Foto Ahmad Jarrah
Com Cátia Alves
Os depoimentos referentes a Operação Rêmora dos empresários Luiz Fernando da Costa Rondon, dono da Luma Construtora, e Giovani Belatto Guizardi, dono da Dínamo Construtora continuam nesta tarde de segunda-feira (12). Eles são réus na ação penal que investiga o esquema fraudulento em licitações de obras na Secretaria de Estado de Educação (Seduc), entre os anos de 2015 e 2016.
A expectativa para a audiência de instrução, conduzida pela juíza Selma Rosane Arruda, da 7ª Vara Criminal, é que novas informações sejam reveladas pelos delatores do processo. Dentro do esquema, os dois empreiteiros são acusados de operar como os intermediadores da cobrança e pagamento de propina entre as empresas construtoras e o “núcleo político”.
Conforme as investigações do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), os dois empresários eram os responsáveis por organizar as reuniões em uma sala no Edifício Avant Garden Business, para tratar dos pagamentos das propinas que variava de 3% a 5%.
Acompanhe aqui:
14h20 – Começa o depoimento do empresário Giovani Guizardi. A Juíza pede que ele narre parte por parte da delação que firmou na colaboração premiada.
14h22 – “Em meados de 2014 e fui convidado pelo primo da minha esposa, Alan Malouf para participar da campanha do governador Pedro Taques. Participei da campanha financeiramente. Eu tive uma conversa com o Alan Malouf e fiquei sabendo que ele já tinha investido na campanha do senhor Pedro Taques com R$ 10 milhões de reais, e foi quando eu entrei com uma doação no valor de R$ 300 mil”.
14h28 – Guizardi conta a Juíza que em 2015 foi procurado pelo Alan em uma reunião. “Essa reunião tinha a intenção de como iriamos buscar esse dinheiro investido. Então o Alan sugeriu que como eu tinha uma construtora que eu fizesse obras, que eu fosse atrás das licitações, onde tinha obras, pra depois uma vez visto isso nós pudéssemos estar participando. Eu sempre trabalhei com estrada, construção civil, ai eu fui e abri uma nova firma na Construção Civil que era minha intenção. Na pasta da Construção Civil quem mais investe do Governo é a Seduc (Secretaria de Educação, a Secid (Secretaria de Cidades) e em seguida a Seduc. Em conversa com o Alan eu disse: a gente precisa ter contato com o Secretário da Seduc (Permínio Pinto), fazer o pedido e ver a possibilidade da pasta. Uma vez tendo o contato, foi feito uma reunião”.
14h43 – A Juíza questiona Guizardi sobre os presentes na reunião. Ele responde que era ele, o Alan e o Permínio. “Foi marcada uma reunião na Leila Malouf onde eu fui apresentado e queríamos saber quais eram as possibilidades de eu trabalhar por meio de licitação”.
14h47 – Isso tudo foi no inicio de 2015, quando o secretário Permínio estava pegando a pasta, explicou o empresário. “Ele chegou a dizer que não havia obras para licitar e que naquele momento não seria possível licitar obras”, contou Guizardi. Porém o empresário foi procurado por Permínio,“Ele passou uma das demandas que ele tinha, ele tinha muitas obras emergências, as escolas receberiam 14 milhões ano e esse dinheiro era suficiente para manter as escolas. Ele precisava fazer um projeto para englobar as obras de todas as escolas, foi quando ele perguntou se eu tinha conhecimento. Eu falei que não, mas que eu iria ver o que tinha no mercado e levaria pra ele. Nessa mesma data foi colocado que os banheiros das escolas estavam muito deteriorados e ele pediu que eu fizesse um levantamento sobre isso”.
14h49 – “Ai nós falamos pra avisar quem trabalha lá dentro. Ai questionamos com quem nós iriamos tratar, ai o Alan entrou em contato com o Guilherme Malouf e ele disse que a pessoa que era pra sentar era o Wander. Ele ligaria para o Wander o Wander iria me receber. Chegamos no Wander era a mesma coisa: não existia projeto, não tinha nada pra fazer de novo e o que tinha já tinha licitado”.
