Parecia que era o fim da vida política da família Campos que governou Mato Grosso por quase quatro décadas, ocupando sempre cargos de destaque no Executivo e Legislativo. Os irmãos Júlio e Jayme Campos mal ficaram quatro anos sem mandato e já conseguiram rearticular os grupos em torno de si e reaparecem entre os protagonistas das eleições 2018, com um Democratas desejado por todos em âmbito nacional e especialmente local. A dupla agora não esconde mais o objetivo do clã: eleger Jayme governador, vice ou senador e Júlio deputado estadual.
Cientes do atual bom momento, negociam abertamente tanto com o governador Pedro Taques (PSDB) uma cada vez mais improvável permanência no bloco de alianças rumo à reeleição do tucano. Os Campos também analisam apoio ao ex-prefeito de Cuiabá Mauro Mendes, até agora apontado, ao lado do próprio Jayme, como o nome mais forte para enfrentar “a máquina e sua base de apoios”, nas palavras do ex-deputado federal e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) aposentado Júlio Campos.
Eles não veem mais espaço para escamotear intenções e por isso falam abertamente sobre o quanto as obrigações com o arco do PSDB 2014 já foram cumpridas. Contam com o crescimento exponencial do DEM (falam em até 15 novos parlamentares federais, além de três locais – os estaduais Eduardo Botelho e Professor Adriano, sem descartar de vez Adilton Sachetti).
Retomariam, assim, e de forma muito ampliada, o controle de Mato Grosso depois de exatos 24 anos, em caso de Jayme confirmar mesmo a candidatura a governador, e numa situação inédita para ambos: com o irmão, Júlio, como deputado estadual e muito provavelmente liderando uma bancada governista de maioria.
Para viabilizar essa ideia, dois fatores são imprescindíveis. O primeiro e mais óbvio é o rompimento com o PSDB, o segundo é a confirmação da filiação de Mauro Mendes no partido, que pode, inclusive, mudar de nome para Centro Democratas. Pretensões grandiosas, mas não de todo inviáveis, lembra o cientista político João Edisom de Souza.
Na percepção do acadêmico, apesar das muitas águas que ainda passarão sob as pontes sequer construídas entre as agremiações políticas, os irmãos várzea-grandenses têm plenas condições de alcançar o intento. Só precisam convencer e combinar antes com os diversos nomes que podem pretender exatamente a mesma coisa que eles, mais notadamente nas vagas de governador e senador.
“Não houve construção de candidaturas, tanto que não temos oposição ao governo, temos contrários ao governo, descontentamentos, mas não oposição. Sem proposições, há um amplo cenário aberto, com isso, lógico que quem já foi (eleito), já deteve o poder, sai na frente, porque é mais fácil construir de um lastro pra cima do que iniciar de um ponto sem ligação partidária. A família Campos tem uma história, estão num mesmo partido há várias décadas”, lembra Edisom de Souza, e junto com essa experiência, têm ao lado deles vários prefeitos, uma base de eleitores e diretórios consistentes espalhados pelo estado.
Não é, portanto, megalomania de dois nascidos em uma família de políticos. “É possível sim que construam esse processo, mas por outro lado vão ter que negociar com muita gente. A saída do Blairo é outro complicador, porque agora todos que se lançaram ao Senado (Carlos Fávaro, Nilson Leitão, Adilton Sachetti) têm condições de se candidatar ao governo, além do próprio Pedro Taques. Ou seja, só no grupo deles há outros cinco, seis nomes”.
Dentre os citados, ninguém, no fim das contas, é realmente de outro grupo, são tudo, grosso modo, farinha do mesmo saco. Assim, para o cientista político a pergunta é: esse grupo vai mesmo rachar? “Essas coisas não estão definidas e nem serão tão cedo”, sintetiza João Edisom Souza.
Como prováveis companheiros e concorrentes de Júlio para deputado estadual estariam o presidente da Assembleia, Eduardo Botelho, o Professor Adriano (e isso se realmente confirmarem a filiação ao DEM).
A trajetória dos Campos
Além da semelhança física, do sobrenome, genes e sangue em comum, os dois Campos fizeram trajetórias semelhantes na política. Ambos foram prefeitos de Várzea Grande, governadores de Mato Grosso e depois senadores. Júlio acumula um cargo a mais: o de deputado federal e, com essa experiência, outra mais amarga: teve o mandato e os direitos políticos cassados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) em 2014 por suposta compra de votos e abuso de poder econômico, mas a decisão foi revertida pelo TSE no ano seguinte, 2015.
Caso consigam costurar as alianças, lançar suas candidaturas e enfim serem eleitos, seria o retorno do Estado uma vez mais ao controle do mais antigo clã mato-grossense ainda em atividade, depois da recente invasão de políticos advindos do sul do país, casos de Blairo Maggi e Silval Barbosa, ambos paranaenses.
