No início do ano a bancada de senadores do Amapá – que tem entre seus integrantes o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), – conseguiu finalmente emplacar uma emenda de R$ 20 milhões ao orçamento para pavimentação do trecho norte da BR-156. A liberação da verba foi motivo de festa no Estado, afinal, a estrada é uma das obras inacabadas mais antigas do Brasil, que já se arrasta por incríveis 87 anos.
Dias depois a euforia virou frustração. O senador Lucas Ribeiro (PSD-AP) foi conferir o plano de obras do Ministério da Infraestrutura e constatou que, apesar da liberação da verba, a BR-156 não estava nos planos do ministério. Ribeiro decidiu então procurar o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, para pedir ajuda.
Pouco tempo depois o amapaense recebeu uma ligação do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que informava a inclusão da BR-156 no plano de obras da pasta para 2019 e pedia desculpas pelo esquecimento. “O Flávio ajuda muito a criar um ambiente de diálogo aqui no Senado. Ele é sensível. Liga pra ministro, dá retorno”, disse Ribeiro.
Em outro encontro com Flávio, o ministro da Infraestrutura revelou que havia terminado um pacote de concessões de rodovias federais no Estado do Rio de Janeiro. Tarcísio queria anunciar ali, na mesma hora, ao lado de Flávio, mas o político do Rio achou melhor adiar o anúncio e fazê-lo ao lado dos outros senadores do Estado, Arolde de Oliveira (PSD) e Romário (Podemos).
Filho de um presidente da República que se elegeu com o discurso contrário ao que chama de “velha política” e que mantém como método a estratégia de não negociar com parlamentares, Flávio vem se transformando em um dos principais articuladores das pautas do governo no Senado.
Mantém um estilo comedido e diferente dos irmãos: é discreto nas redes sociais, aberto ao diálogo fora das hostes do bolsonarismo e não costuma replicar o discurso raivoso contra os adversários. “O Flávio tem um papel fundamental na articulação política e conversa muito bem com as bancadas de oposição. Ele tem um perfil moderado e tranquilo”, disse Major Olimpio (SP), líder do PSL no Senado.
Segundo senadores ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, inclusive da oposição, Flávio conversa bem com os opositores, encaminha aos ministros os pleitos de seus colegas de Casa, ajuda a criar entendimentos e acordos que fazem do Senado um ambiente muito menos hostil ao governo do que a Câmara.
Nomeações
Ao Estado, o filho “Zero Um” do presidente Jair Bolsonaro disse que também intermedeia nomeações para cargos federais nos Estados indicados por parlamentares. “A gente não conhece pessoas qualificadas para todas as funções nos órgãos federais nos Estados. Os parlamentares nos ajudam nisso”, disse o senador.
Indagado sobre sua relação com a oposição, o senador deixa clara sua postura. “Falo com a oposição também. O senador Otto Alencar (PSD-BA), por exemplo, não é da base, mas é muito importante. Jaques Wagner (PT-BA) é uma pessoa super experiente, equilibrada. Ele me surpreendeu muito, apesar de ser do PT”, disse o senador.
O discurso da antipolítica também não faz parte da rotina do senador do PSL. “Não podemos partir do pressuposto de que qualquer coisa que venha de políticos é ruim”, afirmou Flávio. “É a boa política o que eu faço”, disse o senador ao ser perguntado sobre uma possível incoerência entre seu estilo conciliador e o discurso contrário à velha política” do restante da família.
“Meu perfil sempre foi conciliador. Tenho uma preocupação grande de que o presidente (seu pai, Jair) tenha uma base sólida no Senado”, justificou.
O senador disse, ainda, que o caso Queiroz – revelado pelo Estado, que apontou movimentações “atípicas” de R$ 1,2 milhão, de janeiro de 2016 a janeiro de 2017, do seu ex-assessor, Fabrício Queiroz – não atrapalha no diálogo com os senadores. “Atrapalha só no sentido de tomar tempo”, disse Flávio.