15h16 – Deu uma semana eu voltei no Wander e falei: Olha nós temos que fazer as coisas derem certo porque nós investimos alto. Ai ele disse: Pois é mais é só vocês que não estão buscando certo. Ai eu questionei: mais como assim? Ai ele disse: Já está funcionando aqui dentro, já tem pessoas buscando os recursos que foram investidos ou se não investiram estão se beneficiando. Ai eu falei: mais como assim? Ai ele disse que o Permínio já estava falando pessoalmente com o Ricardo Augusto Sguarezi e o Leonardo Guimarães. Ele não soube me explicar o tipo de conversa, mas disse que era pra eu dar uma semana que ele iria ver como era. Depois eu voltei a procurar ele que me disse que um projeto da Arueira, do Ricardo tinha sido aprovado 100% no valor do contrato o percentual da propina, ou seja, o 5% da propina. Se o contrato era de um milhão, 5% daria 50 mil ele pagou antecipado e ainda não tinha pagado o um milhão ainda. Isso também teria acontecido com o Leonardo da Ager, inclusive foi dado cheque para pagamento de gráfica que era despesa de campanha”.
15h00 – "Eu falei pro Alan que o pessoal estava operando dentro da Seduc, ai ele falou: operando o que? Ai eu disse: estão recebendo propina de contratos. Foi ai que eu falei pra ele: Se você tiver interesse eu tenho como ampliar isso. Eu conheço as construtoras, eu vou conversar com elas, isso funciona assim em todo governo, infelizmente. No governo passado já operava, era o Ricardo que operava até dezembro de 2014, pelas informações que eu tinha obtido dentro da Seduc. Isso estava em um percentual de 3% e operando todo mundo. Ai eu disse que a gente poderia reduzir o grupo e operar com um percentual maior. Nesse momento o Alan virou pra mim e disse: Não, isso não me cheira bem. Não acho bom mexer com isso ai não. Vamos mexer com obra".
15h25 – Passado um tempo eu voltei no Alan e nos voltamos a falar sobre o assunto. Nessa data, ele me deu o ok para começar a atuar e perguntou como seria isso. Eu montei, eu montei o esquema, inclusive com os percentuais de cada colaborador e apresentei a ele. Uma vez apresentado, ele mostrou ao secretário que concordou também e os demais eu mesmo informei de quantos seria o percentual.
15h30 – Em outro momento o MP questiona como o empresário fazia para se comunicar com os servidores da Seduc. “Eu comprava celulares e chips quinzenalmente e dava para eles. Em reuniões que aconteciam no meu escritório eu passava os novos aparelhos e os velhos eram descartados. Cada aparelho vinha com o número de telefone e um codinome”. Os celulares eram entregues a Fábio e Wander, servidores da Seduc. Os codinomes utilizados eram cores, nomes de cidades e países. “Eu ligava e falava: Segura o contrato de fulano. Ai o contrato era bloqueado enquanto não era feito o pagamento. Feito o pagamento o contrato era liberado”.
15h36 – Sobre a divisão do dinheiro, o MP indaga como era entregue. "O dinheiro que vinha comigo eu esperava juntar um montante e ia entregar uns 25% para Perminio, ao qual recebeu umas duas ou três vezes no carro ou em casa de forma reservada. 25% eu entregava para o Alan, 25% pro Guilherme que eram feitos sempre aos sábados”. 10% da propina ficava para Guizardi.
15h45 – Sobre o projeto Escola Legal, o empresário disse que foi criado para atender as demandas de manutenção e reformas das escolas. "100% legal, eu fiz esse projeto para que não houvesse nenhum erro para não dar problema pra minha empresa. A única irregularidade seria que a minha empresa ia fazer esse trabalho".
15h56 – Guizardi conta do tempo que esteve no Setor de Operações Especiais (SOE) recebeu a visita de um segurança do Guilherme Maluf e se sentiu ameaçado. O Segurança seria o agente prisional Milton Flávio de Brito Arruda. Milton teria questionado o empresário sobre “Como havia sido lá?”, “Está tudo bem?”, “Você lembra de mim”?, “Sou segurança do Guilherme, se precisar de alguma coisa, resolvemos”.
16h15 – O MP questionou sobre a obra da MT-040 que Guizardi estaria tendo dificuldade em receber. O empresário explicou que estava com dificuldade em receber o dinheiro porque ela estava como Fonte do Turismo e que o dinheiro vinha do BNDES, mas que ao pedir para o Alan Malouf mudar a Fonte para Fonte Civil o problema teria acabado. “Depois que eu pedi pra ele mudar a fonte eu recebi o dinheiro. Ele liberou R$ 8 milhões em 2015 e o restante neste ano. O valor total a receber era de R$ 23 milhões e paguei ao Alan, R$ 150 mil para ele liberar”.