Dança política só será definida em 5 de agosto
Na manhã de segunda-feira (5/3), durante entrevista coletiva pós-seminário de infraestrutura na Assembleia Legislativa, Jayme voltou a afirmar que seu apoio ou racha com o governo Pedro Taques ainda segue sem definição. Ele também afirma que é cedo demais para cerrar fileiras em torno de Taques. “Não sou filho de pai assustado, já fui governador. Estou de boa e preparado”, disse.
Reconheceu, entretanto, que não decide retirada ou não do DEM do ninho e que eventual candidatura só após consenso da sigla comandada por ele e o irmão, Júlio Campos.
Júlio, aliás, contou ao Circuito Mato Grosso que tudo o que falam agora, por mais bombástico que possa soar, não passa de elucubrações, pois nada em política se define antes de pelo menos mais dois prazos decisivos antes da eleição propriamente dita: a meia-noite do dia 6 de abril (data final para desincompatibilizações de cargos) e a janela para novas filiações e mudanças de partido, entre a próxima quarta-feira (7) e o dia 7 de abril.
“Tudo que se fala agora, as reuniões e conversas, são apenas preliminares, nada será concretizado antes desses prazos decisivos. Vai haver mudanças no cenário durante este mês inteiro e só no dia 7 encerra esse primeiro prazo. Só depois disso tudo é que poderemos ver quem tem peito de deixar o cargo para disputar a eleição em outubro”, falou o ex-governador, ex-senador e ex-deputado federal.
Depois dessas primeiras datas, há variáveis que permanecerão, continuou Júlio Campos, intangíveis até depois da Copa do Mundo, pois o período de convenções começa no dia 5 de julho e segue até 5 de agosto, são 30 dias em que os partidos escolhem seus candidatos para disputar mandatos.
“Nessa fase, pode haver muita composição, um partido pode sair de um lado e ir pra outro, lançar chapa própria. Qualquer composição antes de abril é conversa fiada. Blairo pode ter dito que não é candidato, mas na última hora pode muito bem resolver se lançar. Isso mudaria completamente o cenário, assim como Jayme diz que vai deixar o cargo de secretário, mas se não deixar também não pode ser candidato, por exemplo”, explicou Júlio.
Jayme reforçou as palavras do irmão ao dizer que é normal esse período de cortejo da bela noiva que acabou por se tornar o DEM, depois de um período como a menina feia do baile, que só se pegava às escondidas. “Estou conversando com todo mundo, com Carlos Fávaro [PSD], com Nilson Leitão (PSDB), com Wellington Fagundes (PR), Taques, Carlos Bezerra (MDB)”, afirma o ex-prefeito e hoje secretário de Assuntos Estratégicos de Várzea Grande.
Pesquisa aponta cenário de Jayme x Taques
Uma pesquisa do Instituto Ibope (encomendada pelo jornal Diário de Cuiabá) traçou um cenário um pouco desanimador para as intenções de Jayme Campos de disputar o governo sozinho com Pedro Taques. Segundo a pesquisa, o atual governador Pedro Taques (PSDB) ainda lidera a intenção de voto em confronto com prováveis adversários ao Palácio Paiaguás em 2018, mas teria menos prestígio do que o ex-governador Blairo Maggi (PP), hoje ministro da Agricultura. Porém, a pesquisa não analisou uma possível chapa Jayme e Mauro Mendes contra Pedro Taques, o que poderia dar uma grande vantagem do DEM contra o governo atual.
Mesmo não sendo o candidato mais forte de oposição a Taques, o ex-senador Jayme Campos ainda tem grandes chances, pois foi citado por 18% dos entrevistados na pesquisa estimulada, quando o nome de algum candidato é apontado para os entrevistados. Nesse caso, os brancos e nulos chegam a 32% e não souberam ou não quiseram responder 13%. A margem de erro é de 3% para mais ou para menos.
Num confronto com a presença do ex-prefeito de Cuiabá Mauro Mendes (sem partido), Taques continua a ter a preferência dos eleitores, com 23% de intenção de votos. Mendes aparece com 15%, o procurador Mauro 13% e Antonio Joaquim com 4%. Brancos e nulos 32%, e não responderam 12%.
Nos cenários de segundo turno, na primeira hipótese de disputa Taques e Mendes, o atual governador seria reeleito com 33% e o ex-prefeito ficaria 28% dos votos. Brancos e nulos 31% e não responderam 9%.
Em concorrência com o ex-senador Jayme Campos, Taques tem 30% de intenção de voto contra 27% do democrata. Brancos e nulos 35% e 9% não souberam responder.
A pesquisa Ibope ouviu 812 entrevistados em 30 cidades mato-grossenses entre os dias 2 e 8 de dezembro. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. Dos 812 entrevistados, 196 são da capital, 140 da região sudoeste, 154 norte e nordeste e 322 sudeste. A pesquisa foi realizada com eleitores que votaram nas últimas eleições (votantes) da área em estudo, com um modelo de amostragem de conglomerados em 3 estágios.