joe Scaravella, criador do restaurante Enoteca Maria, localizado em Staten Island, Nova York. O restaurante existe até hoje e é conhecido mundialmente por seu elenco rotativo de avós-cozinheiras (nonnas), que não apenas preparam os pratos, mas compartilham com os clientes suas histórias de vida e seus saberes culinários passados de geração em geração. É um espaço onde o tempo desacelera e cada refeição se torna uma celebração da cultura, da diversidade e da humanidade. 

A proposta do filme é, antes de tudo, um reencontro com os afetos mais genuínos da vida. Ao trazer à tona as nonnas — termo carinhoso usado para se referir às avós na cultura italiana —, a narrativa mergulha na ancestralidade, nos gestos de cuidado transmitidos de geração em geração e na beleza do convívio à mesa. Cada prato servido é carregado de histórias, de lembranças de infância, de risadas na cozinha e, sobretudo, de amor silencioso manifestado em sabores e aromas. 

Em Nonnas, o espectador é convidado a revisitar suas próprias lembranças ao redor da mesa. A cada cena, transbordam sentimentos de pertencimento, saudade e gratidão — ingredientes que não constam em receitas escritas, mas que são indispensáveis nas cozinhas onde o amor é tempero principal. A comida, aqui, é muito mais do que sustento: é ponte entre passado e presente, é cura emocional, é linguagem silenciosa de cuidado. 

Tecnicamente, o filme se destaca pela fotografia acolhedora, com tons quentes que remetem ao ambiente caseiro das cozinhas italianas, e por uma trilha sonora suave que evoca nostalgia e doçura. As atuações são sinceras e tocantes, especialmente nas interações entre as nonnas e os clientes do restaurante — mostrando que o verdadeiro protagonismo está nessas mulheres, muitas vezes invisibilizadas pela idade, mas que guardam um universo de saber e sensibilidade. 

Mais do que uma produção sobre gastronomia, Nonnas é um lembrete de que as refeições familiares têm o poder de unir, curar e eternizar afetos. É um convite à valorização das tradições, das raízes e da sabedoria de quem veio antes de nós. E é, sobretudo, um reconhecimento da beleza e da importância das avós — que, com mãos marcadas pelo tempo e corações transbordando de amor, seguem ensinando que cozinhar é um dos atos mais humanos e generosos que existem. 

Ao assistir Nonnas, é impossível não ser invadido por uma nostalgia que nos leva à casa dos nossos próprios avós — mesmo que não tenhamos raízes italianas. O filme constrói uma ponte entre o público e a tradição, revelando como a comida é, muitas vezes, o fio que sustenta relações familiares, celebrações e reencontros. Não se trata apenas de massas artesanais ou molhos encorpados, mas daquilo que eles simbolizam: acolhimento, herança, união. 

A delicadeza com que o filme retrata essas mulheres é também uma forma de reconhecimento. São elas as guardiãs das receitas, da cultura, dos rituais que giram em torno da mesa, e que persistem mesmo em tempos de modernidade e pressa. Em Nonnas, cada refeição é um ato de resistência contra o esquecimento e uma reafirmação da importância dos vínculos familiares. 

Com sensibilidade e respeito, o filme nos lembra que cozinhar é também uma linguagem de afeto. É um gesto de doação, uma expressão de cuidado e um convite para se sentar, conversar, compartilhar a vida. Assim, Nonnas se transforma não apenas em uma experiência cinematográfica, mas em um verdadeiro banquete de emoções — onde o principal ingrediente é o amor. 

Vale muito a pena assistir e desfrutar da sensação de aconchego ali retratada. 

Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

Foto capa: Reprodução/Divulgação

Olinda Altomare

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Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

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