Em um momento, Guizardi revela que R$ 10 mil em propina foram depositados na conta de uma empresa que pertencia ao deputado federal Nilson Leitão. “Eu e o Permínio nos encontramos em uma churrascaria aqui em Cuiabá, e ele me entregou um papel com informações de uma conta bancária de uma pessoa jurídica que deveria receber o montante para quitar dívidas e gastos. Somente mais tarde, quando realizada a transição, eu descobri que a empresa pertencia ao Leitão. Quem fez os depósitos foi o Edézio, através de 4 cheques de R$ 2,5 mil”.
16h30 – A defesa de Permínio Pinto perguntou qual era a função de Alan Malouf na campanha de Taques e qual era a relação do dono do buffet com o governador. "Ele estava ligado à parte financeira da campanha. São amigos, o governador frequenta a casa do Alan". O advogado pergunta qual seria o interesse do empresário Alan Malouf em investir R$ 10 milhões na campanha do governador já que aparentemente o Buffet Leila Malouf não mantém contratos com o Estado. “Isso depende. Quantas pessoas comem diariamente hoje no governo do Estado. Qual a quantidade de alimentação fornecida em presídios. Tem que perguntar isso aí”.
16h34 – A defesa de Permínio Pinto questiona como funcionava o esquema de corrupção na gestão anterior. “Posso dizer que funcionava da mesma maneira. O próprio Ricardo Sguarezi admitiu em uma conversa que operava o esquema de propina na Secretaria de Educação na gestão anterior. Funcionava da mesma maneira. Digo isso com toda a certeza", disse.
16h37 – O empresário diz que pagou R$ 80 mil em espécie no apartamento do ex-secretário Permínio Pinto . “Foi um dinheiro que estava na minha mochila e levei até o apartamento dele. Quando não cabia o dinheiro ele recebia em envelopes menores”, disse.
16h40 – O advogado pergunta se existe alguém acima de Permínio Pinto, apontado como chefe da organização criminosa. “Acredito que o Permínio Pinto se reporte ao Nilson Leitão. Da mesma maneira que eu me reportava ao Alan Malouf. E da mesma maneira o Wander Luiz dos Reis se reportava ao Guilherme Maluf”, diz. O deputado federal Nilson Leitão foi o responsável em indicar Permínio Pinto na Secretaria de Educação no governo Pedro Taques.
16h50 – O empresário diz ter o conhecimento de que o secretário chefe da Casa Civil, Paulo Taques, auxiliava na administração das despesas de campanha, juntamente com o atual secretário de Gestão, Júlio Modesto. De acordo com Guizardi, a nomeação de cargos foi estratégica para quitar despesas de campanha eleitoral. “O Alan Malouf ficou responsável em lidar com construtora. Outro com frigorifico. Isso é o que eu sei.”, disse.
17h02 – Acaba a colaboração premiada de Guizardi.
17h11 – Começa o depoimento do empresário Luiz Fernando da Costa Rondon, dono da Luma Construtora que também firmou colaboração premiada. Luiz afirma que os fatos em que é acusado é verdadeiro. Narra como começou no esquema.
17h15 – Disse que ligou pra começar a tratar com o Giovani que retornou de outro telefone. Em uma reunião com o empresário foi informado através de um tablet os valores de 3% de propina, e ao perguntar se o Perminio sabia o Giovani respondeu com um gesto positivo com a mão.
17h20- De acordo com o empreiteiro, como tinha de pagar os 5% de propina, os empresários não estavam concordando com o valor cobrado. Mas mesmo assim acabaram aceitando. No entanto, depois ele conseguiu baixar para os 3%.
17h26- Sobre a participação do Fábio, Luiz diz que Fábio tem contato direto. Wander certa vez disse que iria segurar uns processos se não houvesse pagamentos dos empresários.
17h30 – O empresário diz que sempre teve acesso ao Perminio, após Guizardi tomar a frente ele ficou mais inacessível.
17h35 – "O que nós fazíamos não garantia o resultado de ganhar as licitações. Os empresários colocavam a conta em risco, já houve casos de outras empresas que não estava no esquema fazer um preço menor e ganhar o certame", narrou Luiz.
17h40 – Luiz termina a colaboração premiada e é liberado.